964 visitas - Fonte: Rede Brasil Atual
A presidenta Dilma Rousseff (PT) e o senador Aécio Neves (PSDB) protagonizaram um enfrentamento duro na noite desta terça-feira (14), no primeiro debate televisivo do segundo turno das eleições presidenciais, realizado pela TV Bandeirantes. Mais agressivo, o tucano utilizou cinco das seis perguntas a que teve direito, com tema livre, para criticar o governo petista: abriu acusando a campanha adversária de promover ataques "cruéis", e na sequência criticou o desempenho da economia, repercutiu denúncia de uma revista semanal sobre a Petrobras, acusou a campanha petista de mentir sobre sua posição em relação ao Bolsa-Família e lamentou a "baixíssima qualidade" dos serviços públicos proporcionados pelo PT.
Dilma, por sua vez, buscou embutir em suas perguntas comparações entre os governos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB, 1995-2002) e os governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT, 2003-2010) e dela própria para criticar o modo de governar adversário. Ela pareceu elevar o tom seguindo as investidas do adversário: em três das seis oportunidades de questionamento direto a Aécio abriu combate aberto ao tucano, acusando seu partido de retirar R$ 260 bilhões da saúde com o fim da CPMF, relembrando o caso do aeroporto construído com dinheiro público em terras de parentes de Aécio em Minas Gerais e destacando o baixo índice de conclusão de inquéritos pela polícia mineira. Em uma de suas respostas, Dilma acusou ainda o tucano de nepotismo, por ter abrigado no governo de Minas Gerais "uma irmã, dois tios e um primo".
O momento mais tenso, no entanto, ocorreu em uma pergunta aparentemente inofensiva: no início do terceiro bloco do debate, após um segundo bloco especialmente agressivo em que o tucano acusou a candidata de "leviana", Dilma fez uma pergunta a Aécio sobre o combate à violência contra a mulher.
Aécio, que manteve ao longo do debate postura irônica em relação a Dilma, reagindo às manifestações da presidenta com risos por diversas oportunidades, mudou. Sério, buscou com os olhos a apoiadores na plateia e respondeu de forma hesitante: sobre a possibilidade de que o corte de ministérios defendido pelo PSDB pudesse vitimizar a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, criada no governo Lula, Aécio concedeu que pode mesmo tentar aplicar políticas para a área sem centralizar sua formulação e aplicação, deixando em aberto a sobrevivência da SPM, que tem status de ministério. "Temos de avançar no apoio aos estados e municípios, que não têm tido apoio necessário, seja no disque-denúncia, nas delegacias próprias", afirmou.
Para a campanha tucana, no entanto, é mais preocupante o paralelo entre a questão encaixada por Dilma exatamente após um bloco de troca de hostilidades com o tucano e a denúncia do jornalista e blogueiro Juca Kfouri, publicada em setembro de 2009, de que o então governador de Minas Gerais teria agredido com um tapa e um empurrão contra a mulher que o acompanhava em um evento da empresa de moda Calvin Klein no hotel Fasano, no Rio de Janeiro, diante de diversas testemunhas. A postagem de Kfouri ressalta que a assessoria de Aécio nega a história, mas o jornalista mantém a denúncia, intitulada Covardia de Aécio Neves, inalterada em sua página. O tema antecedeu a única questão sem ataques feita pelo tucano, sobre investimentos em educação.
Desde quando governador e mais intensamente desde o início da campanha, Aécio tem sido obstinado em controlar a repercussão de notícias negativas sobre sua campanha e sua vida pessoal nas redes sociais e nos mecanismos de busca. Embora tenha conseguido decisão judicial para bloquear buscas no Google, o senador mineiro falhou em processo que pedia investigação de 66 twiteiros que compartilhavam material contrário a sua candidatura.
Bem-estar social x 'meritocracia'
Aécio insistiu, ao longo do debate, no discurso pessimista em relação à economia. Com ênfase no estouro da meta de inflação e em um horizonte de alta do desemprego causada por desindustrialização, o tucano chegou a convidar Dilma a pedir desculpas pela administração da política econômica. A defesa da presidenta centrou-se na figura de Armínio Fraga, presidente do Banco Central durante o governo FHC e "prometido" ao cargo de ministro da Fazenda em um eventual governo tucano. Para marcar a diferença entre os projetos políticos das duas candidaturas, Dilma relembrou o áudio de uma entrevista em que Fraga dizia que "não sobraria muito" dos bancos públicos após os ajustes que ele considera necessários.
"Ora, hoje o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] é o terceiro banco de investimentos do mundo. Empresta para indústria e infraestrutura. O Banco do Brasil é o banco que faz toda a política para o setor agrícola: dos R$ 180 milhões hoje emprestados, quem faz a maior parte do crédito é o Banco do Brasil. A Caixa, eu fico impressionada... sem a Caixa, não tem Minha Casa, Minha Vida", resumiu Dilma. Ela ainda lembrou que, durante o governo do PSDB, a inflação esteve fora da meta por dois anos consecutivos, e que a taxa Selic chegou a 45%, cenário econômico que se complicou e elevou o número de desempregados a 11,5 milhões de pessoas em 2002, às vésperas da primeira eleição vencida por Lula.
Se Dilma foi mais eficiente ao rebater as críticas do tucano à economia com um portfólio extenso de programas sociais para blindar o trabalhador diante de uma crise sistêmica, Aécio encontrou seu melhor discurso se aprofundando na defesa de valores à direita: com elogios ao sistema de meritocracia implantado em Minas Gerais, o candidato prometeu levar ao serviço público a cultura de remunerar financeiramente resultados obtidos pelos funcionários. Dilma tentou desconstruir o discurso tucano apontando falhas de gestão que levaram à dispensa de quase 100 mil servidores da educação, mas teve de ser lembrada que o PT aprovou aquele projeto. Nesse embate, Dilma cedeu pela única vez em sua estratégia de demarcar diferenças de projeto com seu adversário: quando o tucano tentou puxar para si a causa da flexibilização do currículo do ensino médio, Dilma fez questão de dizer que a proposta é, na verdade, sua.
'Comandante'
Aécio consolidou a guinada à direita de seu discurso na reta final do debate, quando foi provocado a falar sobre segurança pública: após defender a gestão do PSDB sobre as polícias civil e militar em Minas, o tucano foi enfático em dizer que terá postura radical contra o crime ao prometer assumir pessoalmente o "comando" de uma nova política nacional de segurança pública, assunto, para o candidato, também relacionado às relações internacionais. "Vamos enfrentar de forma altiva os países que produzem as drogas que causam mortes no Brasil", afirmou.
Dilma, por sua vez, também apresentou medida radical para lidar com o tema: defendeu a mudança da Constituição para que o governo federal passe a compartilhar a responsabilidade pela segurança pública e instale gabinetes integrados nos moldes dos criados para a Copa do Mundo, com colaboração entre polícias estaduais e federais, além das Forças Armadas.
Em sua fala final, Aécio prometeu honrar compromissos firmados com Marina Silva (PSB) e fez agradecimento à viúva de Eduardo Campos; no discurso de abertura, já havia estreado o discurso "marineiro": o tucano afirmou que seu governo não representará o projeto de um partido, mas de uma coligação que responde "ao sentimento das pessoas", por um "governo generoso". A presidenta, sempre solicitando ao eleitor que faça a comparação entre os projetos, pediu ao trabalhador que se pergunte quem representa o projeto que mais defende direitos.
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