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O dia 29 de novembro é o último de dados constantes do Sivep-Gripe (Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe), usado para que municípios reportem casos graves, internações e mortes por Influenza ou covid-19.
A falta de informações se mantém há 38 dias em um momento em que emergências brasileiras estão lotadas por conta dos surtos de gripe e da variante ômicron. O apagão atinge números de casos, internações e mortes de covid-19 e gripe e até da vacinação contra o coronavírus. Na prática, hoje o país não sabe quantos doentes de covid ou gripe têm infectados e internados pelo Brasil.
Sem dados, o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, de 1º de janeiro, não traz números de internados por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave). O boletim InfoGripe, produzido semanalmente pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), também não usa dados referentes à semana 48, de 28 de novembro a 4 de dezembro, prejudicando análises e projeções.
SRAG é uma das formas de manifestação grave de gripe ou covid-19. Os pacientes necessitam de internação para tratamento intensivo e, por isso, são o parâmetro para indicar a pressão sob os sistemas de saúde.
"Os dados de SRAG estão fora do ar, então não temos estratos de faixa etária, nem temos os agentes causadores para entender a proporção de influenza e covid", afirma Isaac Schrarstzhaupt, analista de dados e coordenador na Rede Análise Covid-19.
Sistema do sistema para acesso ao Sivep-Gripe estava fora do ar até a noite de ontem, ao menos
Imagem: Reprodução
Segundo o Ministério da Saúde, o apagão ocorreu após um ataque hacker do dia 10 de dezembro. Como os dados do Sivep-Gripe levam alguns dias para serem inseridos no sistema, no dia do ataque a atualização que estava no ar era do dia 29 —o que explica a falta de dados nesse período. "O Sivep tem um delay com os dados, pois demoram para digitar", explica Schrarstzhaupt.
Os dados do Sivep-Gripe trazem, por exemplo, Informações de internações de pacientes graves. Eles são mais detalhados em comparação ao número de mortos e casos informados diariamente pelas secretarias estaduais de Saúde, que abastecem o consórcio de imprensa.
Apenas com o Sivep seria possível saber, por exemplo, se um paciente internado com SRAG no país está com covid-19, e não com gripe ou outro vírus respiratório. Isso é considerado crucial para medir o tamanho das duas epidemias que ocorrem simultaneamente no país.
A pasta disse, 13 dias depois, que os sistemas foram reestabelecidos, mas a maioria dos dados são inconsistentes ou mesmo seguem fora do ar.
Segundo o secretário-executivo do Conasems (Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde), Mauro Guimarães Junqueira, o sistema do ministério está "voltando aos poucos." Ele afirma que os municípios têm tido dificuldades para preencher o sistema por uma série de motivos e prevê ao menos mais 15 dias para que os números sejam atualizados.
"A dificuldade é o sistema voltar 100%, e os municípios atualizarem em tempo real. É uma questão que depende dos dois lados: dos municípios preencherem e do ministério prover um sistema que dê conta. Existe uma instabilidade hoje do sistema: uma hora fica fora do ar; outra a página demora a responder", alega Junqueira.
Mais dados atrasados
Além dos dados sobre SRAG, os números de casos e óbitos do ministério que estão no site estão defasados. "São dados referentes até 21 de dezembro; mas mesmo assim, quando olhamos, vemos uma queda abrupta do dia 9 para frente", conta Isaac Schrarstzhaupt.
Novos casos computados por dia aparenta ter dados inconsistentes a partir do dia 9
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"Mesmo os dados das secretarias estão com uma queda abrupta após apagão, o que indica que alguns estados dependem do sistema federal para divulgar e tabular seus dados" - Isaac Schrarstzhaupt, Rede Análise Covid-19
O dia 9 de dezembro, aliás, é o mesmo que está indicada no Painel Coronavírus, mantido pelo ministério.
Já no caso da vacinação, os dados oficiais estão com informações apenas referentes ao dia 7 de dezembro. Os dados mais atuais são referentes aos obtidos pelo consórcio de imprensa.
Isaac ainda alega que, quando o sistema voltar ao ar, muitos casos represados vão entrar ao mesmo tempo. "Aí vai parecer um aumento, mas pode ser que tenha um aumento real —que estamos vendo nos relatos— misturado com esse represamento, confundindo ainda mais", completa.
Olá, pessoal! Nós da Rede Análise viemos a público para pedir ajuda de todos vocês na cobrança dos dados abertos da covid-19 no Brasil, que estão fora do ar desde o início de dezembro de 2021. Compartilhem esse fio, enviem por WhatsApp, peçam para as autoridades da sua cidade! ?? pic.twitter.com/VuHjSiJ6ze
— Rede Análise | Especial COVID-19 (@analise_covid19) January 5, 2022