1/12/2025 12:34

A facção ’evangélica’ que fecha terreiros é a 3ª maior do Brasil: o terror do TCP se espalha

2084 visitas - Fonte: Plantão Brasil

O Complexo de Israel, conjunto de cinco comunidades na Zona Norte do Rio de Janeiro dominado pela facção Terceiro Comando Puro (TCP), perdeu um de seus símbolos mais visíveis. Em uma operação da Polícia Militar em 11 de março, agentes da PM arremessaram do alto de uma caixa d’água a enorme estrela de Davi de neon, que brilhava à noite como marca do domínio do grupo. Na mesma ação, foi demolido um imóvel de luxo do chefe do tráfico no local, Álvaro Malaquias Santa Rosa, o "Peixão", um "resort" erguido em área de proteção ambiental.

"Peixão", que nunca foi preso e tem 39 anos, é uma figura cercada de mistérios sobre sua suposta conversão. Ele é o líder máximo de uma facção que se tornou conhecida pela presença de traficantes que se autodenominam evangélicos. Contudo, a queda do símbolo foi mais simbólica do que prática: a facção está em franca expansão nacional, conforme relatou a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) em novembro. Segundo a Abin, o TCP já alcançou Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Bahia, Ceará, Amapá, Acre, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, e é hoje o "terceiro grupo emergente no contexto nacional", atrás apenas do Comando Vermelho (CV) e do Primeiro Comando da Capital (PCC).

Uma das fronteiras mais recentes cruzadas pela facção foi a do Ceará. Há cerca de três meses, a estrela de Davi e pichações como "Jesus é dono do lugar" começaram a aparecer em Maracanaú, na região metropolitana de Fortaleza. A entrada do TCP no estado, identificada pelas autoridades em setembro, se deu pela aliança com a facção local Guardiões do Estado (GDE), um movimento padrão de expansão criminal, conforme explica a pesquisadora Carolina Grillo (Geni/UFF). Essa aliança foi costurada por lideranças do GDE que migraram para o Rio, tiveram contato com o TCP e voltaram para coordenar o processo, que já resultou na prisão de 37 membros do grupo na região metropolitana do Ceará.

O avanço do "narcopentecostalismo" tem consequências nefastas, como a intolerância religiosa praticada pela facção, que há anos é registrada no Rio de Janeiro. No Ceará, houve denúncias de que pelo menos quatro terreiros de umbanda foram fechados a mando do TCP em outubro, um fato ainda sob investigação da Polícia Civil local. A pesquisadora Kristina Hinz (Uerj) destaca que o TCP utiliza o discurso religioso para legitimar o expansionismo, tratando o combate a facções rivais, como o CV, historicamente ligadas a religiões de matriz africana, como uma "guerra espiritual", legitimando a violência em nome de uma "purificação religiosa".

Além do caráter religioso, o TCP possui outras características preocupantes: uma relação menos conflituosa com a polícia, o que reduz confrontos no Rio; e uma aliança estratégica com o PCC, que lhes deu acesso a uma rede maior de crime organizado e a mercados internacionais. Outro ponto crítico é a aproximação com grupos milicianos, adotando a prática de extorsão que tentam replicar em outros estados, como ocorreu recentemente em Maracanaú com a cobrança de "pedágio" de vendedores ambulantes.

A expansão do TCP e a guerra declarada contra o CV, que ressurgiu após a derrocada do GDE, representam uma grave ameaça ao Ceará, que, apesar de uma leve queda nos últimos anos, segue com as cidades no topo do ranking das mais violentas do país. O temor do Laboratório de Estudos da Violência da UFC é que a chegada do TCP intensifique a disputa por territórios, resulte em mais mortes, e cause mais caos social, como o fechamento de escolas e a expulsão de moradores, que já fizeram um vilarejo virar "cidade-fantasma". O Ceará é estratégico para o crime por sua localização e a combinação explosiva de alta demanda por drogas e grande contingente de "agentes criminais motivados" devido à desigualdade social.

Com informações do G1

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