947 visitas - Fonte: Tijolaço
Como sempre, trago para este blog as opiniões de Paulo Nogueira Batista Jr., o mais claro e direto dos economistas brasileiros que concedem ao povo publicar suas análises.
Além da visão democrática e de defesa do Brasil, Paulo tem a vantagem de dar nome aos bois.
Ou, neste caso, a matilha financeira mundial que mostra seus dentes, agora, para os países emergentes.
De prodígios, num passe de mágica, passamos relapsos paisetes, até, provas – cabais e em dinheiro – de que seremos “bonzinhos”.
E no sanatório geral da economia, nestes tempos turbulentos, “pegarmos leve”, mantendo os níveis aceitáveis de “insanidade”, numa ordem econômica que não faz mais (se é que fez, um dia) sentido algum.
Hospício financeiro
Por Paulo Nogueira Batista Jr.
Nas últimas semanas, o foco da matilha financeira se deslocou novamente para os emergentes. “Schadenfreude” dos avançados: a crise voltou para os subdesenvolvidos — de onde nunca deveria ter saído!
O Brasil, junto com vários outros países, está na mira. Até que ponto corremos o risco de sermos tragados pela onda de instabilidade? O tempo dirá. Depende, é claro, da intensidade e duração dos choques externos. E da resposta da política econômica nacional.
A economia brasileira não está, certamente, na linha de frente da turbulência. Os mais atingidos por enquanto são os países que combinam crises políticas domésticas com políticas econômicas duvidosas — Argentina, Ucrânia e Turquia, notadamente. O Brasil faz parte de um segundo grupo — países com alguma vulnerabilidade, mas que apresentam maior solidez econômica e política e são mais resistentes a ataquess especulativos.
Não podemos, entretanto, nos fiar muito nisso. A experiência mostra que em momentos de aguda instabilidade diferenciações elementares podem desaparecer rapidamente. Por exemplo, quando o México entrou em colapso no início da década de 1980 — aquela que viria ser a “década perdida” para a América Latina — a equipe econômica brasileira proclamava ruidosamente: “O Brasil é diferente!” Era verdade, mas não adiantou. A economia brasileira acabou arrastada pela crise da dívida.
A mesma história se repete em cada episódio de crise financeira.
Os países, bancos ou empresas vulneráveis lutam desesperadamente para se diferenciar. O mote é sempre mais ou menos o mesmo: não me confundam, por favor, com os desvairados e enlouquecidos! O apelo nem sempre é considerado.
Os mercados financeiros costumam ser comparados a cassinos, mas a comparação melhor é com asilos psiquiátricos. Nesse ambiente, é difícil protestar sanidade. Costuma ser contraproducente.
O leitor conhece certamente a história do louco que proclamava em alto e bom som: “Eu sou Napoleão Bonaparte!”
Um colega de hospício duvidou: “Como é que você sabe?”
Resposta fulminante: “Foi Deus quem me disse!” Eis que, de uma sala ao lado, veio a exclamação ainda mais ruidosa: “Eu não disse nada disso!”
Em outras palavras, há sempre alguém mais louco do que você, mas nem por isso é fácil escapar do hospício. E não é com protestos ruidosos de sanidade que se consegue atestado de normalidade.
O essencial é dar demonstrações diuturnas de sanidade, preservando os fundamentos econômicos e tentar adotar as políticas consideradas racionais pelos mercados e pela comunidade internacional. Ou seja: ater-se exclusivamente às formas socialmente aceitas de insanidade.
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