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A Justiça demorou 17 anos para agir contra o 'trensalão' - cartel que envolveu grandes empresas em contratos no setor metroferroviário paulista, durante governos do PSDB. A demora é criticada por Ricardo Kotscho, em seu blog. Ele também ressalta que a mídia não deu o destaque necessário para a notícia, veiculada ontem, de que a Justiça de São Paulo bloqueou bens da Alstom, envolvido no escândalo, e do conselheiro do TCE Robson Marinho. Ele diz que o caso tem o mesmo "modus operandi" do chamado 'petrolão'. Leia abaixo:
Após 17 anos, a Justiça age contra "Trensalão"
Nenhum dos nossos jornalões deu esta notícia em manchete, mas merecia. O caso é de 1998, quando o governador era Mário Covas, do PSDB. Só agora, a Justiça resolveu agir para recuperar os prejuízos milionários causados aos cofres públicos de São Paulo pelo cartel formado por empresas multinacionais e agentes públicos, popularmente conhecido como "Trensalão".
Nesta segunda-feira, finalmente, a juíza Maria Gabriella Pavlópoulos Spaolonzi, da 13ª Vara da Fazenda Pública da Capital, decretou o bloqueio de bens, no valor de R$ 282 milhões, de Robson Marinho, ex-chefe de gabinete de Covas e atual conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, e da multinacional francesa Alstom, entre outros.
Apesar de ser em tudo semelhante ao "modus operandi" do esquema do "Petrolão" petista, que começou a ser investigado no ano passado, e já levou muita gente para a cadeia, o "Trensalão" tucano não mereceu a mesma atenção e presteza da Justiça e da mídia, mostrando o caráter seletivo dado aos casos de corrupção que assolam nosso país, faz muito tempo.
Na Folha, o decreto da juíza não mereceu nem chamada de capa e apareceu escondidinha num canto da página A10, quase pedindo desculpas, sob o título "Justiça bloqueia bens de Robson Marinho, do TCE". Quem não conhece o passado de Marinho nem o que quer dizer TCE, nem nunca ouviu falar em "Trensalão", passa batido.
No concorrente Estadão, a notícia mereceu chamada e mais destaque numa página interna, dando maiores detalhes da história, mas sem em nenhum momento falar em escândalo, nem citar a palavra pela qual o caso ficou conhecido.
Só relembrando: fundador do PSDB e homem de confiança de Mário Covas, Marinho foi seu chefe da Casa Civil entre 1995 e 1997, sendo indicado para o Tribunal de Contas em 1998, quando esta história começou, 17 anos atrás. Segundo o Estadão, "o conselheiro está sob suspeita de ter recebido na Suíça US$ 2,7 milhões em propinas da Alstom, entre os anos 1998 e 2005 (US$ 3,059 milhões em valores atualizados)".
Os promotores de Justiça Silvio Antonio Marques, José Carlos Blat e Marcelo Daneluzzi acusam Robson Marinho de enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro e de ter participado de um "esquema de ladroagem do dinheiro público". Na ação de improbidade, eles pediram o bloqueio total de R$ 1,129 bilhão, valor referente aos danos causados pelos acusados ao erário e à multa processual. Todos os réus juntos devem, por responsabilidade solidária, pagar este valor.
"Há provas robustas sobre o esquema de corrupção que envolveu o conselheiro do Tribunal de Contas e grandes empresas", justificou o promotor Blat. Em sua defesa, Marinho negou tudo: "Nunca recebi um tostão da Alstom, nem na Suíça, nem no Brasil".
Como cabe recurso contra a liminar, não se sabe quando esta história vai chegar ao fim. Ninguém ainda foi preso, mas agora, pelo menos, e já não era sem tempo, o "Trensalão" tucano está saindo da clandestinidade, antes que tudo prescreva e seja esquecido.
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