Carta aos anti-petistas:

Portal Plantão Brasil
7/11/2014 10:08

Carta aos anti-petistas:

Vale a pena conferir.

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2733 visitas - Fonte: Tribuna Piracicaba

Você não está sendo teórico da conspiração, não. Mas está sendo muito reducionista. E, discordar de você não me faz petista, petralha ou golpista. Acusa-se o PT de ser esquerda gramsciana. De onde você tirou esta informação? Falo porque não li Gramsci e, por isso, simplesmente, não sustento essa tese. Sei que o Olavo de Carvalho (doente paranóide) usa o conceito como xingamento, vincula a suposta ditadura gaysista (ele tem medo ou, inconscientemente, torce para que o revelem gay?).

Muito argumento raivoso, transformando conceitos complexos em ofensa de padaria: isso não elucida as coisas. Gramsciano ou não, quais os limites da intervenção estatal numa economia, numa sociedade, numa cultura sob determinado contexto geopolítico local e global? Os xingamentos não respondem essa questão

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Posturas de esquerda são a base para estatutos e/ou fazem parte da história dos principais partidos brasileiros: o PMDB veio do MDB (esquerda à época da abertura), o PSDB tem no nome o conceito “social democracia”, que implica numa esquerda democrática (não se esqueça que o tão celebrado FHC é doutor em sociologia, é marxista e foi orientado pelo Prof. Dr. Florestan Fernandes, um dos principais intelectuais da esquerda brasileira – infelizmente já falecido).

A simplificação ocorre quando se associa diretamente esquerda a um socialismo e este aos regimes totalitários à época da Segunda Grande Guerra, utilizando esse raciocínio torto para acusar o PT de ser ditatorial quando periódicos como a revista Veja continuam publicando informações infundadas sobre o governo do PT; quando o ex-músico Lobão continua articulando movimentos pró-impeachment (dá mais dinheiro ser polemista que músico) e enquanto muitos se reúnem nas ruas para cantar apoio à intervenção militar (postura que ataca deliberadamente a democracia e o estado de direito).

Não se trata de defender este ou aquele partido, mas de termos claro que esquerda e direita são modelos de gestão do estado e que, em sua forma “pura”, só causam desastres: a dificuldade é diagnosticar quanto de cada ingrediente vai na receita. Qual o limite do livre mercado? Sem limites, estoura a livre iniciativa e as saudáveis pequenas empresas. Qual o limite da força do Estado? Sem esse poder, ficamos à mercê do grande capital especulativo e/ou das megacorporações transnacionais – e daí o “bem-estar social”, adeus –, com o poder excessivo do Estado, ele torna-se insustentável e controlador.

O exagero da direita é o nazismo, o exagero da esquerda é o stalinismo e nós, os lúcidos, não queremos a violência nem de um lado nem de outro. Era esse nível de preocupação e de debate que gostaria de ver no Facebook ou, mais ainda, nos textos dos liberais, como nos do economista Rodrigo Constantino.

Acho que o liberalismo é algo fundante da modernidade política e não podemos simplesmente passar por cima disso. Em texto recente, Constantino discutia sobre a impossibilidade das novas gerações levar os filhos à Disneylândia, diante da fantasmagórica gestão do PT. Sinceramente, se o liberalismo no Brasil se assenta sobre o “Código Disney” é porque a piada virou sintoma e o liberalismo virou cover de literatura pop. Algo que me irrita é oposição tecendo argumento pateta e patetas transformando piada em argumento. Lobão é rei das frases de efeito: quando a piada se voltou contra ele (“se o PT ganhar vou embora”) perdeu o rebolado e encontrou seu rei solitário e nu no meio do tabuleiro.

Queria tanto uma direita liberal interessante. Venha você também, anti-petista, para a lucidez, é a mais interessante das utopias!

Essas questões sobre os efetivos limites entre políticas de esquerda e de direita não são simples e ainda que leiamos Antonio Gramsci (não pretendo fazê-lo nos próximos 10 anos, confesso), penso que isso pouco dirá sobre as gestões públicas do nosso país. Esquerda e direita são estratégias de abordagem e gestão do bem público. Dificilmente escaparemos de alguma medida que tenda para um lado ou para o outro. Ainda que de modo débil, a mescla esquerda e direita está na fundação e na prática de grande parte dos partidos e das políticas públicas nacionais.

Quando vimos no debate da TV a briga pela paternidade do Bolsa Família entre Aécio e Dilma, estávamos assistindo a dois partidos lutando pelo direito de se afirmarem como “sociais democratas”, entenda, neste quesito, como partidos “de esquerda”. É preciso passarmos para esse nível de debate para que o país cresça: enquanto ficarmos nesta de guerra santa ou síndrome de torcidas “fla-flu”, a cidadania escorre pelo ralo das simplificações. E penso, insisto, essas simplificações servem para alguém, para algum grupo que deve estar preocupado com a economia, com o mercado, mas nunca com o “bem-estar social”.



Fábio Casemiro (doutorando em Teoria e História Literária no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp).



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