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Um exemplo clássico de como a grande mídia não aprendeu ainda a lidar com as novas mídias é a relação bipolar das organizações Globo com o Facebook. Em um rompante de estrelismo e tomada por uma lógica que seus executivos tentaram explicar mas ninguém entendeu, a toda poderosa decidiu no ano passado parar de postar links em suas postagens no Facebook. Desde então, eram feitas apenas chamadas em texto, orientando o leitor a acessar diretamente o site em questão (G1, Globo.com, site de O Globo, Época.com.br etc.) no navegador. No entanto, 2014 começou com uma mudança nos planos e as páginas oficiais do sistema voltaram a postar links.
Mais que postar links, porém, alguns sites do grupo resolveram mudar a abordagem. E, claro, vêm recebendo muitas críticas. É verdade que não há nesse mundo marca que esteja livre de comentários negativos no Facebook. Falar mal, seja lá do que for, é o esporte favorito de uma tropa de chatos que dá plantão na rede de Mark Zuckerberg à espera de qualquer brecha para transformar uma palavra sem acento numa falta de respeito à inteligência do leitor letrado (que muitas vezes escreve o comentário com mais erros que o post criticado). Falar mal da Globo, então, é a pelada de sábado desse batalhão. Mas, nesse caso em questão, até que algumas reclamações fazem sentido.
Quando interagem com organizações nas redes sociais, as pessoas atribuem às respectivas marcas características que as distinguem umas das outras, com base nas impressões que cada uma deixa. É como formar opinião sobre o caráter de um amigo na rede. Há aquele que só fala de si, o que só fala dos outros, o que critica o governo, o que escreve bem, o que escreve mal, o que consegue apoio de todo mundo, o que não tem um like sequer. Da mesma maneira, é com as marcas. Quando uma página muda seu jeito de falar, é como se o amigo que só fala de si passasse a falar do governo, o culto passasse a postar diariamente clipes de Valesca Popozuda. E foi mais ou menos isso que aconteceu com o site do jornal O Globo, por exemplo.
Um dos jornais mais tradicionais e metidos a besta do país resolveu falar como o Meia Hora. Poucas horas depois, achou que posar de Superinteressante poderia gerar mais engajamento. E logo em seguida mudou para uma linguagem mais Esporte Interativo. Só faltou colocar a interrogação no meio da foto. E aí o público começou a desconfiar de que o problema não era mais bipolaridade, mas esquizofrenia.
O GLOBO ataca de Superinteressante
As mídias sociais são mesmo uma caixa de Pandora. Google e Facebook, principalmente, com seus algoritmos que mudam de instante em instante, deixam qualquer profissional meio tonto. O que vale hoje, talvez, amanhã não valha mais. O que não pode, no entanto, é uma marca anular sua própria identidade, tentando parecer o que não é, para agradar um público que, no fim das contas, ninguém consegue descobrir com precisão quem é e o que quer.
A nova estratégia da Globo pode até acabar dando certo no quesito taxa de cliques e engajamento. Primeiro, porque o estilo apelativo gera, sim, interesse, por mais que falem mal. E quando estão falando mal, estão interagindo, dando vida àquele conteúdo. Mas não há nada eterno no Facebook. O tempo bom vira tempestade muito rápido. E quando tudo vai por água abaixo, só a força da marca para segurar. Arriscar uma reputação de décadas pelo pragmatismo do clique é perigoso. É preciso encontrar o meio termo. E esse é o grande desafio.
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