491 visitas - Fonte: Tijolaço
Na entrevista – em geral cínica – que o governador Geraldo Alckmin dá à Folha hoje, uma verdade, ao menos, há.
Todas as informações sobre a crise hídrica de São Paulo estavam – e estão – publicadas na internet, ao alcance de todo e qualquer um que queira analisar a gravidade do problema.
É, aliás, a única verdade nesta história toda, cuja mais recente mistificação é a de que haverá água, mesmo que não chova, para atravessar o resto do ano.
Este blog, a centenas de quilômetros do drama vivido pelos paulistas – que só entra aqui em casa quando meu filho, que vive lá – me conta dos cortes noturnos do abastecimento – deu, desde o início do ano, acompanhamento sistemático ao desastre paulistano.
Os grandes veículos de comunicação, porém, viveram de “releases” e garantias de que tudo estava “sob controle”.
Sempre foi e ainda é, numa palavra, mentira.
Não se fala nos números chocantes que estão à disposição, como disse Alckmin, de todos.
Por exemplo, que o reservatório do Atibainha, de onde está vindo toda a água retirada hoje do Sistema Cantareira, tem míseros 60 centímetros – três palmos! – de água, até que seja atingida a cota mínima – já com todo o bombeamento – de 777 metros sobre o nível do mar. Nove bilhões de litros, água para seis dias, no ritmo atual de retirada.
Ou que o Jacareí, o maior dos reservatórios, cujas comportas foram completamente fechadas há dez dias, só conseguiu acumular, neste período, meros 4 bilhões de litros, pouco mais de dois dias do consumo da Grande São Paulo.
Os 60 bilhões de litros de água que ainda se diz ter como disponíveis são, neste momento, virtuais, porque dependem da escavação frenética de canais que liguem as “poças” que formam hoje o reservatório seco deste reservatório.
A Folha “descobriu” hoje um documento - elaborado por técnicos da Agência Nacional de Águas e pelo Departamento de Águas e Esgotos do Governo paulista que, enfim, implanta o racionamento que vem sendo criminosamente adiado há sete meses, por razões político-eleitorais.
Não é um “furo” de reportagem, é a confissão de uma omissão jornalística.
Pior, de um estelionato jornalístico, porque o estelionato eleitoral foi legitimado pela imprensa, a mesma imprensa que agitou, o quanto pôde, o fantasma de um “apagão” elétrico que podia render frutos políticos contra o Governo Federal.
Dois estelionatos, aliás, porque a candidata que se diz “ambientalista” calou criminosamente sobre o tema, de olho na conveniência de amealhar votos em sua aliança envergonhada com Geraldo Alckmin.
Embora estejamos vivendo, de fato, uma das piores estiagens que este país já enfrentou, há algo que tem faltado mais que água.
Vergonha.
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