583 visitas - Fonte: Carta Maior
A presidenta Dilma Rousseff foi reeleita em uma campanha acirrada na qual o eleitorado conhecia exatamente os dois projetos em disputa. No segundo turno, milhares de militantes voluntários, à esquerda do centro político, convenceram eleitores indecisos a apoiar um projeto caracterizado pela redução das desigualdades, ampliação de direitos e defesa da soberania nacional.
O povo sabia em quem votava, mas o novo governo não percebeu que sua vitória legítima seria questionada, sem descanso, pelos políticos e interesses derrotados. E que a governabilidade só seria possível preservando a popularidade recuperada nos meses da campanha eleitoral. Popularidade alcançada não com o varejo dos favores políticos, mas pela disputa clara na definição dos projetos para o país, principalmente em tempos de escolhas difíceis.
O novo governo tampouco escutou seus apoiadores de primeira hora, que avisavam que 2015 não era 2003: sem os bons ventos da economia mundial, a austeridade fiscal e monetária produziria uma recessão profunda que reduziria a arrecadação tributária e aumentaria a carga da dívida pública. Pior, reverteria os ganhos na geração de empregos e na redução das desigualdades alcançados na década anterior.
O povo assistiu bestificado a um governo recém-eleito ceder, gradualmente, ao programa derrotado nas urnas: ao invés de defender com afinco, publicamente, as bandeiras do desenvolvimento, da luta pela igualdade e da ampliação dos direitos, aceitou passivo o avanço da pauta conservadora há pouco derrotada nas urnas. Ao invés de ativar a economia, reforçou o desânimo com cortes que levavam, pouco tempo depois, a novos cortes.
Cada recuo do novo governo, anunciado como uma concessão tática, motivava seus adversários a avançarem sempre mais, levando a novos recuos. É exagero afirmar que o golpe foi cogitado nos dias seguintes às eleições de 2014 para a contingência de que as circunstâncias permitissem sua ousadia?
Já não há vacilação: o golpe vem sendo executado com afinco nas últimas semanas. A popularização da tese do impeachment está para se consolidar. O realinhamento do sistema político em direção à tese da eliminação de direitos sociais e econômicos constitucionais está por um fio. A manipulação hipócrita da sede de justiça ameaça destruir as instituições e lideranças que melhor representam os sonhos de trabalhadores e deserdados da nação.
É hora de reagir com ousadia.
Certamente, reagir para lutar contra o golpe. Não de qualquer maneira, porém. Não da maneira seguida desde 27 de outubro de 2014. A única esperança na luta contra o golpe é defender as bandeiras, ideais e anseios populares que podem ser golpeados. É mostrar abertamente à população o que está em jogo.
É lutar para defender os interesses populares, fazendo escolhas difíceis e ousadas que já não podem ser adiadas. É adaptar a luta às novas condições. É repactuar o desenvolvimento, impedindo que a austeridade seja paga pelas camadas menos favorecidas. É cobrar a quem sempre ganhou, ao invés de esperar ser aceito por quem sempre ganhou. É negociar e fazer política tendo um lado.
É lutar junto ao povo, incorporando os aliados que desejam e se comprometem com a retomada do desenvolvimento e com a preservação da ordem constitucional em risco. É brigar, negociar e fazer política de cabeça erguida, em nome do povo. O Fórum 21 declara que a hora de ousar é agora.
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