1786 visitas - Fonte: Tijolaço
Minha avó dizia que pobre, quando vê muita esmola, desconfia.
Senti-me assim, ao ler a notícia, que saiu há pouco, de que o promotor Marcelo Milani, do MP de São Paulo está cobrando “das empresas que reformam trens do Metrô de São Paulo a devolução de cerca de R$ 800 milhões, valor que ele considera ser o prejuízo em razão de superfaturamento nos contratos” e que “se não houver essa devolução em 90 dias, Milani diz que vai entrar com uma ação judicial pedindo a dissolução das companhias”.
Não que faltem motivos ao promotor, porque os indícios de superfaturamento são flagrantes e o valor, por diversas vezes, foi calculado nesta faixa, até um pouco mais.E que empresas que se aquadrilharam com agentes públicos – e alguém acha que foram contínuos de luxo que negociaram um sobrepreço deste tamanho? – merecem e podem ser dissolvidas.
Mas eu tenho a impressão de que estes rompantes grandiosos, muitas vezes, ajudam a que as coisas não dêem em nada, com todo o respeito à iniciativa do promotor.
Se houve um superfaturamento de R$ 800 milhões houve um crime contra o Erário?
Quem foram os criminosos, do lado corrupto e do lado corruptor?
Como aconteceu e quem se locupletou?
A denúncia não surgiu agora, mas há quase dois anos, como você pode assistir aqui.
Em que pé está a investigação de mais de um ano e meio?
Na Alemanha e dos Estados Unidos, a Siemens teve de pagar uma fortuna, mas os dirigentes responsáveis também foram responsabilizados.
Não é questão de um simples acordo: devolve-se um “X” e não tem ação judicial.
Paramos nos bagrinhos?
Está claro que o esquema de propinas, se ocorria concretamente em cada contrato, era uma prática corrente e duradoura. Uma associação continuada de interesses escusos, que atravessa uma década.
Seria muito bom que acontecesse tudo o que o Sr. Promotor ameaça fazer, mas isso não vai ocorrer sem que o crime – continuado – de assalto aos cofres públicos esteja descrito, materializado e comprovado, com seus agentes ativos e passivos.
Afinal, de pantomimas já vimos o governador Alckmin nos dar a sua cota, ao ponto de um juiz mandá-lo refazer a ação, por inepta.
Afinal, R$ 800 milhões de dinheiro público não é coisa para se tratar assim, em cima da perna.
Porque, senão, é espetáculo para a galera.
O MP paulista dormiu neste ponto por anos. Pode ser que tenha mesmo acordado.
Mas não custa ficarmos de olhos bem abertos.
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