1446 visitas - Fonte: O Cafezinho
Reproduzo abaixo um artigo do Nassif, analisando as consequências da morte do cinegrafista. Antes, alguns comentários sobre um trecho de seu texto, em que ele fala da participação de pessoas mais velhas, irresponsavelmente chancelando os atos violentos.
Irresponsavelmente sim, reitero, porque essas pessoas jamais se arriscariam, elas mesmas. Mas comprometeram a vida de terceiros, em alguns casos tragicamente, como no caso dos jovens presos, que podem permanecer enjaulados por décadas.
É muito fácil pregar a violência do conforto de seu apartamento no Leblon. É muito fácil dar cartaz, espaço ou mesmo dinheiro para organizações comprometidas com a violência. Já vimos isso acontecer em épocas de triste memória. Todos os fascismos tiveram seus “camisas neras”. Todos tiveram também seus “professores”.
Esses professores chancelaram a “estética” ou “linguagem” da violência, o que é uma grande besteira. A violência é a anti-linguagem por natureza.
Agora, boa parte deles protagoniza um estrondoso silêncio. Ninguém mais defende os black blocs, transformados em párias da sociedade.
Quanto à suspeita de organizações que os patrocinavam, isso é outra história.
O que não faltam são teorias neste sentido, algumas ventiladas neste blog, sempre com a ressalva de que eram apenas teorias, muitas delas de caráter conspiratório, falando em financiamento estrangeiro – embora nem por isso menos realistas.
Desde o ano passado, há muitas denúncias de patrocínio ao vandalismo e à truculência. Amigos meus de sindicato e partidos (vários partidos) foram violentamente agredidos em junho do ano passado, enquanto eu estava em Brasília, onde observei a manifestação que terminou com a depredação do Itamaraty.
No dia 11 de julho, eu testemunhei a presença hostil dos black blocs à manifestação dos sindicalistas e militantes partidários, que organizaram uma passeata da Candelária à Cinelândia justamente como um desagravo às agressões que tinham sofrido em passeatas anteriores. Os sindicalistas, no alto dos carros de som, pediam insistentemente para que não se usasse máscara na passeata.
Os black blocs circulavam agressivamente em meios às bandeiras e, num dado momento, se voltaram contra os manifestantes. No dia seguinte, escrevi um texto um pouco acima do tom contra os mascarados, porque passei a vê-los não apenas como adversários políticos, mas como adversários físicos, já que eles agrediram amigas minhas. A manifestação encerraria na Cinelândia, com um grande comício para debater a mídia. Não houve. Os black blocs destruíram tudo. Na mesma noite, conversando, as especulações que os blocs eram pagos eram muito fortes, até porque eles se organizaram com incrível agilidade para detonar a manifestação. Distraíram a turma que cuidava da segurança criando um tumulto de um lado, enquanto outro grupo se posicionava à frente, preparando-se para agredir e assustar os manifestantes.
Meses depois, num evento (cujo lugar declino, porque não quero demonizar ninguém, neste momento de histeria midiática), usaram uma frase desse post que menciono acima, descontextualizada, para me constranger. Nessa mesma ocasião, notei a hipocrisia enorme dos setores que defendiam a violência e os mascarados, porque atacavam a arbitrariedade da polícia, que prendia “inocentes”, que não tinham feito nada, mas ao mesmo tempo se mostravam simpáticos ao quebra-quebra, ou seja, defendiam os “culpados”. Houve um debate acalorado e uma das “professoras”, quando passou diante de mim, falou com todas as letras: “eu defendo a violência”.
No evento que organizamos em frente à Globo, em julho, tomamos um extremo cuidado para evitar a presença de mascarados, porque nosso objetivo era político, na acepção democrática do termo. Apareceram uns dois ou três, com aquela máscara ridícula do Anonymous, e mochilas. Pedimos para abrirem a mochila e nos mostrar o conteúdo. Tínhamos receio, inclusive, de uma armadilha, ou seja, que aparecerem por ali uns arruaceiros justamente para a Globo depois nos desqualificar, a todos, como vândalos.
O argumento surrado dos defensores da violência sempre foi o de que o vandalismo “vem do Estado”. Tem fila no hospital? Tem polícia truculenta na favela? “Tem mais é que vandalizar mesmo!”, afirmavam os “professores”. Mas eles mesmos continuavam seguros, em seus empregos, em seus apartamentões. Os buchas de canhão são os jovens que embarcavam nessa. E agora sabemos que haviam os buchas dos buchas: jovens colhidos nas periferias para fazer o serviço sujo que os playboyzinhos não tinham coragem de encarar.
Lembro-me de um deles que pegou o microfone para dizer que, este ano, organizariam o Ocupa Congresso e o Ocupa Planalto, o que me causou calafrios, porque pensei imediatamente: o Congresso pode abrigar centenas de picaretas, mas a troco de que esses coxinhas acham que são melhores?
Em momento de “crise” de representação política, aparece todo o tipo de oportunista. Alguns pegam carona e exageram na linguagem, falando em “colapso” da representação, mas só para os outros, não para o seu político de estimação.
Mesmo sendo radicalmente contra a tática black bloc, no entanto, sou ainda mais rigidamente contra qualquer histeria judicial contra esses jovens. Temos que esvaziar nossas cadeias, não abarrotá-las ainda mais.
O importante é descobrir a verdade. Quem os financiava? E não adianta nos fiarmos somente às palavras dos rapazes e de seu advogado, porque aí poderíamos ser vítimas de outro complô. Se uma pessoa é capaz de depredar patrimônio público e pôr a vida de outros em risco soltando bombas na multidão, também é capaz de mentir para promover outro tipo de vandalismo, ainda mais se isso lhe ajudar a ficar menos tempo em cana.
É preciso lembrar ainda que nossa mídia é totalmente black bloc. Ela não tem nenhum senso de responsabilidade além de seus próprios interesses econômicos. Como um black bloc, é contra partidos, contra o Estado, usa a máscara da imparcialidade e pratica um jornalismo truculento.
Assim como os black blocs, não tem compromisso nenhum com a paz, com o desenvolvimento, com o bem estar das pessoas. Tanto é que, no auge das manifestações, quando já víamos emergir uma enorme onda de violência e hostilidade contras as instituições democráticas, a Globo tentou faturar politicamente, de maneira descarada. Não fez crítica à violência, encarada sempre como vinda de “um pequeno grupo de vândalos”.
Quando se descobriu que a estratégia das manifestações violentas ajudava a erodir a popularidade da presidente, a direita ficou eufórica, e grupos de apoio aos manifestantes passaram a surgir em toda a parte, alguns de origem estrangeira explícita, como aquele Change Brazil, patrocinado por um milionário brasileiro com empresas sediadas nos Estados Unidos.
Não podemos perder o foco, portanto. O importante não é prender esses dois garotos. Eles não apitam nada. Foram usados. O foco é pegar quem está por trás. O advogado falou que eles ganhavam para criar páginas na internet, além da participação em manifestações. Que páginas são essas? Que outras páginas foram criadas? É preciso fazer uma varredura geral nesse esquema criminoso que visou atingir a nossa democracia.
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As consequências da morte do cinegrafista
O movimento Black Bloc chegou no limite da guerrilha urbana
por Luis Nassif, na Carta Capital.
A morte do cinegrafista Santiago Andrade, à qual se somam mortes frequentes de torcedores de futebol, indica que é hora de uma atuação mais severa em relação às manifestações populares violentas, de Black Blocs e de torcidas organizadas.
As manifestações de junho passado foram respiros de cidadania, um mal estar difuso indicando o esgotamento do modelo institucional atual – tanto dos poderes públicos quanto da representação midiática. Foi um aviso relevante, devidamente captado por todos os setores responsáveis do país.
Infelizmente, não geraram ainda políticas continuadas de atendimento das demandas e de discussão de novos modelos.
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Houve tentativas iniciais de instrumentalizar as manifestações. Todas fracassaram, de partidos políticos a veículos de mídia.
Passada a primeira etapa, difusa, as manifestações foram apossadas por grupos violentos, propondo quebradeira.
Em um primeiro momento, criaram impasses. Depois de abusos iniciais, as polícias estaduais não souberam mais separar manifestantes de vândalos, não sabiam quando agir com dureza, quando permitir o protesto.
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Do lado da opinião pública, observou-se a aliança improvável entre grupos de ultraesquerda e setores da grande mídia, empenhados na batalha inglória de desmoralizar a Copa do Mundo.
Intelectuais irresponsáveis trataram de colocar lenha na fogueira, legitimando a violência sem colocar-se na reta, iludindo jovens seguidores e comprometendo sua vida adulta – com a possível criminalização de seus atos.
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Agora, chega-se ao impasse.
O movimento Black Bloc chegou no limite da guerrilha urbana; as torcidas organizadas, no limite das organizações criminosas. Enquanto apenas limítrofes, continuarão a arregimentar jovens que não veem diferença entre filmes de aventuras, a romatização da violência e as consequências na vida real. Entram na guerra como se fosse um game online.
Daí a necessidade de um corte, prévio, anunciado mas que defina de vez o que é manifestação popular e o que é crime. Ir para manifestações com rojões e armas de combate é crime. Quebrar lojas e aparelhos públicos é crime. E traz consequências.
Tem que ficar claro para os rapazes e para seus pais. Quem persistir na violência, está devidamente informado das consequências e será responsável por seus atos.
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Que a morte de Santiago traga bom senso às manifestações sobre a Copa. As críticas aos gastos, às prioridades devem ficar no âmbito das instituições – Congresso, Ministério Público, mídia, organizações sociais.
A morte de Santiago traz um novo olhar da opinião pública sobre as tentativas de transformar as críticas em manifestações violentas de rua.
Nos últimos dias há uma troca incessante de acusações sobre as causas da morte de Santiago, se da mídia, se das redes sociais, se da animosidade entre jornalistas e blogueiros. Pouco importa. O mal está feito e vale o que acontecer daqui para diante.
Quem teimar em promover os conflitos responderá perante a opinião pública pelos novos Santiagos que quedarem vítimas dessa insânia.
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