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Nunca houve clareza no PT sobre como se relacionar com a mídia tradicional e familiar. A negação, a crítica, o distanciamento sempre foram as marcas mais visíveis da relação. O relacionamento que continha desprezo e até ojeriza nos primeiros tempos de formação do partido, no ABC – quando os jornalistas em geral eram chamados de petistas e Lula e o comando dos sindicalistas rechaçavam o diálogo com "a imprensa burguesa" - tornou-se agora de vida ou morte. Esse longo braço de ferro com a mídia tal qual ela sempre foi conhecida – Globo, da família Marinho, Folha, dos Frias, Estado, dos Mesquista etc etc – está perto de uma definição. Como nunca antes, todos os veículos de maior faturamento comercial e circulação do País estão rasgadamente contra o PT – e o PT definitivamente contra todos. É a final da luta do século, com revanche para sabe-se lá quando houver novas eleições gerais.
Nesta eleição, o caso virou briga de rua, em que vale, expressamente, tudo. Concretamente, vale até o maior vazamento eleitoral da história do Brasil. De fato, nunca se tinha visto antes uma operação tão orquestrada, de na hora certa da eleição a voz do delator premiado Paulo Roberto Costa aparecer em todas as mídias para entregar "3% para o PT" nos contratos que ele operava na Petrobras. O espaço natural que o vazamento iria mesmo ocupar no noticiário, na abertura da reta final da eleição, em pleno empate técnico entre a presidente Dilma Rousseff e o senador Aécio Neves, foi amplificado ao último volume Neste final de semana, para completar a blitzkrieg, tratamento extra VIP é dado neste final de semana pelas revistas Veja e Época, em campanha desabrida pelo candidato do PSDB.
Finalmente, agora, com a maior aliança de mídia já feita no Brasil explicitamente contra uma candidatura presidencial – a de Dilma, como todos sabem -, o PT sabe o que fazer. Após ter passado 12 anos no poder sem ter uma proposta consensual sequer a respeito de uma renovação, que seja, da legislação que regula os meios de comunicação no Brasil, o partido tem uma proposta de legislação para o setor de mídia.
A chamada Lei de Meios, que não foi incluída no programa oficial da candidatura Dilma por veto da presidente, o que demonstrou a falta de consenso, voltou à baila. E pela voz da própria Dilma, que disse a blogueiros finalmente ter aderido à ideia de mudar as normas que permitem a maior concentração de propriedade do mundo, monopólio, participações cruzadas e, é claro, autoregulamentação publicitária. Um espetáculo de privilégios que foi brindado com reserva de mercado desde os tempos do regime militar, com as leis que impedem a participação de grupos estrangeiros no controle da empresas de comunicação. Por baixo do pano, ainda nos anos 1960, a Globo quebrou essa regra, mais tarde a Abril se capitalizou com sul-africanos apresentados pela CIA, e a concentração só se fortaleceu.
O partido, conscientemente, fez sua trajetória na diagonal dos meios que encontrou implantados, quando, segundo o PT dos primeiros tempos, a história do Brasil estava começando, exatamente porque o partido surgia. Agora, porém, a aposta é alta, do tipo quem vencer leva tudo: a radicalização sem precedentes ou vai mudar tudo, em caso de vitória de Dilma, ou tende a tornar o setor ainda mais concentrado na propriedade.
O impacto de toda a mídia de um País, de uma vez só, veicular a voz BBB de Costa disparando contra o PT coroou o movimento de rasgar de fantasia da mídia. O caso virou, é claro, comentário de botequim. A Folha, que nos comerciais diz que é a favor disso, contra aquilo, que é democrática, etc, passou recibo no Facebook ao publicar um meme de Aécio em festa como se fosse do próprio jornal. "Também estamos em festa" foi o recado. De bandeja, em seguida, aparece o vídeo de Costa, com o dedo no olho do PT. E contra esse "golpe", assim classificado pela própria Dilma, o partido se debate agora.
Será um feito não menor que o espetacular a presidente Dilma conter danos à sua imagem eleitoral debaixo da verdadeira operação "Tempestade no Deserto" desfechada pela mídia tradicional. A presidente tem algum tempo para se recuperar, mas deve contar que novos ataques virão. Quem sabe não aparece logo logo uma fita com o depoimento do doleiro Alberto Yousseff? As fontes são praticamente as mesmas.
A linha escolhida é da denúncia da operação orquestrada. "Um golpe", como definiu a presidente, no que foi acompanhada por seu coordenador de campanha Miguel Rossetto. Não se sabe se vai dar certo, mas que, a esta altura do campeonato, é a única posição que restou ao PT, quanto a isso não há nenhuma dúvida na direção partidária. De Lula a Rui Falcão, e passando por Rossetto, a renovada briga contra a mídia ganhou também a posição da presidente Dilma.
A relação de disputa entre a mídia e o PT está sendo travada no campo em que, paradoxalmente, a própria mídia queria. O PT nunca conseguiu – ou melhor, nunca nem tentou – criar a sua própria base de informação própria. Ainda que o atual presidente do partido, Rui Falcão, seja um jornalista que chegou a cargos de comando em sua carreira. Experiências bem sucedidas como a TV dos Trabalhadores, da CUT, não mereceram o carinho devido da direção do partido para crescer e se multiplicar. Na mídia de papel, jamais o PT quis ter um jornal próprio, no que, nesse particular, foi uma negação pouco inteligente da secular experiência do PCB, pela esquerda, em ter seus próprio veículo. Ou não quis, ou não soube fazer.
No PT, assunto de mídia sempre foi segredo guardado a sete chaves. Não há notícia de que a direção partidária, desde a fundação da agremiação, tenha liderado um diálogo amplo para tratar do tema. Mesmo a proposta de Lei de Meios não é clara para a maioria dos militantes. Provavelmente, cada um que se ocupa do tema tem seu próprio projeto.
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