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Vitor Abdala
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – O número de baleados atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no estado do Rio de Janeiro cresceu 27% nos dez primeiros meses de 2013, na comparação com o mesmo período de 2012. Segundo dados do Ministério da Saúde, de janeiro a outubro de 2013, foram feitas 1.131 internações de pessoas baleadas no estado, 242 a mais do que no mesmo período de 2012 (889 internações).
Esse é o número mais alto desde 2007, primeiro ano do governo de Sérgio Cabral, quando foram feitas 1.465 internações entre janeiro e outubro. De 2008 a 2012, as internações oscilaram entre 757 (em 2008) e 933 (em 2010).
O aumento da procura por hospitais devido a ferimentos causados por armas de fogo é apenas um dos indicadores que ilustram o crescimento da violência no estado do Rio neste ano. Segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), o estado voltou a registrar aumento do número de homicídios em 2013, depois de três anos de queda nos assassinatos.
De janeiro a setembro de 2013, ocorreram 3.501 assassinatos no estado, 454 a mais do que no mesmo período de 2012, ou seja, um aumento de 15%. O crescimento de 2013 reverte a tendência, observada desde 2010, de queda nos registros de homicídios do ISP, que é o órgão estatístico oficial, subordinado à Secretaria Estadual de Segurança.
O resultado também praticamente anula os avanços obtidos nos anos de 2011 (com 3.277 homicídios registrados de janeiro a setembro) e 2012 (com 3.047 assassinatos no mesmo período), já que o Rio de Janeiro voltou a ter um nível de violência próximo ao observado em 2010, que registrou 3.580 homicídios nos nove primeiros meses do ano.
A tendência de aumento da violência nos últimos meses no Rio de Janeiro também pode ser observada nos dados mensais do ISP. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, os homicídios estão em alta há sete meses consecutivos, portanto desde março deste ano.
Também houve aumentos expressivos, de janeiro a setembro de 2013 (na comparação com o mesmo período de 2012), de tentativas de homicídio (7%), roubos a estabelecimentos comerciais (29%), assaltos a residências (9%), roubos de carros (19%), assaltos a transeuntes (17%) e os roubos nos ônibus (21%).
O pesquisador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), João Trajano, diz que foi surpreendido com o aumento da criminalidade no estado. “Eu esperava que os indicadores continuassem a melhorar. Fico um pouco surpreso e decepcionado. Talvez o que isso esteja acenando é que os esforços do governo estadual têm sido tímidos”, disse.
Trajano diz ainda que é preciso fazer levar as unidades de Polícia Pacificadora (UPP), muito concentradas nas zonas sul, norte e centro, para outras áreas violentas do estado, como a zona oeste e a Baixada Fluminense. Dos 454 casos de assassinatos extras de 2013, a Baixada responde por 287 (ou seja 63% do total). Ainda segundo ele, também é preciso fazer ajustes na política de UPPs, que tem apresentado problemas em algumas comunidades.
Em diversas favelas, como a Rocinha, na zona sul, o complexo do Fallet/Fogueteiro, na região central, e o Complexo do Alemão, na zona norte, criminosos continuam mantendo o controle territorial de determinados pontos das favelas, o que gera tiroteios entre policiais e bandidos.
“Também talvez tenhamos que reconhecer que o governo, que criou a UPP e ganhou politicamente com isso, ficou apenas nisso. Acho que é preciso fazer um balanço e dizer: 'olha, isso é pouco para colocar o estado em patamares minimamente aceitáveis de homicídios e outros crimes'. É necessário adicionar outras iniciativas, associá-las às UPPs”, acrescenta.
Entre os crimes violentos, apenas os sequestros, roubos de cargas, agressões e estupros caíram no período. A polícia fluminense também matou menos: foram 304 casos de janeiro a setembro de 2013, ante 324 nos nove primeiros meses de 2012.
Em nota, a Secretaria de Segurança informou que espera reduzir os índices de criminalidade com medidas como a inauguração, a partir de janeiro de 2014, de dez companhias destacadas da Polícia Militar em comunidades da Baixada, de Niterói e das zonas norte e sul do Rio. Essas companhias terão 600 policiais.
Ainda de acordo com a secretaria, a Polícia Civil formou mais de mil inspetores e 135 delegados que trabalharão nas delegacias de Homicídios da Baixada Fluminense e de Niterói e em delegacias distritais. A secretaria não fez, no entanto, uma avaliação sobre os motivos do aumento da violência.
Edição: Graça Adjuto
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