ESQUERDA TENTA, VIA MST, RETOMAR PRESENÇA NAS RUAS

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12/2/2014 21:59

ESQUERDA TENTA, VIA MST, RETOMAR PRESENÇA NAS RUAS

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1544 visitas - Fonte: Brasil247

Depois de um período de hibernação, Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, desde sempre identificado com as esquerdas do País, tomou a Esplanada dos Ministérios; tentativa de invasão ao Palácio do Planalto sublinhou, com violência, que presidente Dilma Rousseff foi escolhida a adversária número um da organização; essa decisão afasta esses Reds Blocs do PT, apesar de terem nascido e crescido juntos; paradoxalmente, crescimento em organização pode levar o partido do governo a resgatar plano de ter suas próprias massas nas ruas, para não perder espaço na defesa de suas bandeiras; na ressaca dos mascarados Black Blocs, militantes com cara à mostra tentam retomar protagonismo



12 DE FEVEREIRO DE 2014 ÀS 21:25



247 – Uma organização que já foi aliada do PT mostrou nesta quarta-feira 12, em Brasília, diante do Palácio do Planalto, que está pronta para ocupar as ruas do País com suas bandeiras vermelhas. Depois dos Black Blocs ganharem as manchetes com suas ações de terrorismo social, o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) ressurgiu de um período de hibernação para mostrar capacidade de mobilização e disposição integral para o enfrentamento com o governo em todas as suas formas, inclusive a policial. Na versão 2014, os rebeldes de bonés igualmente vermelhos, como o que já foi assentado na própria cabeça pelo então presidente Lula, já vão sendo chamados de Red Blocs.



À primeira vista, eles podem representar a retomada do protagonismo nas manifestações políticas por uma força organizada desde sempre identificada com a esquerda. Ao contrário dos anárquicos Black Blocs, os Red Blocs do MST tem uma causa definida, a reforma agrária, mas, assim com os mascarados de preto, não se furtam a usar da violência para aumentar a repercussão de seus atos.



No passado, a invasão seguida de ocupação de uma fazenda que pertencia à família do então presidente Fernando Henrique mostrou, entre outros episódios, que o MST não é exatamente um guardião da paz e das instituições. Conflitos como o de Eldorado dos Carajás, que terminou no massacre de 19 manifestantes, em 1996, marcam com sangue a história da organização.



Nesta quarta 12, outra vez a característica de busca pelo conflito se fez presente. Uma passeata que reuniu os 15 mil participantes do 6º Congresso do MST terminou em tentativa de tomada do Palácio do Planalto. Homens do exército e da Polícia Militar precisaram ocupar a sede da Presidência da República para evitar que o ataque, com derrubada de gradis e arremessos de paus e pedras, resultasse no que poderia ser uma ocupação de consequências dramáticas.



A presidente Dilma Rousseff, acusada pelo movimento de ter paralisado o processo de reforma agrária iniciado no governo Lula, foi eleita a inimiga número um dos sem terra. Eles não pretendem dar trégua a ela. Dois policiais foram feridos em razão de pedradas na cabeça.



O tumulto causado na Praça dos Três Poderes levou à suspensão da sessão em curso do Superior Tribunal Federal. Os ministros também temeram que a ira dos manifestantes se voltasse contra o edifício da corte.



Na lei anti-terrorismo ensaiada pelo governo, manifestantes de "causas sociais" teriam um tratamento diferenciado quando flagrados em atitude de conflito, submetidos a um tramento menos rigoroso do que o dado aos despolitizados Black Blocs.



Com a escolha da presidente Dilma como adversária, os Reds do MST não deverão ser vistos ao lado de militantes do PT em futuras manifestações. Mas, paradoxalmente, eles podem estar resgatando o espaço para que a esquerda de cara à mostra possa voltar a aparecer com seus militantes em público. Para não ficar atrás, o PT tende a retomar a antiga disposição de organizar seus próprios atos de massa. Um momento importante para se conhecer essa disposição do partido será, ainda no primeiro semestre, o feriado de 1º de Maio.



Abaixo, notícia distribuída pelo MST sobre a manifestação realizada em Brasília:



Sem Terra param Brasília em luta pela Reforma Agrária Popular



12 de fevereiro de 2014



Por Alan Tygel e Márcio Zonta



Da Página do MST



A esplanada dos ministérios foi tomada de vermelho na tarde de hoje. Os cerca de 16 mil camponeses que participam do VI Congresso do MST marcharam os 9 km de ida e volta que separam o ginásio Nílson Nelson e a praça dos três poderes.

A manifestação pacífica teve como objetivo principal denunciar a paralisia da Reforma Agrária. "A Reforma Agrária no Brasil é uma vergonha. No último ano, foram assentadas sete mil famílias, sendo que só o MST possui 90 mil famílias debaixo da lona preta. No total, são 150 mil famílias acampadas no Brasil, muitas delas há mais de 10 anos.



Estamos aqui para denunciar que não estamos satisfeitos, e pedimos Reforma Agrária Popular já. Enquanto Dilma não atende os Sem Terra, dá dinheiro de mão beijada para o agronegócio e a Fifa. ", afirmou Kelli Marfort, do setor de Gênero do MST.

O primeiro alvo da passeata foi a embaixada norte-americana.



Integrantes do MST colaram cartazes nos muros da embaixada pedindo liberdade aos cubanos presos nos EUA e dando apoio a todos os que lutam contra o império.



"A bandeira do terror está aqui, semeando o ódio em todo o mundo. Os verdadeiros terroristas são eles", afirmou Ênio Bonenberg, dirigente do MST.



Em seguida, a marcha seguiu rumo ao Supremo Tribunal Federal, que recebeu a pacífica manifestação da maneira como costuma tratar a classe trabalhadora no Brasil. Bombas de efeito moral e gás de pimenta foram lançados contra a multidão que se acumulou em frente ao órgão federal.



O MST protestava contra a morosidade da justiça nos julgamentos de crimes cometidos no campo brasileiro, além do alto número de mortes nos últimos anos em conflitos agrários.



A postura de Joaquim Barbosa também foi lembrada pelos manifestantes, que em vários julgamentos costuma desencadear decisões políticas a favor de certos grupos, bem como gozar de privilégios por conta de seu cargo.



"É característico do comportamento do STF esse tipo de atitude, pois o MST sempre vem de maneira tranquila e organizada se manifestar, e criam algum tipo de provocação para nos deslegitimar. Vinte policiais agiram com brutalidade no meio de quinze mil pessoas para criar um fato político e legitimar a violência contra a gente", reclama Fábio Tomas, do MST de São Paulo.



O músico paraense Rafael Lima, que acompanhava os integrantes do MST na manifestação em Brasília, repudiou a violência policial. "Esse tratamento da polícia contra os movimentos sociais é histórica no Brasil, basta lembrarem dos massacres de Eldorado de Carajás e Curumbiara.", lamentou.



Enquanto parte dos manifestantes ficou em frente ao STF, o restante cruzou a praça dos três poderes em direção ao Palácio do Planalto. Lá, foram recebidos da mesma forma. Para chamar a atenção de Dilma, a marcha do MST montou um acampamento de lona preta em frente ao local de trabalho da presidenta. Faixas enormes perguntavam: "Dilma, cadê a Reforma Agrária?", e pediam que ela se libertasse do agronegócio.



Nesse momento, os integrantes do movimento avançaram em direção ao palácio, e a polícia utilizou spray de pimenta de forma generalizada, além de arma de choque e bombas. Quinze policiais atacaram os manifestantes que preparavam uma intervenção teatral. John Oliveira, de Ribeirão Preto, conta como começou a confusão:

"O ônibus com material da mística chegou e começamos a descer as cruzes. Os policiais viram, acharam que era uma coisa mais hostil e cercaram o ônibus. Na hora em que pegamos as cruzes, eles soltaram as balas de borracha. Eles bateram sem justificativa."



Perguntado sobre o motivo da confusão, João Paulo Rodrigues, da direção nacional do MST, explicou: "O primeiro motivo para o conflito é a não realização da Reforma Agrária. Em segundo lugar, temos uma polícia despreparada, ou muito preparada para gerar conflito. A polícia militar é responsável por tudo que aconteceu aqui.



Ou eles querem nos fazer de cobaia para treinar para a copa do mundo, ou então querem gerar conflito para desestabilizar o governador deles."



No total, doze manifestantes ficaram feridos, e um militante do MST foi preso. O Ministro Gilberto Carvalho chegou a propor uma reunião com a presidenta Dilma amanhã pela manhã. No entanto, devido ao comportamento hostil da polícia, a Direção do movimento ainda vai decidir se aceita ou não.



Reforma Agrária Popular

O MST está em Brasília desde o começo da semana realizando o seu VI Congresso Nacional. Para os militantes do movimento é de crucial importância fazer um protesto em Brasília nesse momento.

"Estamos vivendo um momento do agronegócio no país que não produz alimentos e apenas nos permite consumir veneno. É importante vir à capital federal pautar a nossa Reforma Agrária, a Popular", diz Edemilson Monteiro, militante do MST.



Para Rosa Andrade, que acompanhava o MST passar pelas ruas da cidade, a manifestação é uma forma do movimento dialogar com a população o quanto a Reforma Agrária no Brasil se faz necessária.

"Não há desenvolvimento no país sem haver Reforma Agrária, e essa pauta do movimento, de uma Reforma Agrária onde todos devem participar é importante, porque todos dependem da produção dos alimentos desse homens e mulheres para viver".



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