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Para ativistas, não há motivo para que não se receba Snowden no Brasil, país com tradição em asilo diplomático
Bastou a presidenta Dilma Rousseff começar a discursar hoje (19) em São Paulo para que oito jovens levantassem de suas cadeiras. Vestidos de amarelo, destoaram da multidão de catadores de materiais recicláveis e moradores de rua presentes à solenidade do Natal Solidário, comemorado com a presidenta há três anos. Estrategicamente posicionado entre a imprensa e o palco, o grupo ergueu cartazes pedindo: “Dilma, dê asilo a Edward Snowden.”
Na hora da ação, estavam todos com o rosto coberto pela foto do técnico de informática que revelou ao mundo o sistema de espionagem massiva mantido pelos Estados Unidos sobre cidadãos, empresas e instituições em todo o mundo. Em seguida, revelariam suas identidades para explicar o porquê do protesto.
“Snowden escolheu o Brasil. Três países já o aceitaram, mas ele quer vir para cá. Não vemos razão para Dilma não recebê-lo”, explica Michael Freitas, diretor de campanhas da Avaaz, página que organiza um abaixo-assinado pela concessão de asilo ao ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional (NSA) norte-americana.
Freitas lembra que, em carta publicada na Folha de S. Paulo na segunda-feira (16), Snowden agradece à presidenta Dilma Rousseff pela campanha que seu governo tem liderado nas Nações Unidas pela privacidade nas comunicações globais. Muita gente encarou o documento como um pedido de asilo político. No entanto, o jornalista Glenn Greenwald, interlocutor de Snowden, nega essa intenção.
Snowden se encontra atualmente na Rússia, onde recebeu asilo temporário. Ao permitir que o ex-espião residisse no país, porém, Moscou impediu que continuasse com suas revelações. É uma maneira de evitar conflitos diplomáticos com Washington. Em julho, Snowden enviou pedidos genéricos de asilo a 20 países, entre eles o Brasil. O Itamaraty ainda não se manifestou sobre o assunto. Apenas Venezuela, Bolívia e Nicarágua aceitaram recebê-lo.
“Tem uma tradição enorme na concessão de asilo político. Já concedemos até para ditadores de países vizinhos”, continua o diretor de campanhas do Avaaz, cuja petição já possui 57 mil assinaturas. “Queremos que a presidenta assuma a liderança desse movimento global e dê as boas vindas para Snowden. Ela tem todas as condições. E a população brasileira apoia o asilo. Não faz o menor sentido não concedê-lo.”
Além do Avaaz, também participaram da intervenção jovens do coletivo Juntos, ligado ao Psol. “Snowden revelou que, em todo o mundo, o Brasil foi o país mais investigado pelas agências de espionagem dos Estados Unidos. Isso culminou no caso de espionagem sobre a Petrobras, sobre as comunicações pessoais da própria presidenta e sobre milhões de brasileiros”, explica Thiago Aguiar, 24 anos, membro do grupo. “É um sujeito apátrida, perseguido em todos os países.”
Para Aguiar, a concessão de asilo a Snowden permitirá que ele tenha liberdade de atuação e consiga dar prosseguimento à revelaão dos documentos sigiloso que obteve na NSA. Assim, conclui, “poderemos saber a dimensão da espionagem dos Estados Unidos. Temos a convicção de que, se forem liberados, coisas muito importantes virão à tona, que prejudicam nossos direitos democráticos e a soberania nacional.”
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