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Melissa entre os colegas eleitos (foto William Alatriste, NYCC)
por Luiz Carlos Azenha, em Nova York
Melissa Mark-Viverito foi eleita na semana passada a presidente da Câmara dos Vereadores de Nova York.
É a primeira vez que uma mulher de origem portorriquenha, do East Harlem, vai comandar a câmara.
Diante da penúria dos resultados da esquerda nos Estados Unidos, nas últimas duas décadas, a vitória de Melissa foi interpretada como sinal de que o prefeito recém-empossado, Bill de Blasio, fará um governo liberal puro sangue. Blasio é o primeiro democrata eleito prefeito da cidade em 20 anos.
Melissa só conquistou o cargo porque o Working Families Party, o Partido das Famílias Trabalhadoras, aliado dos democratas, colocou o peso da bancada que apoiou para trabalhar por ela.
Em Nova York, apenas 3 dos 51 vereadores recém-eleitos são republicanos.
Mas o Partido Democrata é um verdadeiro saco de gatos, onde cabe tudo.
Entra o WFP.
Nas eleições gerais, o partido tira proveito do que é chamado de “fusion vote”, uma figura da legislação eleitoral novaiorquina que permite a mais de um partido apoiar o mesmo candidato. Os votos são contados separadamente para cada partido, mas podem ser “fundidos” depois.
O WFP treina novas lideranças e eventualmente as apoia para disputar cargos públicos.
O partido conta com apoio de militantes de poderosos sindicatos de funcionários públicos de Nova York.
Ele se define como um partido social democrata clássico, na linha do Partido dos Trabalhadores brasileiro.
Prega financiamento público de campanhas, fim do resgate aos bancos de Wall Street, investimentos maciços em transporte público e o fechamento de uma brecha na lei que permite a proprietários de imóveis escapar da lei que estabiliza o valor do aluguel na cidade, dentre outras coisas.
O pessoal do WFP é bem pragmático: na campanha de Bill de Blasio, endossou uma plataforma curta, grossa, rápida e objetiva.
Sim, sim, há muitas outras promessas, mas o candidato disse que vai taxar os mais ricos e obter o dinheiro necessário para colocar todas as crianças de Nova York na escola pública a partir dos 4 anos de idade, o chamado Pre K. É uma das grandes preocupações das mães trabalhadoras da cidade.
A plataforma foi vendida como forma de combater a desigualdade: tira dos ricos para financiar a educação dos pobres.
De olho nas eleições parlamentares de 2014, os democratas já começaram a organizar a campanha em torno do mesmo tema, o combate à desigualdade, certos de que podem repetir em escala nacional o sucesso de Nova York (de Blasio se elegeu com 73% dos votos).
Enquanto isso, já se fala no impeachment do tucano Chris Christie, o falastrão que governa o estado vizinho, de New Jersey.
Até recentemente ele era visto como fortíssimo candidato à Casa Branca pelo Partido Republicano em 2016.
De procurador-geral durão, que colocou muita gente na cadeia, Christie ‘amoleceu’. Passou a propor ações bipartidárias para enfrentar os problemas do estado. Disse que este seria o modelo ideal também para o país. Puro marketing para tirar proveito da ideia disseminada entre os eleitores de que os problemas da política norte-americana derivam da falta de entendimento entre republicanos e democratas. Na verdade, os dois partidos hoje são reféns do dinheiro gordo, assim como o próprio Christie.
Mas o Demóstenes Torres de New Jersey — sem ofensa a Christie — é uma farsa.
Corre risco de se tornar vítima do Pontegate.
É um episódio tão bizarro quanto revelador do baixo nível da política dos Estados Unidos. No ano passado, assessores do governador mandaram fechar várias faixas da ponte mais movimentada do mundo, a George Washington Bridge, com o objetivo de punir um prefeito democrata de uma cidade onde se origina boa parte do tráfego do lado de New Jersey.
O prefeito havia se negado a apoiar a campanha de reeleição de Christie, o que o grupo político dele considerava essencial justamente para fazer o marketing do apoio bipartidário ao governador.
Durante três dias, milhares de pessoas passaram três, quatro horas presas no trânsito da GWB, que é infernal mesmo em condições normais.
Com esse tipo de oposição tucana, não é pouco provável que Hillary Clinton se eleja presidente em 2016.
Até lá, o minúsculo WFP não terá tempo de ter impacto em escala nacional.
Mas, num país em que a política vem guinando à direita, de forma ininterrupta, desde 1982 — ou seja, por mais de trinta anos — há no ar um pequeno sinal de que o pêndulo pode ter começado a se mover para o outro lado.
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