Pimentel ao 247: 'O Brasil avançou e Minas parou'

Portal Plantão Brasil
23/8/2014 13:45

Pimentel ao 247: 'O Brasil avançou e Minas parou'

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473 visitas - Fonte: Brasil 247

À frente nas pesquisas para o governo de Minas Gerais, o ex-ministro Fernando Pimentel tem um papel estratégico não apenas para o PT mineiro, que pode conquistar o Palácio da Liberdade pela primeira vez em sua história, mas também para a reeleição da presidente Dilma Rousseff; "a verdade é que, nos últimos doze anos, não houve gestão em Minas, mas sim um único projeto, que era fazer de Aécio Neves presidente da República"; de acordo com Pimentel, em razão desse projeto, os governos tucanos não buscaram parcerias com o governo federal, que poderiam ter alavancado a economia mineira; ele também falou sobre o fenômeno Marina e disse que, até agora, "quem perde é o PSDB"; leia a íntegra da entrevista



A disputa pelo governo de Minas Gerais está destinada a guardar emoções particulares na campanha eleitoral de 2014. Terra de Aécio Neves, que há doze anos obteve ali uma vitória folgada, dando início a construção de um segundo reinado do PSDB no Sudeste, as eleições mineiras se transformaram na principal esperança do Partido dos Trabalhadores de conquistar um governo estadual na região.



Há pelo menos dois meses que Fernando Pimentel ocupa a frente das pesquisas, com uma vantagem sempre superior a dez pontos sobre o candidatdo do PSDB, o ex-ministro Pimenta Neves. Abrigo do segundo maior eleitorado do país, Minas Gerais também desempenha um lugar estratégico na sucessão presidencial. Aécio Neves pretende livrar uma boa vantagem entre os eleitores mineiros – na ordem de 4 milhões de votos – capaz de compensar a votação que Dilma Rousseff deverá conseguir em outras regiões do país, a começar pelo Nordeste. Nos últimos levantamentos, a diferença entre ambos têm diminuido, dizem as pesquisas – o que é uma segunda boa notícia para Dilma e para Pimentel.



A experiência ensina que em poucos estados as pesquisas eleitorais costumam ser mais traiçoeiras do que em Minas Gerais. Com 853 municípios, espalhados por um território imenso e desigual, as urnas mineiras costumam reservar surpresas e decepções para os pesquisadores mais afoitos. Em 2010, Hélio Costa chegou a ficar na frente por boa vantagem, até que Antonio Anastasia iniciou uma virada que permitiu uma vitória. Em 2014, a disputa pelo Senado, que sempre quer dizer alguma coisa, mostra o próprio Anastasia em larga vantagem sobre o empresário Josué Alencar, filho de José Alencar – no último Ibope, a diferença ficava entre 46% a 7%. A aliança do PSDB também terá dois minutos a mais na TV do que a do PT.



Por outro lado, ninguém sabe o efeito estadual da candidatura Marina Silva que, em 2010, foi a mais votada em Belo Horizonte. "Quem perde com a entrada da Marina é a candidatura tucana, já que agora eles correm o risco de nem chegar ao segundo turno", diz Pimentel.



Na disputa estadual, o candidato petista argumenta que nem todos os fatos cotidianos correspondem à imagem favorável que Aécio e o PSDB mineiro conseguiram construir a partir de 2003. "Aqui, não existe nem nunca existiu choque de gestão. O que há é uma grande confusão. Os problemas estão aparecendo em todas as áreas: na saúde, na educação, na segurança, na economia. Aí as pessoas começam a se perguntar por que o Brasil avançou e Minas parou no tempo", afirma. "O estado não tem um programa econômico. Em 12 anos, os tucanos não produziram um programa econômico para o estado. Minas é o terceiro PIB do País. Mas se tirarmos minério e café, cai lá pra baixo."



Em 2014, o PT entrou abertamente na briga pelo voto dos mineiros. Dilma reforçou sua presença em Minas Gerais e Pimentel consegue fazer uma campanha com um partido unificado, após profundas divisões internas que atravessaram a última década. O próprio Fernando Pimentel encontra-se bem afiado, como se vê na entrevista concedida na sede de sua campanha, em Belo Horizonte. Leia, abaixo, os principais trechos:



247 - Qual será o impacto do efeito Marina na disputa presidencial e na sucessão local?



Fernando Pimentel - "O primeiro efeito é nacional. Não afeta a presidenta Dilma, que continua onde estava, mas afeta fortemente o Aécio. A Marina encosta nele, com risco de tirá-lo do segundo turno. O impacto foi na candidatura Aécio."







247 - Mas Dilma perde a chance de vencer no primeiro turno.



Pimentel - "No PT, ninguém trabalhava com a perspectiva de primeiro turno. Uma eleição se decide em dois turnos. Agora, havia sim a perspectiva de que esse segundo turno fosse com o PSDB. E se for ela? O que será do PSDB? Para eles, será um fracasso acachapante. A minha análise é que está criado um gravíssimo problema para o candidato Aécio. Para nós não. Vamos para o segundo turno, com um ou com outra."



247 - O sr. percebe sinais de divisão no PSDB, com uma ala já torcendo por Marina?



Pimentel - "Claramente, uma parte do PSDB de São Paulo não tem a menor simpatia pelo Aécio. E já se percebe um movimento para tentar governar, mesmo em caso de derrota do Aécio. A Marina parece ser o plano B do PSDB."



247 - Mas Marina não tira votos de Dilma também?



Pimentel - "A tendência que estamos vendo é que, aos poucos, a presidenta Dilma cresça. Ela está recuperando sua avaliação positiva. Temos 45 dias de programa eleitoral e ela poderá mostrar o que fez. Do outro, lado o que havia? O Aécio estagnado nos 20% e um fenômeno novo que foi a chegada da Marina."



247 - Quais serão as repercussões do efeito Marina em Minas?



Pimentel - "A candidatura do PSB, do Tarcísio Delgado, será realmente impactada pela Marina? Ele é uma pessoa muito respeitável. Mas será que ele tem o perfil do eleitor da Marina? Alguma coisa ele vai ganhar. Mas acho que Minas está polarizada entre o governo atual, do PSDB, e nós que somos a alternativa real de mudança. Até porque eles não têm tempo de TV. O PSDB tem oito minutos, nós temos seis e o PSB tem um e pouco."



247 - Como o sr. pretende enfrentar um governo que é bem avaliado pela população?



Pimentel - "A eleição tem esse condão de revelar a realidade. O governo não é tão bom como se propagandeia. A eleição leva o eleitor a pensar na Minas real, não na Minas da propaganda. O que aconteceu nesses 12 anos? Houve muita apropriação de programas federais. Muitas vezes, fizeram apenas a troca dos nomes. O Luz para Todos virou Luz de Minas. E fizeram isso com vários programas. Além disso, nesses últimos dias, o Brasil cresceu muito. O governo da Dilma está no pleno emprego. Prosperidade é isso. Minas está dentro de um Brasil em que as pessoas estão vivendo melhor."



247 - Como o sr. avalia o chamado "choque de gestão"?



Pimentel - "Aqui existe um choque de confusão. Os problemas estão aparecendo em todas as áreas: na saúde, na educação, na segurança, na economia. Aí as pessoas começam a se perguntar. O Brasil avançou e Minas não avançou. O estado não tem um programa econômico. Em 12 anos, os tucanos não produziram um programa econômico para o estado. Minas é o terceiro PIB do País. Se tirarmos minério e café, cai lá pra baixo. Não tenho nada contra minério e café, mas Minas ainda tem uma economia com perfil do século XIX. Os tucanos não fizeram programa nem para o minério e o café. Veja o caso do mineroduto, que é da Anglo American e um dos maiores projetos do mundo no setor. Nem isso andou. Está se arrastando e não avança. O Estado não se empenhou."



247 - Mas as contas públicas foram equilibradas?



Pimentel - "O choque de gestão, seja lá o que for, nunca foi um programa econômico para o estado. Foi, no máximo, um programa de ajuste de contas. A dívida aqui aumentou, em vez de diminuir. É a maior entre todos os estados. Minas deve hoje mais ou menos R$ 85 bilhões. Desses, R$ 35 bilhões é a dívida com a União. Outros R$ 30 bilhões são também dívida com a União, mas remanescente. E outros R$ 15 bilhões foram tomados por eles nos últimos 11 anos. E depois tem precatórios e outras coisas."



247 - Assim como todos os estados, Minas luta para renegociar sua dívida com o governo federal. Isso não está correto?



Pimentel - "A dívida, com a União, com aquele indexador horroroso, foi negociada por eles. Foram o ex-governador Eduardo Azeredo e o ex-ministro Pedro Malan que submeteram Minas a esse garrote. Se eles hoje reclamam do contrato, devem dizer que foram eles que fizeram. O contrato foi assinado pelo Azeredo de um lado e o Malan de outro. Se eles dizem que as condições possíveis eram aquelas, têm que admitir que o Brasil agora é melhor. O problema vem com os R$ 15 bilhões da dívida remanescente. O Rio, por exemplo, pagou a dívida antiga, com o indexador pior, e diminuiu o garrote. Minas, não. Aqui, em tese iriam investir. Mas onde estão os programas? Eu estou procurando."



247 - O sr. pretende manter programas lançados nos últimos anos?



Pimentel - "Para não dizer que não se fez nada, houve um programa interessante, chamado Pro-Acesso, que liga as cidades de Minas à capital. Mas muito pouco diante do que precisa ser feito. Minas é muito grande e é um estado regionalizado. Os municípios têm que ser conectados, por asfalto, às cidades-polo, e não apenas às estradas que trazem à capital. Na segunda etapa do programa, eles iam fazer essas ligações e deram o nome de Caminhos de Minas. São 8 mil quilômetros que têm pra asfaltar. Lançaram como programa de campanha. Sabe quantos fizeram? Apenas 43! O resto, não fizeram nada. Por isso eu me pergunto. Para onde foram os R$ 15 bilhões? Fizeram a cidade administrativa, onde gastaram mais de R$ 2 bilhões."



247 - Como o sr. avalia o projeto da cidade administrativa de Minas?



Pimentel - "Foi um erro, mas hoje não é possível retroceder. As pessoas me criticam dizendo que eu aprovei como prefeito. Mas qual prefeito não gostaria de uma obra de R$ 2 bi na sua cidade. Como governador, eu não faria. Os servidores não gostam e ninguém gosta. Aquilo é o oposto da concepção moderna de gestão. Essa concepção é da década de 70. Não gera eficiência. É a antieficiência. Minas precisa de um governo descentralizado. Vamos criar coordenações regionais, para definir as prioridades de políticas públicas e acompanhar a sua execução."







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