915 visitas - Fonte: Vio Mundo
Antônio David, especial para o Viomundo
É preciso separar as coisas.
Caio Silva de Souza, acusado de ter disparado o artefato que matou o cinegrafista Santiago Andrade, afirmou em seu depoimento à polícia:
“Que existem sim tais financiadores, mas que é preciso verificar por dentro”;
“Que acredita que os partidos que levam bandeira são os mesmos que pagam os manifestantes” (o destaque é meu).
Logo a imprensa passou a dizer que PSOL e PSTU são acusados de financiar indivíduos para atuar com violência nas manifestações. Antes disso, o estagiário de um insuspeito advogado envolveu o nome do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ) no assunto.
Ambas acusações são ridículas. No entanto, o estrago já foi feito. A informação circulou na mídia e repercutiu na opinião pública. No Brasil é assim: primeiro a imprensa acusa; depois o acusado precisa provar a própria inocência. No meio do caminho, a opinião pública já julgou. Exemplos não faltam.
Enquanto PSOL e PSTU se defendem, uma parte dos defensores do governo Dilma faz coro com a direita na acusação aos ditos partidos. Lamentável. Alguns nem se preocuparam em usar um tom diferente da Veja.
Nesse momento, a situação é vexatória. Enquanto alguns simpatizantes e militantes do PSOL e do PSTU extrapolam a necessária defesa de seus partidos e partem para a desqualificação da acusação no atacado, como se tivessem certeza absoluta de que não há financiamento algum nas manifestações, não importa vindo de quem, alguns simpatizantes e militantes do PT e do PCdoB parecem estar mais preocupados em alimentar a desconfiança criada em torno das duas legendas socialistas do que em descobrir a verdade.
Enquanto isso, o que interessa realmente saber parece passar dos debates entre alguns militantes de esquerda nas redes sociais: existem financiadores? se existem, quem realmente são?
Caio pode ter mentido ao dizer que há financiadores, e pode ter mentido ao dizer que os financiadores são os “que levam bandeira”. Mas ele também pode ter dito a verdade. Essa é uma hipótese a considerar, e é uma hipótese plausível.
Se de fato há financiadores e ele não sabe quem são — daí ter dito “acredito que” –, é sinal de que quem pagou não apenas teve o cuidado de não se identificar, mas talvez tenha tido a esperteza de fazer com que ele, Caio, acreditasse que estava sendo pago pelos “partidos que levam bandeira”.
À direita interessa que haja protestos e que nos protestos haja violência. E interessa também que a violência apareça como ato da esquerda.
Que a revista Veja, PMDB, Garotinho, milicianos e companhia não tenham interesse em saber quais são as organizações e políticos da direita realmente envolvidos no financiamento de manifestantes, não surpreende. Mas o fato de militantes e simpatizantes do PT e do PCdoB perderem seu tempo acusando PSOL e PSTU, ou sutilmente alimentarem a suspeita contra esses partidos, quando existe um perigo real à espreita, é um sintoma do quão atrasados estamos em matéria de luta ideológica.
Acusar um adversário é natural. Faz parte da luta política. Mas deixar de focar no inimigo para acusar um adversário quando a acusação vem do inimigo e em seu mérito é esdrúxula e descabida, aí já é burrice.
Em tempo: o Estado também é financiador de indivíduos que, fardados ou à paisana (P2), são pagos para cometerem atos gratuitos de brutal violência, não apenas em manifestações, mas também no cotidiano, sobretudo no cotidiano dos mais pobres.
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