Coimbra: povo quer mudar a política e continuar o modelo. É o desafio de Dilma

Portal Plantão Brasil
16/2/2014 15:32

Coimbra: povo quer mudar a política e continuar o modelo. É o desafio de Dilma

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997 visitas - Fonte: Tijolaço

Muito interessante a análise do comportamento da opinião pública frente às eleições deste ano feita por Marcos Coimbra, presidente do Vox Populi, na Carta Capital.



Ele não subestima o desejo de mudança política da população, cada vez menos representada por parlamentares e partidos que, frequentemente, agregam mais pela conveniência que pela visão de país e identidade de métodos de ação.



E, como se está vendo na prática, isso inclui a hipocrisia da “nova política” de Eduardo Campos e Marina Silva, engalfinhados numa disputa de composições e arranjos locais. E que, ao praticar sua “aliança preferencial” com Aécio Neves, sinaliza que a busca de novos caminho acaba visando os mesmos destinos velhos do conservadorismo colonialista brasileiro.



Dilma, como mostrou no ano passado, ao propor um plebiscito para a reforma política que as oligarquias partidárias e parlamentares se apressaram em barrar, vai precisar emitir este duplo sinal: que é preciso mudar na política para manter o caminho de afirmação que, desde 2002, o Brasil tomou.

E que não está esgotado, porque não chegamos nem perto ainda do que iremos ser.



Cálculo e risco nas eleições



Marcos Coimbra



Salvo a minoria que chega às urnas com certeza absoluta a respeito do que vai fazer, o eleitor típico carrega dúvidas durante todo o processo. Até o último momento, quando vai digitar seu voto, costuma ainda estar inseguro.



A incerteza é maior nas eleições proporcionais, nas quais, por obra de nossa legislação, uma oferta imensa de opções lhe é apresentada. Como selecionar um candidato a deputado entre centenas?



Ao contrário de benfazeja à democracia, a superoferta desencoraja o cidadão a procurar. Muitos terminam, a rigor, por não escolher e aceitar a sugestão de alguém em quem confiam (familiar, patrão, prefeito, cabo eleitoral, padre, pastor). Ou deixam o voto em branco ou o anulam.



Nas eleições majoritárias, em que o eleitor é posto diante de poucos nomes, o quadro é menos complicado.



A razão está no aumento da informação. Se é impossível saber algo sobre quase 2 mil candidatos a deputado estadual

(em 2010, só em São Paulo concorreram 1.976), não é difícil conhecer o fundamental dos três ou quatro que disputam, de fato, a eleição de senador, governador e, especialmente, presidente.



Paradoxo, essa maior informação nem sempre tranquiliza o eleitor. O inverso é frequente. Ao saber diversas coisas a respeito dos candidatos, a incerteza aumenta.



Um é melhor do que os demais em determinado aspecto, mas perde em outras dimensões. O campeão no quesito “determinação” pode ser péssimo em termos de “preocupação com pessoas como você”. Quem mais se destaca nisso talvez seja horrível em “competência”. As dúvidas permanecem.

Não raro, em pesquisas qualitativas, os entrevistados dizem que, ao votar, sentem-se diante de uma espécie de roleta. São obrigados a optar por um nome e têm consciência do risco de mal escolher. Sabem que pagarão um preço se optarem errado. Mas têm de fazer sua aposta.



Ao preencher os cargos do Executivo, o cidadão precisa resolver duas questões (e a segunda só se coloca depois de a primeira ser respondida): o que prefere, continuidade ou mudança? Se quer continuidade (algo que, basicamente, conhece), apostará naquele ou naquela que está no governo. Se deseja mudança (cujas consequências desconhece), qual candidato ou candidata, entre aqueles que a prometem, lhe parece melhor?



Já fizemos eleições presidenciais inteiramente dominadas pela ideia de mudança, como aquelas de 1989 e 2002. Em ambas, a soma dos votos dos candidatos que representavam ruptura com o status quo passou, no primeiro turno, de 75%. Nelas, o eleitor estava disposto a correr riscos, a trocar o conhecido pelo imaginado (na verdade, avaliava a continuidade de maneira tão ruim que aceitava até aventuras).



E tivemos eleições marcadas pela continuidade. Em 1994 e 1998, Fernando Henrique Cardoso elegeu-se e reelegeu muito menos por suas virtudes pessoais e mais pelo Plano Real, cuja manutenção estaria ameaçada. Em 2006, o apoio popular a Lula explica a reeleição. Em 2010, a eleição de Dilma Rousseff decorreu do bom governo do antecessor.



E agora?



Sem contar a parcela ideológica, para quem a escolha sempre está feita de antemão, as pesquisas indicam que a maioria do eleitorado faz seus cálculos.



De um lado, ele mostra-se claramente insatisfeito com o sistema político e o modo como se estrutura. Desde junho do ano passado, é perceptível o desejo de mudanças.



De outro, põe na balança a avaliação favorável do governo e a sensação de que os cidadãos e o País vão razoavelmente bem e melhoraram nos últimos anos. Ou seja, vê a continuidade como desejável.



É bem diferente de 1989 ou 2002, quando o eleitor sentia que nada tinha nas mãos e que um pássaro voando era melhor. Mas não é igual, tampouco, a 1994, 1998, 2006 ou 2010, quando algo que julgava muito positivo estava em risco na eleição. Naquelas, havia dois pássaros na mão do eleitor e apenas um voava.



A favor de Dilma Rousseff há a imagem dos adversários (ou sua ausência). Se Aécio Neves tivesse sido candidato em 2010, estaria mais pronto agora. E Eduardo Campos, no fundo, é nome para 2018. Hoje, nenhum é suficientemente confiável para encarnar a mistura de mudança e continuidade procurada pelo eleitorado.



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