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A tese sem nexo lançada por Arnaldo Jabor, que responsabiliza o Partido dos Trabalhadores pelo "ódio que o Brasil estaria sentindo de si mesmo", o que se refletiria em linchamentos e filhos assassinados pelos pais, não foi um delírio isolado do colunista; aparentemente, trata-se de um esforço editorial organizado da Globo, que, depois de abraçar a tese em editorial, publica artigo na mesma linha de Rodrigo Constantino; "Nunca antes na história deste país se viu um partido no poder que cuspiu tanto, e de forma tão escancarada, nas regras do jogo", diz ele
Quando Arnaldo Jabor atribuiu ao PT "o ódio do Brasil a si mesmo", o que redundaria até em filhos sendo mortos pelos pais, era ilícito imaginar que ele delirava sozinho.No entanto, dias depois, o jornal O Globo publicou editorial ecoando as ideias de Jabor.E agora outro colunista do jornal da família Marinho, Rodrigo Constantino, vai pela mesma linha. Ou seja: a estratégia de conectar o PT à "barbárie" é um esforço editorial organizado, liderado pelo Globo. Leia, abaixo, o texto de Constantino:
O linchamento institucional
Nunca antes na história deste país se viu um partido no poder que cuspiu tanto, e de forma tão escancarada, nas regras do jogo
O Brasil ficou horrorizado com as cenas de barbárie ocorridas em Guarujá semana passada, quando uma dona de casa foi linchada até a morte após boatos disseminados pelas redes sociais. Mas há outro linchamento que vem ocorrendo há anos e também merece nossa atenção, pois tem profundo impacto em nossas vidas: o das nossas instituições.
É claro que não há causalidade direta entre um e o outro, mas é inegável que a completa perda de credibilidade do povo em nossas instituições tem produzido um clima de anomia propício aos “justiceiros” que se julgam acima das leis. Como a Justiça não só tarda como falha muito, a impunidade gera a desculpa perfeita àqueles que desejam “fazer justiça com as próprias mãos”.
O agravante é justamente que o mau exemplo vem de cima. Espera-se que as autoridades sejam os maiores ícones do respeito às leis. Mas e quando o próprio governo é o primeiro a ignorar a Constituição, o império das leis? Que tipo de mensagem chega ao povo?
Não vou dizer que o PT inventou tudo isso, claro; mas nunca antes na história deste país se viu um partido no poder que cuspiu tanto, e de forma tão escancarada, nas regras do jogo. Que outro partido abusa tanto da confusão entre governo e estado? Que outro partido encara cada instrumento estatal como um braço partidário?
Exemplos não faltam. O recente discurso da presidente Dilma na véspera do Dia do Trabalho vem à mente. Diante de uma prerrogativa de Estado para um comunicado oficial, a presidente usou as redes de televisão e rádio para fazer uma absurda campanha eleitoral, ainda por cima enganosa. É ridicularizar demais nossas instituições.
O PT aparelhou toda a máquina pública, infiltrou seus militantes em estatais, agências reguladoras, chegando até ao STF, corroendo feito cupins os pilares de nossa frágil democracia. Como cobrar obediência às leis depois? Como exigir que cada cidadão se coloque sob as mesmas regras se o próprio governo se julga acima delas?
Mas não é “só” isso. Toda a retórica revolucionária dos petistas sempre enalteceu criminosos sob o manto da ideologia. Ou, por acaso, os invasores de terra do MST não praticam crimes em nome da “justiça social”? E o que acontece em seguida? São recebidos com honra no Palácio do Planalto pela própria presidente e ganham verbas do BNDES!
Boa parte da esquerda trata bandidos como “vítimas da sociedade”, como se não houvesse volição, responsabilidade em seus atos, como se uma condição financeira menos favorável fosse justificativa para roubar e matar inocentes (visão ofensiva à maioria dos pobres brasileiros, gente trabalhadora e honesta). Como exigir respeito ao Estado de direito com esse discurso sensacionalista?
O Brasil sob o PT perdeu suas esperanças num futuro melhor, eis a triste verdade. Foram anos de muito cinismo, de imoralidade à luz do dia, de bolivarianismo explícito, de canalhice recompensada. Quando o ex-presidente Lula beija a mão de “coronel” nordestino dizendo que é uma aula de política, abraça o Maluf ou afirma que Sarney não pode ser julgado como um homem comum, qual mensagem transmite ao povo?
Quando petistas do mais alto escalão são julgados e condenados pelo STF, cuja maioria dos ministros foi escolhida pelo próprio PT, e o partido sai em defesa dos criminosos presos e ataca o Supremo, qual o recado que passa para o cidadão? Como demandar aderência às leis em seguida?
O PT, adotando a estratégia marxista, segregou o país em duas classes. Ou você endossa seu modelo, ou você é um “inimigo da nação”. Divergências e críticas construtivas? Nem pensar! Imprensa livre apurando e divulgando escândalos infindáveis? Mídia golpista, tratada como “partido de oposição”. Que país resiste a esse tipo de divisão, quando o que mais se precisa é justamente um sentido de união em prol de avanços comuns?
Poucas vezes se viu uma sensação tão derrotista como a atual, com várias pessoas falando em ir embora do país. Em plena época de Copa, e no Brasil, nunca se viu tanta indiferença. Há muita revolta, isso sim. Protestos, greves, centenas de ônibus depredados ou incendiados por vândalos, uma população cansada da tática do “pão & circo”. Um ambiente fértil para oportunistas de plantão, baderneiros, agitadores e “salvadores da pátria”.
Nada disso precisa ser assim. Não podemos nos entregar ao fatalismo. Escrevo essas linhas de Miami, a “América Latina que deu certo”. Aqui, os mesmos latino-americanos obedecem as leis, respeitam as regras. Por que vamos mirar no péssimo exemplo venezuelano? Por que não podemos ter algo muito melhor? O que nos impede?
Rodrigo Constantino é economista e presidente do Instituto Liberal
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