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Um mês atrás, entre o primeiro e o segundo turno da eleição presidencial, o jornal Estado de S. Paulo publicou uma acusação bombástica. A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), ex-ministra da Casa Civil, recebera R$ 1 milhão do esquema comandado por Paulo Roberto Costa.
Provas? Não havia nenhuma. Apenas a palavra do delator, convertida em verdade absoluta pelo jornal da família Mesquita, que reproduzia um trecho de seu depoimento. Nele, Costa dizia ter sido procurado pelo ministro Paulo Bernardo e afirmava acreditar que o pagamento havia sido feito num shopping em Curitiba. O ex-diretor da Petrobras não indicava sequer de onde teriam saído os recursos.
À época, a senadora Gleisi reagiu com indignação. "Uma acusação dessas, sem provas, em mais um vazamento seletivo, evidencia uma armação", disse ela, em entrevista exclusiva ao 247 (leia aqui). "Querem criar um fato político, envolvendo uma pessoa próxima à presidenta".
Na mesma entrevista, Gleisi afirmou que sua campanha arrecadou R$ 8 milhões e que todas as doações, legais, foram registradas junto ao Tribunal Superior Eleitoral.
Neste domingo, um mês depois daquela acusação, o Estado de S. Paulo voltou à carga com uma denúncia praticamente idêntica. Desta vez, contra o senador Humberto Costa (PT-PE), líder do Partido dos Trabalhadores no Senado. De novo, R$ 1 milhão, segundo trecho da delação premiada de Paulo Roberto Costa. E, mais uma vez, sem nenhuma prova – a não ser a palavra do delator. E, assim como Gleisi, Costa reagiu com indignação e abriu todos os seus sigilos .
Não custa lembrar que Costa só foi beneficiado com um regime de prisão mais leve – hoje ele usa tornezeleira eletrônica – porque devolveu os recursos que desviou (uma propina de US$ 23 milhões paga pela Odebrecht) e porque se compromeu a colaborar com a Justiça.
No entanto, na delação premiada, não basta acusar. É preciso também apresentar provas do que se diz. Caso contrário, a própria pena do delator pode ser agravada.
Ocorre que tanto no caso de Gleisi Hoffmann como no de Humberto Costa, o jornal Estado de S. Paulo, que se posiciona a favor até do impeachment da presidente Dilma Rousseff, tomou a palavra do delator como verdade absoluta. E não cobrou das autoridades que vazaram os depoimentos do delator nenhuma prova do que foi dito.
Hoje, há apenas a palavra de um criminoso confesso contra a de dois senadores. Se, ao final da história, nada ficar provado, Paulo Roberto Costa terá sua pena agravada, mas dois parlamentares já terão tido a honra atirada na lama.
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