O passado é uma roupa que já não serve mais

Portal Plantão Brasil
10/11/2014 11:15

O passado é uma roupa que já não serve mais

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768 visitas - Fonte: Tijolaço

No final dos anos 70, a voz inesquecível de Elis Regina cantava os versos de Belchior: “o passado é uma roupa que não nos serve mais”.

Os “saudosistas” de um passado que nem viveram – se o tivessem vivido, saudades é que não teriam – só não entendem isso porque o fanatismo não quer entender nada, mas impor tudo.

Nem é preciso discutir as razões, apenas o tempo.

Hoje, Fernando Molica escreve, em O Dia, um belo artigo para nos lembrar disso.

Ele tem razão, o Brasil chegou ao “tamanho M” – e apenas “M”, perto do que pode ser e, inexoravelmente será.

Como aconteceu com Elizabeth Eckford, leva tempo.

Mas o tempo passa adiante, não para trás.

Por mais que o queiram empurrar para lá.

Embora sempre seja preciso fazer o que fez Elizabeth: caminhar, serena e corajosamente mente, sem medo dos gritos, dos urros do que já se foi, mas teima em querer voltar.



O Brasil que chegou ao tamanho M



Fernando Molica, em O Dia

Em 1957, o fotógrafo Will Counts traduziu a história em imagem ao flagrar a ira de um grupo de brancos que tentava impedir que a jovem negra Elizabeth Eckford, de 15 anos, começasse a frequentar a melhor escola de Little Rock, no Arkansas. Ela era um dos nove estudantes negros escolhidos para cumprir decisão judicial que impedia a discriminação. Semana passada, a Universidade Federal do Espírito Santo afastou o professor Manoel Luiz Malaguti, que, em sala de aula, fizera declarações racistas.

Casos de intolerância são muito frequentes. Volta e meia, um determinado grupo reage à chegada de pessoas que consideram diferentes, temem que forasteiros quebrem um suposto equilíbrio social. É como se, de uma hora para outra, valores cultivados ao longo de gerações estivessem ameaçados pela vinda daqueles que não são vistos como semelhantes. Há também o medo de perda de privilégios, de dinheiro, de empregos — na prática, nem todos são iguais, como ressalta aquele velho ditado sobre priorizar o próprio pirão diante da escassez de farinha.

Acostumados com prestígio e fartura, muitos reagem à mudança de forma violenta. Favorecidos pela exclusão, estão tão acostumados com a injustiça que a consideram normal, natural. Dá pra imaginar o impacto que representou, para os brancos da África do Sul, o fim do mais que vergonhoso regime do apartheid. Negros que sequer podiam usar o mesmo bebedouro que eles teriam o direito até de chegar — como chegaram — à Presidência da República.

O Brasil vive uma situação que, embora bem menos radical, tem semelhanças com sociedades que vivenciaram rupturas. É como se o país digno e confortável tivesse sido planejado para ser do tamanho P, capaz de abrigar apenas uma pequena parcela dos que vivem por aqui. A estabilidade da moeda, o aumento do emprego, a maior facilidade de acesso à universidade e a criação de programas de inserção social geraram um alargamento do modelo, passamos para o tamanho M. Muita gente passou a ter uma vida melhor — “gente diferenciada”, na expressão daqueles paulistanos ricos que não queriam uma estação de metrô no bairro que dizem ser seu. A eleição serviu para destampar o ódio dos que veem o país como um condomínio fechado, que não admitem a proximidade com aqueles que consideram inferiores. Que se conformem, não tem mais volta, as pessoas se cansaram de ir à grande festa brasileira apenas para servir bebidas e limpar banheiros — é hora de todo mundo ficar bem na foto.



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