Folha: "rolezinhos" são produto da desigualdade

Portal Plantão Brasil
2/1/2014 13:41

Folha: "rolezinhos" são produto da desigualdade

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1552 visitas - Fonte: Brasil 247

Editorial do jornal tenta decifrar a lógica desse novo fenômeno, em que a cultura da periferia provoca a classe média, mas sem violência; "Igualdade e desigualdade, provocação e inofensividade, celebração e medo se misturam nos "rolezinhos"; num plano mais abstrato, ordem e progresso, ao lado de desordem e estagnação, fazem do fenômeno um retrato especialmente nítido do Brasil de nossos dias", diz o texto



Como decifrar a lógica dos "rolezinhos", fenômeno social novo, conduzido por jovens da periferia, que levam novas formas de cultura e afirmação social para espaços típicos da classe média, como os shopping-centers? A Folha de S. Paulo, em editorial publicado nesta quinta-feira, dá sua interpretação:



"Rolezinhos"



O objetivo seria "tumultuar, pegar geral, se divertir, sem roubos". Assim é definido, por seus próprios participantes, o "rolezinho", que chegou a reunir 6.000 jovens da periferia numa única ocasião.



No dia 7 de dezembro, foi esse o número dos que atenderam à convocação das redes sociais para um encontro num shopping paulistano. Também a polícia compareceu, como é recomendável e de praxe em aglomerações dessa monta.



Parte dos frequentadores do centro comercial assustou-se com a cena, que, sem ser prenúncio de atividade criminosa, não escondia suas intenções contestatárias.



Trata-se de questionar a cultura do consumo, o exclusivismo dos espaços frequentados pelas classes abastadas e a suposta discriminação racial que lhe seria subjacente.



"É arrastão", exclamou alguém. Deu-se o corre-corre, e quatro jovens terminaram sendo encaminhados à delegacia mais próxima.



Conseguiu-se, assim, colocar o "preconceito social" em primeiro plano. Mas é de perguntar o quanto há de discriminatório na atitude dos que, cientes do risco real de arrastões e vandalismo no Brasil, entraram em pânico ao ver tantos jovens num mesmo lugar, com intenções não de todo explicitadas.



Os "rolezinhos" se repetiram, acompanhados de intenções duvidosas de enquadrá-los em algum artigo da legislação penal.



A novidade do fenômeno e a sutileza com que foge a classificações estabelecidas são sinais de algo nada novo: as imensas desigualdades de renda do país criam formas de segregação espacial, e áreas privadas, como os shopping centers, substituem, por razões de segurança e de pasteurização social, lugares tradicionais do convívio público, como ruas e praças.



O incremento da renda das classes baixas e o maior acesso à informação tornaram mais aguda a percepção das diferenças que, paradoxalmente, começaram a se tornar menos dramáticas.



Ao acesso a bens de consumo vêm somar-se outras reivindicações: o ingresso em espaços públicos, a luta pelo reconhecimento, a denúncia do preconceito --que se faz, num novo paradoxo, mais pela afirmação das diferenças de cultura, vocabulário, roupa e comportamento do que pela vontade da imitação e da fusão indiferenciada com o estrato superior.



Igualdade e desigualdade, provocação e inofensividade, celebração e medo se misturam nos "rolezinhos"; num plano mais abstrato, ordem e progresso, ao lado de desordem e estagnação, fazem do fenômeno um retrato especialmente nítido do Brasil de nossos dias.



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