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A política nacional e o debate econômico têm de volta uma referência central; redivivo com 11,1 milhões de votos, José Serra, 72, sai fortalecido do teste de fogo da distância do poder e se prepara para um mandato prolífico em projetos e agitado no campo político em Brasília; “Tenho muita coisa para fazer no Senado em tabelinha com o nosso governador”, diz ele, sobre sua linha de atuação; um dos projetos será a Nota Fiscal Brasileira; ele fala ainda em defender uma nova lei eleitoral e abrir ainda mais o mercado da saúde a medicamentos genéricos; reportagem de Marco Damiani
Um referência central na política e na economia brasileiras está de volta à grande cena: José Serra. No teste de fogo da distância do poder, o ex-governador, ex-senador, ex-prefeito, ex-deputado federal, ex-ministro e ex-candidato a presidente da República (ufa!) reuniu de uma só vez, agora, todas as suas antigas forças. Com 11,1 milhões de votos, ou 58,6 % dos válidos, ele chegou, na eleição que acaba de vencer, a cometer a ‘indelicadeza’ de ter até mais votos que o governador Geraldo Alckmin, por sua vez reeleito com 57,8 % de votos. É certo, no entanto, que ambos nunca estiveram tão unidos:
- Tenho muita coisa para fazer no Senado em tabelinha com o nosso governador, projeta Serra, empolgado pelo novo momento, alcançado aos 72 anos de idade, em plena forma.
Com os relógios políticos sincronizados, os interesses de Serra e Alckmin só voltarão a se encontrar no futuro da próxima sucessão, quando o novo senador terá a chance de escolher a disputa por um novo mandato de governador em São Paulo ou avaliar, ainda uma vez, suas chances na disputa presidencial de então. Como é o seu feito, Serra não pretende adiantar esse debate. Ele terá bastante ocupação antes.
USINA DE PROJETOS - Serra pretende montar uma verdadeira usina de projetos no Senado para “defender os interesses de São Paulo”, como frisou ao longo de sua campanha. Conhecido em mandatos anteriores em Brasília, de deputado constituinte, em 1988, a senador, entre 1996 e 2003, por montar fortes assessorias técnicas, ele sempre foi um campeão na apresentação de projetos de lei – e na sua aprovação.
- Vou fazer a defesa da democracia, da mudança do sistema político e da lei eleitoral, mapeia o futuro senador.
Defensor histórico do parlamentarismo, Serra vai procurar introduzir elementos como o voto distrital misto na legislação eleitoral. Ele será, por outro lado, a voz mais poderosa para encaminhar o compromisso do presidenciável Aécio Neves, firmado em campanha, de acabar com a reeleição e estabelecer mandatos de cinco anos para todos os cargos públicos.
- Neste momento, a missão principal agora é ampliar a votação de Aécio em São Paulo e completarmos uma vitória cabal sobre o PT e todo o seu atraso, aponta Serra.
Ele vinha de uma eleição frustrada, após perder a disputa pela Prefeitura de São Paulo para o petista Fernando Haddad, e está com as presas afiadas contra o adversário mais tradicional:
- O PT é a inépcia, é o que não dá certo, representa uma visão de mundo atrasada e hostil, resume ele.
Na área da Saúde, da qual foi ministro, Serra se sente especialmente pronto para fustigar o PT:
- Há um verdadeiro bloqueio no Ministério da Saúde a medicamentos genéricos contra o câncer. Vamos atacar de frente questões como essa, promete.
NOTA FISCAL BRASILEIRA - Para a economia, a nova chegada de Serra ao Senado, a partir de 2015, vai representar a presença de um adversário igualmente demolidor – no caso de reeleição da presidente Dilma Rousseff – ou preparado para dar sustentação a uma nova política econômica. Como economista que seria o seu próprio ministro da Fazenda em caso de ter sido eleito presidente, nas eleições de 2002, Serra procura ser cuidadoso com o tema, mas já anuncia que iniciará suas intervenções pela reforma tributária:
- Vamos com tudo implantar na Nota Fiscal Brasileira, conta o novo senador. “Fizemos a Nota Paulista e vamos para lá criar esse instrumento que vai devolver uma parcela dos impostos federais aos consumidores”, completa.
Adepto de uma única legislação nacional para a circulação de mercadorias, à semelhança da vigente na Europa com o IVA – Imposto sobre Valor Agregado.
Ex-ministro do Planejamento, Serra tem um conjunto de ideias todo próprio para a economia. Nos primeiros meses de mandato, sua postura será pautada por quem vencer a disputa nacional. No caso de Dilma, ele se tornará, imediatamente, o maior arauto econômico da oposição. Um sentinela que vigiará de perto todos os passos do novo governo, jogando seu imenso preparo técnico a serviço da oposição. Não haverá dele qualquer intenção de conciliar com a política econômica petista, qualquer que seja o seu representante.
Frente a Armínio Fraga, que Aécio, se vencer, já anunciou para a chefia do Ministério da Fazenda, Serra deverá assumir uma postura inicialmente mais discreta. Ele poderá influenciar parte da montagem do novo governo, mas seu foco estará dividido com o monitoramento da gestão de Alckmin em São Paulo. O novo senador deverá se poupar de bolas divididas no primeiro ano de gestão, para começar a ampliar seus espaços de acordo com o desenvolvimento dos eventuais governos tucanos no Brasil e no Estado. Em outras palavras, ficará na mais em alerta do que em ação.
CONSERVADOR ASSUMIDO - Em razão de posições firmadas em pontos nevrálgicos como a reforma tributária, Serra acostumou-se a ser visto como um político essencialmente paulista. Chegou a pesar sobre ele a pecha de ser um renhido adversários dos interesses dos políticos nordestinos em Brasília. Ele não parece se importar com a fama. Sua política sempre foi dura. Serra nunca negou-se a comprar brigas e assumir seu lado, o que o instalou, para a esquerda que circula na órbita do PT, em definitivo no campo conservador.
- Não irei dedicar meu mandato a questões como a legalização da maconha ou ao debate sobre a reprodução de células-tronco, deixou claro durante a campanha. “Sou contra mudar a lei nesses pontos”.
Sempre mantendo o suspense sobre seus planos políticos, Serra deixou para a undécima hora a decisão de concorrer ao Senado. Ele chegou a deixar correr a informação de que não estava interessado no cargo, disposto apenas a retomar um mandato de deputado federal. Seria, sem dúvida, o que os adversários gostariam para ele, com a diluição de seu peso estratégico entre a grande balbúrdia da Câmara dos Deputados. Aconteceu, porém, o contrário.
Depois de estressar nervos no PSDB, Serra escolheu o último dia legal para definir sua candidatura ao Senado. A partir de então, contou com a sorte de não ter sido atacado diretamente pelo PT. Com o senador Eduardo Suplicy, o partido optou por uma campanha centrada na figura do veterano senador em lugar de tentar a desconstrução de Serra. Com velhas e ativas bases no interior de São Paulo, o candidato tucano aproximou sua agenda da do governador Geraldo Alckmin, centrou seu discurso em temas pontuais como a defesa dos interesses políticos de São Paulo, a necessidade de uma reforma tributária, a ampliação dos genéricos e modernização na legislação penal. Deu mais do que certo.
Nos últimos tempos, Serra voltou a sorrir e, mais que isso, a retomar planos antigos. Na véspera de lançar-se candidato, lançou seu livro de memórias 50 Anos Esta Noite, no qual conta sua participação na resistência ao golpe militar de abril de 1964 contra o presidente João Goulart.
- Foi um livro escrito um tanto espontaneamente, definiu o autor. “Mistura muitas coisas, minha autobiografia, minhas análises sobre aquele situação, tudo o que eu vivi, registrou ele.
Eu seu texto, Serra confessa que, desde a infância, passada com os pais feirantes nas ruas da Mooca, um dos mais tradicionais bairros de São Paulo, ele alimentou um sonho que agora, mais uma vez, terá instrumentos para viver:
- Eu prometi a mim mesmo que viria ser o homem público mais bem preparado do Brasil. Busco essa meta até hoje, crava Serra, o super senador.
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