2197 visitas - Fonte: Conversa Afiada
“Socialismo com características chinesas” é uma das frases que definem Deng Xiaoping – e a China.
Assim como Mandela não virou tucano – só faltou fazerem-lhe branco de olhos azuis –, a China e Deng não se tornaram capitalistas.
São comunistas.
Como foi Mandela.
Aqui, há uma certa dificuldade de entender que o Brasil não é mais tamanho “P”, como no Governo do Príncipe da Privataria.
O tamanho “P”, “P” de “tirar o sapato, serve à ideologia colonizada, que pretendia eternizar a subalternidade do Brasil – com as mesmas peripécias ideológicas com que tentaram embranquecer o militante da luta da armada conhecido como Mandiba e retirar a “característica” comunista do regime chinês.
O Brasil agora é do tamanho “G”.
Na Big House é difícil entender isso, porque, também, há duas pragas que assolam o país.
Primeiro, é o “são-paulo-centrismo”, em vias de extinção.
São Paulo não pensa o Brasil, dizia o mestre Fernando Lyra – clique aqui para ler “o importante é o rumo”.
A outra praga é a hegemonia dos “economistas” sobre nas reflexões sobre o Brasil.
Não se estuda mais de Política – não essa politiquinha congressual, de Brasília (outra praga !) – , História, Geografia, Demografia, Filologia, como recomendava Giambattista Vico, que, por acaso estudou em Nápoles e, não, em Chicago.
Como dizia o Lord Keynes, não há Economia sem História.
Mas, aqui, como se sabe, Keynes não chega nem perto da Urubóloga.
Diante dessas deficiências estruturais, o Brasil tem uma certa dificuldade de entender o que se passa à sua volta, muito além do superávit fiscal do Delfim e da calvície do Renan.
O ansioso blogueiro recorre em sua ajuda ao Saul Leblon, que acaba de escrever breve – como recomenda a linguagem da blogosfera – obra-prima, ao explicar por que o minúsculo Aécio Never não tratou do pré-sal quando lançou seu “programa”.
Não tratou, porque o pré-sal e a nova base de produção de energia do Brasil criaram um país do tamanho “G”, que os neolibelês (*) não conseguem captar.
Ou, deliberadamente, tentam ocultar.
Disse Leblon:
“… a omissão fala mais do que consegue esconder.
O pré-sal, sobretudo, avulta como o fiador das linhas de resistência do governo em trazer a crise global para dentro do Brasil, como anseia o conservadorismo.
Um dado resume todos os demais: estima-se em algo como 60 bilhões de barris os depósitos acumulados na plataforma oceânica. A US$ 100 o barril, basta fazer as contas para concluir: o Brasil não quebra porque passou a dispor de um cinturão financeiro altamente líquido expresso em uma fonte de riqueza sobre a qual o Estado detém controle soberano.
A agenda mercadista não disfarça o mal estar diante dessa blindagem, que esfarela a credibilidade do seu diagnóstico de um Brasil aos cacos.”
Nessa mesma linha – quais medidas definem um tamanho “G” – o ansioso blogueiro vai buscar o discurso que a Presidenta Dilma fez em Ipojuca, no lançamento da plataforma P-36:
“Como este (Atlântico Sul) tem muitos outros estaleiros pelo Brasil afora. Nos vamos ter muita contratação daqui pra frente. Só este ultimo campo de Libra precisa de 12 a 18 plataformas, mais para 18 do que para 12 … O Brasil vai se transformar, necessariamente, no maior produtor de plataformas de petróleo do século XXI. A gente tem de pensar grande, do tamanho do Brasil”.
Para se deter em algumas noticias recentes.
A compra dos Gripen e seu impacto no conjunto de uma indústria de Defesa para proteger o pré-sal.
As duas concessões da BR-163, que vai de São Paulo a Vilhena em Rondônia e a Santarém no Pará.
O terminal de carga de Rondonópolis.
A concessão de Ferrovia FICO, que sairá de Campinorte, em Goiás, atravessa Lucas do Rio Verde e segue até Rondônia.
Para falar um pouco de Lucas do Rio Verde, que o ansioso blogueiro visitou recentemente – como visitou Sinop e Rondonopolis.
Lucas produz 800 mil tonelada de soja por ano, 1 milhão e 500 mil de milho (vai produzir etanol de milho, já, já) e abate, na BRF, 300 mil aves por dia, e 4.750 suínos.
Ali também se criará um terminal de carga em torno da ferrovia FICO e da expansão da 163.
Outras ferrovias virão, assim como eclusas e os portos serão abertos, vencidas as resistências criadas em torno do que Garotinho, da tribuna da Câmara, chamou de Emenda Tio Patinhas.
As mudanças físicas, de cimento, tijolo, asfalto e trilho – isso tem um efeito de fissão nuclear, muito mais poderoso do que o “aumento da produtividade”, ou do “destravamento do gargalo”.
A reorganização do espaço físico impulsiona um átomo contra o outro, que gera um novo e mais amplo choque de átomos que, em cadeia, e em velocidade maior, produz energia, luz !
(Quem manda os economistas de São Paulo não estudarem Física !)
A revolução da Geografia faz milagres.
Perguntem ao Abraham Lincoln por que ele preferiu fazer a ferrovia que liga Chicago a Sacramento na Califórnia, e, não, em direção ao Sul …
Não foi para acabar com um gargalo, porque nações não são garrafas.
A incorporação irreversível de pobres ao mercado de consumo, à carteira assinada e à universidade.
A redução da taxa de natalidade da mulher brasileira, que foi estudar e trabalhar.
A mulher brasileira hoje tem 1,9 filhos.
Tinha, 50 anos atrás, 6 !
O deslocamento da geo-economia do são-paulo-centrismo para o resto país – a renda do Rio passa a de São Paulo e a cidade de São Paulo investe a metade, per capita, do que investem Vitoria, Belo Horizonte e Rio.
São Paulo é o único lugar do Brasil onde não se vê guindaste.
(Boa parte da “crise” disseminada pelo PiG (**) advém dessa perda de substância do poder político de São Paulo: se Cerra, definitivamente – o ansioso blogueiro tem muitas dúvidas … – não for candidato, será a primeira vez, desde Dutra, que não haverá um paulista candidato a Presidente.)
O deslocamento do alinhamento estratégico do eixo Sul-Norte para o eixo Sul-Sul.
O Brasil já chega ao Pacífico por terra e será economicamente e politicamente um país bi-oceânico.
Essa misturança ideológica que os paulistas e os economistas impuseram ao Brasil resultou no esvaziamento dos princípios do Nacionalismo.
Os colonizados da rua Oscar Freire, que sonham com Miami e acordam com o fedor do rio Tietê, não podem nem ouvir falar em Nacionalismo !
Isso é coisa de pobre !
De comunista !
É por isso que o ansioso blogueiro lamenta que o Brasil não tenha um Celso Furtado.
Como se sabe, Celso é o único economista brasileiro de curso internacional.
O pensamento neolibelês brasileiro, de Visconde de Cayru, Ruy Barbosa, Eugenio Gudin, Roberto Campos, Fernando Henrique Cardoso, Gustavo Franco, André Lara Resende e sua mais insigne representante, a Urubóloga, não passou da rua Dona Veridiana, em Higienópolis.
Falta um Celso para desenhar esse Brasil de tamanho “G”.
Celso explicou ao Brasil e ao mundo o que significava o “sub-desenvolvimento”.
E como derrotá-lo.
Celso teria plenas condições para entender o Brasil “G”.
Como observou o historiador Luiz Felipe de Alencastro, no prefácio da edição comemorativa dos 50 anos de “Formação Econômica do Brasil”, Celso seguia pela esquerda do keynesianismo – o investimento estatal como gerador de demanda – emprego !
Além disso, como nacionalista até dormindo!, Celso sonhava com a Integração, com um Brasil só, inteiro e soberano.
Com esses instrumentos teóricos de historiador, político, Ministro da Cultura – e economista, ao lado de Kaldor, Sraffa, Joan Robinson, Dobb e seu colega de sala em Cambridge, Amartya Sen – Celso teria condições de desenhar esse novo Brasil.
Irreversível.
Vencedor.
Que não cabe nos medíocres programas neolibelês.
Que jamais vão entender o que significa “capitalismo com características brasileiras”.
Porque não leram a “Formação Econômica” do Celso – na hora certa.
Celso daria ossos e músculos a um novo nacionalismo – rejuvenescido pela soberania popular.
Paulo Henrique Amorim
(*) “Neolibelê” é uma singela homenagem deste ansioso blogueiro aos neoliberais brasileiros. Ao mesmo tempo, um reconhecimento sincero ao papel que a “Libelu” trotskista desempenhou na formação de quadros conservadores (e golpistas) de inigualável tenacidade. A Urubóloga Miriam Leitão é o maior expoente brasileiro da Teologia Neolibelê.
(**) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.
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