Juros: a única coisa em que não querem que o Brasil imite o mundo

Portal Plantão Brasil
17/1/2014 09:33

Juros: a única coisa em que não querem que o Brasil imite o mundo

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1128 visitas - Fonte: Tijolaço

O Brasil vive ainda sob um império colonial.

Onde o capital rentista é a metrópole que não se contesta.



O país avança, progride, enriquece mas, como quando do “quinto” da Coroa portuguesa, vive sob o tacão de uma apropriação feroz de suas riquezas feita pela via dos juros.



A rigor, é até inacreditável que o país continue crescendo com taxas de juros públicas que, em qualquer parte do mundo, estariam levando uma nação à recessão.



Não levaram, mas certamente levaram à capitulação a política desenvolvimentista que visava a normalizar estas relações financeiras.



E mais inacreditável ainda que a oposição política a este modelo não seja a que quer reduzi-las, mas a que quer aumentá-las ainda mais.



O quadro acima (você pode vê-lo completo aqui e aqui) dispensa explicações.



Os juros, no Brasil, estão distantes de serem uma questão econômica: são caso de política, para não dizer de polícia, pelo assalto continuado que nos representam.



Por muito menos os norte-americanos jogaram ao mar as caixas de chá.



Mas eles, claro, pretendiam ser uma nação e contavam com uma elite que desejava isso, ardentemente.



Sem mais, ao texto cheio de lucidez de Saul Leblon, hoje, na Carta Maior.





O Vesúvio rentista



Há um vulcão fumegando nas entranhas da economia brasileira.



Avisos de lava em ebulição são emitidos aqui e ali desde abril passado.



Na última 4ª feira, ele cuspiu pela sétima vez na cabeça da Nação.



A nova elevação de 0,5 ponto na taxa de juro reafirma um desarranjo em profundezas intestinas.



Vozes tranquilizadoras adiantam que uma 8ª, quem sabe 9ª, irrupção do Vesúvio rentista é inevitável –benéfica, de fato.



O que se passa de fato no interior da cratera que ora urra, ora faísca e ameaça explodir tudo, é de qualquer forma sonegado à população.



Explicações sumárias, supostamente técnicas, ofuscam mais do que esclarecem.



Os juros sobem porque é preciso conter a inflação, explica o coral que convida para o grande baile da restauração ortodoxa.



Mas ao subir não inibiriam eles o investimento produtivo que se persegue como crucial?



E não atrairiam fluxos especulativos de capitais, que valorizam o Real e barateiam as importações --com efeitos dissolventes na estrutura industrial, além de inibir as exportações?



Ademais de reduzir o nível de atividade , não penalizariam a relação dívida/PIB estreitando a margem de manobra fiscal do governo --antessala de cortes ou protelações de investimentos públicos inadiáveis? (Leia a coluna da economista Jaciara Itaim; nesta pág)



Desse nó nas tripas o distinto público toma conhecimento apenas pelas irrupções intermitentes.



Copiosas considerações de vulgarizadores asseveram a pertinência da purga incandescente. O Vesúvio, antes de ser ameaça, é benção.

Toca o baile! -- aconselham especialistas em convencer nações inteiras a dançar no ritmo das lavas fumegante, com resultados que não deixam Pompéia sozinha no museu das catástrofes.



O nonsense aparente não é aleatório –faz parte da crise.



Entorpecer a agenda do país é um recurso constitutivo da luta pela repartição da riqueza, que só terá desenlace progressista se a sociedade conquistar o discernimento histórico do que está em jogo nesse baile de máscaras.



Distinguir a natureza dos interesses em confronto no salão, ademais das escolhas que eles encerram --e as suas implicações, não é café pequeno.



Requer, por exemplo, libertar-se da hipnótica orquestração comandada a partir do Jornal Nacional.



E adquirir imunidade aos esporões liberados pelos vulgarizadores, que alardeiam os interesses dos endinheirados como se fossem os de toda a nação.



Interditar o debate político da encruzilhada brasileira é uma forma de circunscrever as opções do país aos estritos limites da boca do vulcão rentista.



As eleições presidenciais de 2014 se oferecem como a oportunidade concreta de ir além das lamúrias e da rendição.



Vence-las, sem dúvida é o imperativo.



O que se deve perguntar é como essa vitória deve ser construída para que não seja apenas inercial, mas erga pontes ao passo seguinte da luta pela construção da democracia social brasileira.



A barragem de votos pode alterar as bases de um diálogo do qual a sociedade hoje sai invariavelmente chamuscada?



Quando o Vesúvio expele sua lava incandescente é como se dissesse não:

‘O Estado pode flertar com o pleno emprego, mas o estoque da riqueza financeira não deve ser depreciado; e a fatia que ele detém no fluxo da renda é intocável’.



Ou seja, ‘mãos ao alto, isso é um assalto: passe para cá os 3% do PIB para pagar os juros da dívida pública e garanta uma Selic com ganho real acima da inflação que nada lhe acontecerá’.



É tautológico dizer que o ‘governo petista aceita’ as condições impostas pelo mercado.



O governo se mexe na pinguela estreita que a atual correlação de forças reserva à mobilidade social brasileira.



Correlações de forças, a exemplo das vantagens comparativas na esfera econômica, são uma construção histórica de cada povo e de cada época, não uma fatalidade da natureza.



Mas existem. E tem peso objetivo não apenas no plano interno.



Um governo que entre em choque com a tríade rentista (FMI, agencias de risco, grandes bancos) simplesmente não encontra um guichê internacional para se abrigar dos caças bombardeio e assegurar um fluxo alternativo da ordem de dezenas de bilhões de dólares .



A inexistência desse contraponto diz muito do aparente paradoxo entre a anemia eleitoral do conservadorismo nativo e a sua força de sabotagem vocalizada pela mídia.



Doze anos de governos progressistas elevaram a participação do salário no PIB para algo em torno de 51% no Brasil ( o dado disponível do IBGE é de 2009; estima-se que tenha se mantido assim até 2012).



No ciclo tucano (1995/2003) essa fatia oscilou entre 49% e 46%.



Estamos falando, portanto, de uma reversão na luta pela riqueza, que até 2003 premiava invariavelmente as rendas do capital.



O que o vulcão rentista passou a urrar, e cada vez mais alto, é que essa espiral bateu no teto.



‘No passara’, avisa.



O interdito afeta todo o metabolismo econômico e contribui significativamente para agravar os impasses em curso.



A saber: descasamento entre demanda e infraestrutura, desequilíbrio cambial, desindustrialização dissolvente e déficit preocupante em contas correntes.



Não é uma questão de ‘inconsistência do modelo petista’, como alardeiam os zeladores do dinheiro grosso alocados nas editorias de economia.



É uma questão de conflito de interesses.



A macroeconomia não opera em uma dimensões celestial onde vigem os mercados autorreguláveis, os agentes racionais e seus querubins midiáticos.



O chão da macroeconomia é a correlação de forças e os sinais são de que ela mudou o patamar de sua tensão no país.



Elevar o discernimento social sobre essa encruzilhada e se preparar para superá-la, erguendo linhas de passagem entre as eleições de outubro e o futuro, é a opção concreta que se coloca à frente progressista brasileira.



Lamúrias radicais diante de um vulcão não logram vantagem nem no quesito decibéis.



Mas tampouco aquiescer aos seus ditames garantirá a indulgência das lavas, como parece crer um certo economicismo que aconselha ir às urnas vestido de estátua de cinzas.



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