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Os dois se encontraram ontem no Senado e trocaram amabilidades; por trás, dispararam farpas; para o pré-candidato tucano Aécio Neves (PSDB-MG), a construção de um discurso que, ao mesmo tempo, reconhece méritos em programas sociais, mas também prega uma "virada de página completa", não é tão simples; a presidente Dilma, por sua vez, parece disposta a explorar essas contradições
247 - Potenciais adversários num eventual segundo turno em 2014, que, a julgar pelas últimas pesquisas eleitorais, ainda parece distante, a presidente Dilma Rousseff e o senador Aécio Neves (PSDB-MG), se encontraram ontem no Senado. Frente a frente, trocaram amabilidades, resgatando um relacionamento cordial que já os unia desde os tempos em que Aécio era governador de Minas Gerais e Dilma, ministra de Minas e Energia. Entre os dois, nunca houve tensão – o clima, ao contrário, sempre foi de descontração. E ontem, mais uma vez, o aperto de mãos e os olhares demonstravam afinidades e simpatia recíproca.
Por trás, no entanto, as circunstâncias políticas exigem outras atitudes. Dois dias atrás, ao lançar sua agenda com 12 pontos para o Brasil, Aécio propôs uma "virada de página" completa para o Brasil (leia mais aqui), defendendo, por exemplo, menor intervenção estatal na economia.
No entanto, a construção do discurso de Aécio exige uma engenharia mais complexa, uma vez que o tucano não pode bater de frente com programas sociais, como o Bolsa Família e o Mais Médicos, que são amplamente aprovados pela população. Na sua agenda, Aécio defendeu a vinda de médicos cubanos, mas com salários pagos diretamente aos profissionais – e não ao governo cubano. No caso do Bolsa Família, ela já vinha defendendo a transformação do programa em lei, mas com a construção do que os tucanos chamam de "porta de saída".
Dilma recebeu as propostas como reconhecimento pelo sucesso dos programas sociais. “É sempre bom ver que eles reconhecem alguma coisa”, disse ela. “Durante um bom tempo, o Bolsa Família foi chamado de Bolsa Esmola." Na resposta, Aécio não deixou barato e alfinetou o ex-presidente Lula. “Como ela agora se mostra muito conectada com as redes, sugiro que entre no YouTube e coloque lá: presidente Lula, 2002, esmola. Vai ver que foi seu tutor quem chamou os programas Bolsa Escola e o Bolsa Alimentação, que originaram o Bolsa Família, de esmola.”
Ao que tudo indica, a disputa entre ambos será marcada pela ironia mineira – e sem um clima belicoso entre adversários, como costuma ocorrer nas campanhas que têm José Serra como protagonista. Aécio, no entanto, tem o desafio de contestar Dilma, sem deixar de reconhecer programas aprovados pelos eleitores. Um difícil equilíbrio.
No caso do Mais Médicos, seu modelo de remuneração dos profissionais, na prática, inviabilizaria o programa, uma vez que o governo cubano jamais aceitaria o pagamento direito dos salários. Esse alerta foi feito pelo 247 (leia mais aqui) e hoje repercutido pelo jornal Valor Econômico (leia aqui). Ou seja: em breve, com a proximidade da campanha eleitoral, serão exigidas dos candidatos não apenas promessas, mas também as respostas sobre como tirá-las, na prática, do papel.
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