Vende-se negros no Mercado Livre

Portal Plantão Brasil
8/1/2014 19:49

Vende-se negros no Mercado Livre

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"Eu não tenho nada contra negros. Eu gosto deles. Gosto tanto que acho até que cada um deveria ter o seu!" - essa frase, acompanhada por gargalhadas dos que almoçavam conosco, foi disparada pelo pai de um amigo quando abordaram o tema preconceito. As risadas revelaram não o racismo, mas o bom humor daquela família de classe média paulistana. Após o chiste, todos ali sentados fizeram questão de reforçar o quão despidos de preconceito são e iniciaram relatos sobre suas experiências antirracistas, tais como: contratação de funcionários negros, o bom convívio com a cunhada "moreninha" e o clássico "até tenho amigos que são". Foi assim que o Pequeno Wando, aos 11, foi apresentado à democracia racial brasileira.



Mas, enfim, a democracia é linda, a vida é bela e o mercado é livre. Tão livre que o humor da nova geração de humoristas chegou no site de mesmo nome, o feirão virtual de compra, venda e troca de produtos chamado Mercado Livre.



Nesse início de ano, um anúncio todo trabalhado no humor politicamente incorreto foi aprovado pelo site.



Logicamente trata-se de uma peça de humor, nada a ver com preconceito. É a versão digitalizada da piada do pai do meu amigo.



Muita gente achou engraçado e fez ofertas e comentários brincalhões:







Nada como desfrutar da liberdade de expressão da maneira mais descontraída possível.



Mas ainda bem que o Brasil é um país que esbanja tolerância. Tanto que as estatísticas, apesar de mostrarem negros recebendo salários menores que os brancos nas mesmas funções, indicam que apenas 4% dos brasileiros se consideram racistas, apesar de 87% admitir a existência de discriminação racial no país. Parece piada, mas não é. Isso quer dizer que quase todos os brasileiros até acreditam na existência do racismo, mas nem 5% se considera racista.



Nesse contexto brasileiro, em que os racistas não existem, brincar de traficantes de escravos na internet não chega a ser um escândalo. O racismo, claro, está muito mais presente na visão dos carrancudos patrulheiros do que na sociedade. Falta-lhes a ousadia, a alegria e a malemolência típicas do brasileiro. No nosso país, a harmonia entre os povos está tão consolidada, que relembrar com deboche dos tempos da escravidão não fere a moral do autor da brincadeira. Pelo contrário, você pode até ser valorizado por enfrentar os "falsos moralistas" que enxergam racismo em tudo. Pode até ganhar um programa na TV, uma coluna no jornal ou virar um humorista de sucesso.



Para muita gente, o holocausto promovido por Hitler é muito mais chocante que a escravidão no Brasil, evento encerrado apenas algumas décadas antes do nazismo. Talvez seja por isso que Danilo Gentili tenha pedido desculpas para a comunidade judaica, indignada com uma piada sua. Já para o negro indignado, o humorista ofereceu bananas.



E o que a empresa Mercado Livre tem a ver com o que seus usuários postam? Nada, a não ser o fato de que essa não é a primeira nem a segunda vez que isso acontece nesse site. Vejamos o anúncio postado em fevereiro do ano passado:







Só que o negro em questão existe e se revoltou nas redes sociais ao ver seu nome estampado no Mercado Livre. Quando se dirigia à delegacia para registrar queixa, o rapaz recebeu a visita do autor do anúncio, que pediu desculpas e disse que tudo não passava de uma grande brincadeira.



E o Mercado Livre, apesar de não ser responsável pela autoria das piadas, também não faz grandes esforços para combater esse recorrente tipo de "venda". Se você tentar inserir um número de telefone ou endereço de email no comentário de algum anúncio, imediatamente será impedido pela inteligência do sistema. Essas mesmas dificuldades você não encontrará se tentar vender um ser humano. Pelo contrário, teu anúncio ficará tempo suficiente para divertir muita gente.



Reparem na imagem acima quantas pessoas curtiram a piada no Facebook: cinco mil. Nenhuma delas é racista. Todas são apenas incorretamente bem humoradas.



PS: com informações de @MariaRitaaaah, do site Blogueiras Negras



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