2138 visitas - Fonte: Conversa Afiada
O Conversa Afiada entrevistou na tarde desta quinta-feira (19), por telefone, o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho (PT-SP), sobre a compra dos caças suecos Gripen.
O amigo navegante pode se perguntar: mas, o que um prefeito do ABC paulista tem a ver com uma compra de um equipamento de Defesa no valor de 4,5 bilhões de dólares?
A escolha do Gripen para operar o programa de reequipamento e modernização da Força Aérea Brasileira, o FX-2, é uma vitória, também – e em boa parte - do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
É uma vitória pessoal do prefeito Luiz Marinho, desde quando foi presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e idealizou o “credito consignado”.
(Marinho foi também ministro da Previdência Social.)
A Saab-Scania, dona do Gripen, está em São Bernardo há mais de 50 anos, onde produz os caminhões Scania.
Veja a integra da entrevista em áudio e texto:
PHA: Prefeito, o que São Bernardo vai fazer do caça Gripen, que será produzido no Brasil?
Luiz Marinho: Primeiro, é motivo de muito alegria a Presidenta ter escolhido o Gripen. Isso favorece, creio eu, o conjunto da indústria brasileira de Defesa.
Tanto a Aeronáutica quanto a indústria brasileira diziam: o Gripen é o que melhor pode garantir a transferência de tecnologia e, portanto, beneficiar tecnologicamente nossa indústria.
São Bernardo tem o compromisso da Saab de montar uma fábrica de estrutura dos caças em São Bernardo do Campo.
Portanto, isso beneficia não só a indústria aqui da região, mas, eu creio, o conjunto das universidades de tecnologia.
Uma fábrica de caças é uma fábrica de alta tecnologia, que envolve pesquisas, universidades, institutos e o conjunto da indústria brasileira.
PHA: O que que a Saab já tem em São Bernardo?
Luiz Marinho: Nesse processo de discussão do Gripen, eles deram uma sinalização. Mesmo antes da definição e, independentemente de o Gripen ser o ganhador ou não, numa demonstração de confiança, eles toparam investir 50 milhões, inicialmente, para montar um Centro de Inovação Suécia-Brasil.
Isso foi um compromisso de 2010.
Em maio de 2011 nós inauguramos o CISB, que está em pleno funcionamento.
Isso ajudou, creio eu, inclusive, no processo de escolha do Gripen.
Porque a Saab foi a empresa que mais trabalhou, com antecedência, no envolvimento da indústria brasileira e da engenharia brasileira no processo de estudo.
As outras prometiam mas não davam nenhum passo efetivo com relação a isso. E coisa a Saab fez.
PHA: O que exatamente será feito do caça em São Bernardo?
Marinho: A fábrica de estrutura diz respeito às asas do avião, que serão feitas em São Bernardo do Campo.
Existem vários componentes que poderão ser produzidos não só em São Bernardo, mas em outros municípios do ABC paulista.
A integração do avião será feita na Embraer, me parece que em Gavião Peixoto (interior de São Paulo).
Então, não será só o ABC que estará envolvido na construção dos caças. A Embraer é, seguramente, a maior beneficiada em relação a este projeto, mas São Bernardo ganha uma parte da produção que deverá ser feita aqui na cidade.
PHA: Além desse centro de pesquisa feito em parceria com a Saab, que outra infra-estrutura de educação, de universidade e de pesquisa, a região de São Bernardo e do ABC pode oferecer a uma fábrica de ponta como será a Saab para produzir o Gripen?
Marinho: Desde a Universidade Federal do ABC, com muito foco em tecnologia. A FEI, que é outra universidade com muito foco em engenharia. E a Engenharia Mauá, entre outras.
Nós temos uma presença tecnológica muito forte na região a partir do setor automotivo. E as empresas com conhecimento tecnológico no setor automotivo podem passar, perfeitamente, a fornecedoras também de uma indústria de Defesa.
PHA: Pode se dizer então que, a vitória do Gripen se deve, em grande parte, ao empenho de São Bernardo e até do Sindicato dos Metalúrgicos, é isso?
Marinho: Certamente, Paulo. Nós trabalhamos fortemente nisso, eu, pessoalmente, me envolvi nisso.
Tive até o entrevero com o ministro (da Defesa) Jobim (Nelson) , porque ele dizia que o projeto (do Gripen) era ”avião de papel”. E eu voltei da viagem da Suécia, em 2010, e disse: ”olha, eu posso garantir que num avião de papel não dá para voar, e eu voei no Gripen, então, ele existe”.
Eu até brinquei na época, dizendo que eu não entendia nada de avião, igual ao Jobim, que também não entendia nada.
Agora, o embasamento era de quem entendia, e quem entende de avião no Brasil é a Aeronáutica.
(Em 2010, a Aeronáutica escreveu um laudo técnico que apontava o Gripen como o melhor concorrente).
Então, eu creio que a Presidenta tomou a melhor decisão com relação às três propostas que estavam colocadas na mesa.
Murilo Silva, editor do Conversa Afiada
Em tempo: Nelson Johnbim, aparentemente, estava empenhado em escolher o francês Rafale, da Dassault. Para o que usou o mesmo conhecimento de “aviação” que o levou a desqualificar o Gripen… – PHA.
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