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*Sylvia Debossan Moretzsoh, Observatório da Imprensa
Quem pensa que os jornais produzidos por uma mesma empresa falam sempre a mesma língua, diferindo apenas na linguagem adotada de acordo com o seu “público-alvo”, teve uma surpresa diante do abismo entre O Globo e o Extra na cobertura do assassinato do médico Jaime Gold, que pedalava pela Lagoa Rodrigo de Freitas, um dos cartões postais do Rio, no início da noite de terça-feira (19/5). Sobretudo porque, no mesmo dia, dois jovens – um adolescente de 13 e um rapaz de 24 – foram assassinados durante uma operação da Polícia Civil no morro do Dendê, na Ilha do Governador.
O médico morreria na madrugada seguinte, depois de horas na mesa de cirurgia.
Na quinta-feira (21/5), O Globo destacava na primeira página o “crime na Lagoa” e a “tragédia anunciada”, dedicando-lhe nada menos do que cinco páginas internas. A suíte das mortes no Dendê mereceram apenas duas colunas espremidas no meio de outra página interna, ainda assim assinadas – como na véspera – por um repórter do Extra.
No mesmo dia, o Extra fez bem diferente: expôs no alto da primeira página o “crime bárbaro na Lagoa”, mas destacou o apelo: “Só não se esqueçam de Gilson e Wanderson”, os dois rapazes mortos. Logo abaixo, justificou: “Como em qualquer lugar do mundo, crimes em pontos turísticos têm maior repercussão. Mas, no Dendê, mães choram mortes de seus filhos em ação da polícia e esperam que caso não caia no esquecimento”. A justificativa servia também para descartar, de maneira sucinta e didática, a eterna discussão sobre o valor da vida – e, consequentemente, da morte – conforme a região geográfica e o status social.
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