759 visitas - Fonte: Tijolaço
Cabe a Janio de Freitas, com a lucidez de sempre, colocar nas páginas de jornal o que era obvio, mas que a parcialidade dos comentaristas políticos não permitiu que, em geral, fosse visto assim.
A escolha de Michel Temer foi a primeira ação de articulação política digna deste nome do segundo governo Dilma Roussef. Ou, como se escreveu aqui anteontem, “Política, até que enfim, política no Governo Dilma…”
A crise de governabilidade tem um sobrenome, que vem ainda da campanha eleitoral: PMDB.
Já a crise de identidade política tem dois prenomes: Dilma e PT.
Era vital que Temer fosse posto a trabalhar para tornar aceitável o “convívio em casa” da base governista.
Agora, Dilma e o PT têm de fazer o possível para evitar que as crises diárias – com a amplificação da mídia de que todos são testemunha – os impeça de reexaminarem seus próprios comportamentos.
À Presidente, percebendo que – com reacionários, coxinhas, elites e tudo o mais que sabemos – ela colheu o desgaste do silêncio e da incompreensão que ele amplificou sobre as medidas tomadas desde que ela venceu o segundo turno das eleições, cabe lembrar que a população só entenderá sacrifícios se tiver garantias do essencial e de que o preço da crise não pode ser pago pelo povão.
Ao PT, reconhecendo que vive uma crise de qualidade em seus quadros – essa do Pepe Vargas de dar entrevistas se nomeando Secretário de Direitos Humanos foi demais da conta! – e que não pode mais se considerar, como se considerou até hoje, “o caminho, a verdade e a vida”. Não apenas o Governo Dilma, mas o próprio PT e suas posições corretas (mantidas apesar dos erros primários) são mais intensa e lucidamente defendidas por quem está fora do que por quem está dentro dele.
A blogosfera, aliás, é um bom exemplo disso.
Andares da crise
Janio de Freitas, na Folha
Recebidos, até para não fugir à regra da Presidência, como operações desastradas, o convite recusado pelo ministro Eliseu Padilha e o convite aceito pelo vice Michel Temer, para a coordenação política do governo, compõem a primeira operação promissora da ininteligível Dilma Rousseff do segundo mandato.
O período de Eliseu Padilha como ministro de Fernando Henrique mostrou, além de inteligência do companheiro de Nelson Jobim na advocacia, um político sagaz e hábil. Foi o que agora a sua recusa ao convite confirmou. E mais ainda o seu passo seguinte: a ele é atribuída a sugestão de Michel Temer como o dotado das condições políticas e pessoais para obter de Eduardo Cunha e Renan Calheiros um refreamento dos seus ímpetos atuais, e enfim ouvir e talvez negociar.
Temer é calmo, mantém certa distância respeitosa e elegante, conhece o território e detém um posto-chave para as circunstâncias. Não o de vice-presidente da República, que hoje Eduardo e Renan supõem olhar de cima. O de presidente do PMDB, e portanto deles, visto e ouvido no partido com atenção e seriedade.
Como coordenador político ligado às duas principais partes a serem coordenadas, Michel Temer será um fator de constrangimento para as atitudes provocativas que têm suas impróprias fontes nas presidências da Câmara e do Senado. Com isso, “a crise” transfere-se, sob o correto nome de “problema”, da Presidência da República para o PMDB. Eduardo Cunha e Renan Calheiros perdem a liberdade de afrontar o governo e seus representantes, porque ao fazê-lo estarão afrontando o respeitado presidente do seu partido. O que, com muita probabilidade, levaria o próprio PMDB a uma crise muito prejudicial ao partido que sonha com iniciar nova inserção nas eleições, em linha própria.
Eduardo Cunha e Renan Calheiros não precisam mudar as respectivas estratégias, se as têm, mas, se não quiserem a crise em casa, lhes conviria mudar a linguagem e os modos excessivos de suas táticas. O que pode até, quem sabe, beneficiá-los, já que os seus desgastes emitem sinais claros. E para o governo será o bastante a justificar o convite ao vice Michel Temer.
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