1683 visitas - Fonte: Tijolaço
Já que hoje estamos fazendo um tour pelo blog do Nassif, me parecem pertinentes alguns comentários sobre uma outra instigante análise do jornalista, desta vez sobre o hábito do Ministério Público paulista de vazar investigações sob segredo de justiça para determinados órgãos de imprensa.
Nassif observa que é hora de todo o Ministério Público fazer uma profunda reflexão sobre o seu relacionamento com a mídia.
O questionamento de Nassif toca num ponto sensível e profundo da democracia brasileira. Qual a função política do Ministério Público?
Está claro que o MP tem uma função política. Assim como o Judiciário. E aí reside o perigo que até o momento o governo jamais considerou. É público e notório que o MP brasileiro não tem igual no mundo. É o mais poderoso. A mesma coisa vale para o Judiciário. Juntos, eles formam um poderoso estamento social, segundo o clássico conceito de Weber.
O perigo, a meu ver, está no seguinte ponto: quais são os meios pelos quais esses estamentos se informam? A grande imprensa brasileira, como a conhecemos, enquanto também um estamento social importante, ganha dinheiro vendendo produtos a todas as classes sociais, mas a fonte de seu poder reside principalmente na sua penetração junto às classes dirigentes, as classes médias altas, que formam os estamentos superiores das empresas públicas e privadas no país.
Por exempolo, a mídia não define quem serão os melhores escritores do país, mas o seu apoio é vital para a sobrevivência, inclusive física, de qualquer profissional da literatura.
A hegemonia ideológica da mídia junto às camadas superiores do funcionalismo é a única explicação para as truculências inacreditáveis que assistimos durante a Ação Penal 470. E a única também que justifica o fato do Ministério Público inclinar-se, de maneira tão constrangedora, a confundir as pastas, esquecê-las, quando se trata de investigar quadros ligados à direita partidária ou empresarial.
Mais perturbador que tudo, porém, é a suspeita de que há elementos do MP fazendo dobradinha com a mídia. Por isso, é tão importante que sejam estabelecidos protocolos mínimos de comportamento entre os serviços de investigação e os órgãos de imprensa, para que não vejamos o surgimento de núcleos subversivos, ou mesmo golpistas, de ação política, que tentem ganhar o poder não através do voto, e sim através de conspiratas institucionais.
Aliás, estamos diante de uma grande ironia histórica. Mídia e Supremo trataram articulações eleitorais e parlamentares, de partidos e quadros que jamais intentaram ganhar o poder de outra forma que não via sufrágio universal, como um “golpe” para se “perpetuar no poder”. A existência de esquemas de caixa 2 não implica em intenção golpista, porque se todos os partidos a praticam, poderíamos chamar-lhe, algo cinicamente, de uma subversão igualmente “democrática”.
Entretanto, estamos diante da velha inversão de valores. Os que lutam via eleições seriam os golpistas. Os que tentam ganhar no tapetão judiciário, numa dobradinha com ministério público e mídia, passando por cima do eleitor, estes são os “salvadores da democracia”.
A inversão de valores é a tradição mais antiga e mais duradoura da imprensa brasileira. Vide os editoriais nos primeiros dias que sucederam o golpe de 1964. Por eles, o Brasil nunca viveu dias mais profundamente democráticos. Segundo os mesmos jornais, nunca houve uma ação política mais genuinamente democrática do que a derrubada de João Goulart. Eles – os órgãos de imprensa hegemônicos – continuam os mesmos, governados pelas mesmas famílias, sustentados pelas mesmas agências de publicidade, influenciando decisivamente, hoje como ontem, segmentos poderosos dos “estamentos” superiores.
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