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Em meio a um dos piores apagões dos últimos anos em São Paulo, a imagem de funcionários de uma empresa terceirizada da Enel dançando na Avenida Paulista gerou revolta e sintetizou a crise de gestão da concessionária. Na manhã de sexta-feira (12), enquanto mais de 500 mil imóveis ainda estavam sem energia, três homens uniformizados com a identificação “a serviço da Enel” foram filmados fazendo uma coreografia para um vídeo institucional de fim de ano. Ao fundo, uma música com os versos “segurança é nossa missão, dedicação sem fim, sem razão” ecoava de forma irônica, diante do colapso no fornecimento de luz que já se arrastava há dois dias. A empresa terceirizada STN, responsável pelos funcionários, emitiu uma nota lamentando o ocorrido e reconhecendo a "inadequação do contexto", afirmando que os colaboradores não eram técnicos operacionais.
A cena de insensibilidade ocorreu durante uma crise desencadeada por um forte vendaval na madrugada da última quarta-feira (10), que chegou a deixar mais de 2,2 milhões de clientes da Enel sem energia na Grande São Paulo. Neste domingo (14), a crise completou cinco dias, com cerca de 176 mil endereços ainda às escuras na região de concessão da empresa, sendo 134 mil apenas na capital paulista. A lentidão no restabelecimento é ainda mais grave quando comparada a episódios anteriores: dados indicam que, no segundo dia após a tempestade, o número de consumidores sem luz era mais do que o dobro do registrado em crises semelhantes em 2023 e 2024.
Diante da demora, a Justiça de São Paulo interveio. Na noite de sexta-feira (12), determinou que a Enel restabelecesse imediatamente a energia para todos os afetados, sob multa de R$ 200 mil por hora de descumprimento. A decisão estabelece prazos urgentes: até quatro horas para serviços essenciais como hospitais, eletrodependentes e delegacias, e no máximo 12 horas para os demais consumidores, a partir da notificação da empresa. A ação foi movida pelo Ministério Público e pela Defensoria Pública do Estado, que sustentam que a concessionária apresenta falhas recorrentes e não atende aos deveres de eficiência e continuidade.
Este não é um problema novo. A Enel já é alvo de ações judiciais dos órgãos de defesa do consumidor por interrupções prolongadas, incluindo um processo de 2023 que ainda aguarda decisão. A empresa também foi criticada pela Prefeitura de São Paulo, que notificou a concessionária e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) após constatar um pátio cheio de veículos da empresa parados, enquanto a população permanecia no escuro. Enquanto os técnicos dançavam na Paulista, o governo federal afirmou que possíveis falhas seriam apuradas pela Aneel, e a própria agência tem um processo administrativo em análise que pode, no limite, levar à caducidade da concessão.
Funcionários da Enel gravando dancinha na Avenida Paulista enquanto a cidade tem mais de meio milhão de clientes sem energia elétrica.
— Demétrio Vecchioli (@demetriovec) December 12, 2025
Vídeo gravado hoje às 9h52 na frente do Trianon. pic.twitter.com/ypVXf0Z48K