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Os ataques contra a Petrobrás se dão em inúmeras frentes.
1) Há um ataque especulativo, com forte viés político, cuja dinâmica se tornou explícita durante a campanha eleitoral.
Sempre que as intenções de voto em Dilma caíam, as ações da estatal subiam, o que sinalizava claramente o desejo de um grupo de acionistas que a Petrobrás adotasse uma política mais voltada para o lucro rápido e fácil, e menos para o longo prazo.
Aliás, esta é a razão pela qual a venda de ações da estatal na bolsa de NY, comandada por FHC, foi tão lesiva à nossa soberania.
As razões estratégicas que movem os investimentos da Petrobrás raramente se confundem com a de seus acionistas na bolsa de NY.
Esses ataques são perigosos e contundentes, mas o seu poder de fogo não é ilimitado. Os especuladores atacam vendendo papeis e, com isso, reduzem a sua participação na estatal.
Uma resposta óbvia do governo seria recomprá-los, usando as reservas internacionais, criando um fato político e financeiro importante.
As reservas brasileiras em dólar encontram-se em momento de forte valorização, em virtude da situação cambial.
Uma iniciativa deste porte encontraria, naturalmente, dificuldades políticas, visto que o governo ainda não se decidiu a criar um sistema mínimo de comunicação.
A comunicação pública do governo Dilma permanece terceirizada, por incrível que pareça, à grande mídia, a mesma que lhe faz oposição.
A única informação vinda do Planalto, nos últimos dias, chegou através do blog de Gerson Camarotti, da Globo, que citou fontes anônimas próximas a Dilma.
As tais “fontes do Planalto” da Globo, estranhamente, sempre cantam em harmonia com a música tocada pela mídia.
É como se o pentágono, após invadir o afeganistão e assumir o controle do país, entregasse a comunicação oficial aos talibãs.
Tranquilizem-se, porém.
Daqui a pouco, Mercadante dará outra entrevista exclusiva à Miriam Leitão, na tv fechada, assistida por 205 telespectadores, na qual explicará as diretrizes do governo.
2) Há um ataque propriamente político à Petrobrás.
Na capa do site da Globo, vemos a chamada: “As sete pragas do Egito se abatem sobre a Petrobrás”. Clico no link, interessado no título e em informações novas sobre as desgraças da estatal.
É um post mixuruca, curtinho, de 270 palavras, de Luiz Felipe Lampreia, ex-ministro das Relações Exteriores no governo FHC, feito apenas xingar, oportunisticamente, a Lei do Petróleo, aprovada pelo Congresso em 2010. Esta é a lei que definiu parâmetros minimamente nacionalistas para a exploração do pré-sal.
O Globo quer usar o ataque especulativo, até porque este ataque tem este objetivo, para forçar o governo a rever a lei e abrir a exploração de petróleo ao capital estrangeiro.
Ora, a lei brasileira é moderna e permite a entrada de outros países, tanto que várias áreas do pré-sal, incluindo uma das maiores, o campo de Libra, já estão sendo exploradas por empresas chinesas e europeias. Só que a Petrobrás tem sempre o mínimo de 30%.
Não adianta. Eles querem tudo. Querem 100% do nosso petróleo.
3) O ataque midiático à Petrobrás vem de longe. Como estatal federal, a Petrobrás sempre representou, para a direita brasileira, tudo o que ela mais odeia.
Atualmente, o ataque se dá confundindo a sociedade. A queda no preço do petróleo é um fenômeno global e puxa para baixo as cotações de todas as petrolíferas, não apenas da Petrobrás.
Entretanto, não houve nenhuma mudança brusca nos fundamentos. Ainda não há nenhum substituto comercialmente viável para o petróleo como uma das matérias-primas mais importantes do mundo, e a população mundial continua crescendo, ou seja, demandando cada vez mais combustível e derivados.
Vargas, o idealizador da Petrobrás, escreveu em sua carta-testamento, antes de se suicidar com um tiro no peito:
“(…) a campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre.”
Este ataque é um dos mais perigosos, até porque ele se expande lá fora. Como o Brasil não possui uma mídia pública, nacionalista, como possui Alemanha, Inglaterra, Rússia, China, Noruega, além de todos os países árabes, o mundo se informa sobre o Brasil através da mídia de oposição.
Nas seções de imprensa das bibliotecas europeias, quando se quer saber sobre o Brasil, não há muita coisa além de Veja e Globo.
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Todas as baterias se concentram agora na presidenta da Petrobrás, Graça Foster.
Embora sua probidade e competência técnica não sejam postas em dúvida nem mesmo por seus inimigos, Foster tem um defeito gigante: jamais construiu, na Petrobrás, uma estratégia inovadora de comunicação. Em se tratando de uma empresa pública, que é alvo de ataques políticos diuturnamente, é um erro fatal.
E agora, com os escândalos de corrupção, este erro se torna mais evidente, e por várias razões: um delas, e talvez a mais profunda, é que uma comunicação mais transparente poderia ajudar Graça em sua guerra contra os desvios internos. Se os brasileiros pudessem acompanhar mais de perto os contratos, as obras, as licitações, haveria mais dificuldade para a ocorrência de irregularidades.
A segunda razão, igualmente grave, é uma lição básica de relações públicas: toda empresa tem de investir em crédito de imagem, o que equivale a uma poupança, para poder usá-la em momentos de crise. Todas as grandes empresas são atingidas por crises, periodicamente. Uma comunicação bem feita é meio caminho andado para superá-las.
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E agora a Petrobrás se encontra sitiada, à espera de um milagre, de algum gesto político que represente uma resposta satisfatória ao “mercado”. A mídia defende apenas aquelas respostas que lhe interessam, que possa converter em derrota política para Dilma.
A presidenta insiste na estratégia de esperar a corda se esticar ao máximo, quase arrebentando, antes de dar uma resposta.
Foi assim em junho de 2013, foi assim na campanha, e é assim agora, na crise iniciada pela operação Lava Jato.
Sem reagir, o Palácio dá munição para seus críticos, e se enfraquece politicamente.
Às vezes eu acho que muita gente no Palácio não sabe mais o que é política.
Vamos lembrá-los.
Política não é um bicho de sete cabeças.
É vir à público e falar. Pronto. Isso já é política.
A presidente da república deveria falar todos os dias à nação. Ou então toda semana. E criar a figura de um porta-voz para dar a posição diária do governo.
Sem política, o que vemos? O governo sendo devastado por dentro. Os próprios servidores federais, da Petrobrás, da Polícia Federal, dos ministérios, da EBC, estão se voltando contra o governo e fazendo campanha para a oposição.
No caso de alguns agentes da PF, não apenas fazendo campanha: trabalhando para derrubar o governo.
A falta de política, a ausência de uma estratégia de comunicação, está corroendo rapidamente o governo por dentro.
A desculpa da governabilidade não cola, porque é evidente que a ausência de política encarece absurdamente o apoio parlamentar.
O preço político, para um parlamentar, em apoiar um governo que perde, diariamente, a guerra da comunicação, é obviamente muito mais caro.
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Qual a solução?
Não é tão complicado. Nomear logo um novo ministério, sobretudo os ministros políticos. Criar uma estrutura mais criativa de comunicação, usando intensamente a internet e as redes sociais. Aumentar ainda mais a transparência do governo.
Na verdade, o governo, mais uma vez, perdeu o timing da política.
A renovação do ministério deveria vir alguns dias, ou semanas, após as eleições, para surfar na onda do sentimento popular de vitória.
Não precisava ser um ministério inteiro, mas ao menos a sua parte política, tanto aquela voltada à política parlamentar quanto a voltada à política na opinião pública.
Somado a isso, esperava-se também mudanças na estratégia de comunicação.
Claro que ainda há tempo.
Sempre há tempo de fazer o que é justo e necessário.
O governo tem de entender que quando apanha da mídia, não é só ele que apanha.
A última pesquisa Datafolha mostrou que o eleitorado de Dilma continua confiante em seu governo.
Mas se o governo não emitir sinais de vida, até quando vai durar esse otimismo?
A estratégia da nossa mídia tem sido bastante explícita: não deixar o povo sonhar. Não deixar o povo feliz.
Sonhar com um país melhor, acreditar no futuro, sorrir, ser otimista, se tornou quase um ato subversivo.
Um cidadão “bem informado”, na acepção do ex-presidente FHC, é o cidadão que lê Globo e Veja e não acredita no futuro do país.
Isso não é bom, naturalmente, para a economia, na medida em que este sentimento envenena o espírito empreendedor do brasileiro.
Keynes, em sua obra-prima, Teoria Geral do Emprego, do Juro e do Dinheiro, aborda a questão política como fundamental para manter o nível de investimento num país. Trecho:
“(…) Significa isto, infelizmente, que não só as crises e as depressões têm a sua intensidade agravada, como também que a prosperidade econômica depende excessivamente de um ambiente político e social que agrade ao tipo médio do homem de negócios.
Quando o receio de um governo trabalhista ou de um New Deal deprime a empresa, esta situação não é forçosamente consequência de previsões racionais ou de manobras com finalidades políticas; é simples resultado de uma perturbação no delicado equilíbrio do otimismo espontâneo. Quando calculamos as perspectivas que se oferecem ao investimento devemos levar em conta os nervos e a histeria, além das digestões e reações ao estado do tempo das pessoas de quem ele principalmente depende. ”
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O raciocínio de Keynes nos oferece uma resposta e nos indica um risco.
A resposta: a atmosfera política, um fator essencial para a economia, precisa ser cultivada pelo governo, e não é pelo silêncio. Não estamos dizendo para Dilma brigar, ou iniciar uma guerra sem quartel contra a mídia. Ao contrário, a presidenta tem de ser mais participativa, ou então criar uma estrutura para isso. A mídia precisa de notícia diariamente, de preferência escandalosa, para vender mais, ou para ampliar seu poder de barganha junto ao poder. Quanto maior a crise financeira da mídia, ou quanto maior a sua cobiça por poder, mais escandalosa ela se tonará. É bem impressionante, por exemplo, a pequenez da agenda política da mídia.
São apenas dois ou três assuntos. O exemplo mais caricato é a obsessão, por exemplo, por José Dirceu. Se o ex-ministro decidir andar bicicleta nos arredores da esplanada, receberá meia página nos jornalões, entrando na pauta das centenas, quiçá milhares de tentáculos que a mídia possui no país, entre jornais menores, repetidoras de TV nos estados, e sites. O governo tem de criar a sua mídia própria; criar políticas públicas para ampliar a pluralidade dos meios; e produzir fatos políticos diariamente.
O risco: trata-se de uma faca de dois gumes. Quanto mais social e politicamente avançado o governo quiser ser, maiores serão os ataques do conservadorismo. O governo sente isso e recua. Entretanto, ao fazê-lo, perde prestígio junto à sua própria base, aumenta a força de seus adversários, e lhes dá gana de querer mais. Esse equilíbrio entre os contrários, contudo, é a própria essência da política. É uma arte, naturalmente. E para isso é preciso investir nos artistas, nos técnicos da política. Muito se fala em ministro técnico, em gestão técnica, etc, mas se esquece que a política também requer técnica. Ou seja, Dilma precisa se cercar de ministros “técnicos” em política. E criar uma estrutura de comunicação tocada por “técnicos” em política e comunicação.
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