O alto preço de ações do governo contra a Índia e a China é discutido por diplomatas brasileiros

Portal Plantão Brasil
21/1/2021 12:32

O alto preço de ações do governo contra a Índia e a China é discutido por diplomatas brasileiros

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514 visitas - Fonte: O Globo

BRASÍLIA — Diplomatas na ativa e aposentados avaliam que o Brasil está pagando um preço alto na questão das vacinas contra a Covid 19, por não ter valorizado as relações com a Índia e a China nos dois últimos anos. Fontes ouvidas pelo GLOBO acreditam que a situação vai se resolver, mas os brasileiros terão de esperar por mais tempo que outros parceiros internacionais, devido à má condução da política externa brasileira pelo presidente Jair Bolsonaro e seu chanceler, Ernesto Araújo.







Os canais estão obstruídos, resumiu um embaixador. E não há nem como recorrer ao Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, criado há cerca de uma década), para que os dois países enviem insumos e imunizantes ao Brasil. Isso porque o governo Bolsonaro comprou briga, de uma forma ou de outra, com todos os integrantes do bloco.



Contrariando uma aliança histórica com a Índia no que diz respeito à produção de medicamentos genéricos, o Brasil trocou de lado e se colocou junto com os EUA contra uma proposta apresentada por indianos e sul-africanos, em outubro do ano passado, na Organização Mundial do Comércio (OMC), que permitia a suspensão de patentes de remédios e vacinas usados no combate à pandemia. Outro fator que irritou indianos e chineses foi o fato de o Brasil ter concordado em abrir mão do status de nação em desenvolvimento na OMC, a pedido dos EUA, o que poderá enfraque







Com a China, o que se viu desde antes de Bolsonaro iniciar seu mandato foram hostilidades a Pequim. Em defesa do deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente da República, o ministro das Relações Exteriores se posicionou de forma dura, publicamente, em duas ocasiões, com o embaixador chinês em Brasília, Yang Wanming. Em reunião com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, Wanming assegurou que a demora na liberação de insumos para a produção de vacinas não se deve a problemas políticos.



Para o diretor da Fundação Álvares Penteado (Faap), Rubens Ricupero, as dificuldades com a Índia foram subestimadas desde o início. As negociações para a compra de dois milhões de doses da vacina da Universidade de Oxford e o laboratório AstraZeneca, foram concluídas, mas não se concretizaram ainda, porque o país é um dos mais afetados pela pandemia e precisa vacinar sua população e atender aos vizinhos.







— O Brasil traiu os indianos, quando eles tentaram suspender as patentes em tempos de calamidades, e preferiu defender os laboratórios americanos. Bolsonaro sempre ridicularizou o comércio Sul-Sul (entre nações em desenvolvimento). Agora estamos na rua da amargura — disse Ricupero, que também foi embaixador do Brasil EUA, ministro da Fazenda e secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad).



Para um diplomata que não quis se identificar, o governo brasileiro está "num mato sem cachorro" e, com a substituição de Trump por Joe Biden, o Brasil rompeu as pontes com os EUA, a China, a União Europeia e a América Latina. Esse embaixador destacou que ninguém respeita subservientes, "nem os aliados dos lacaios".







Sergio Amaral, que até o início do governo Bolsonaro chefiava a embaixada em Washington, concorda que, no momento, os canais de negociação estão obstruídos, devido à política externa conduzida pelo governo Bolsonaro.cer as negociações com os países desenvolvidos.



— Uma política externa equivocada e muitas vezes irresponsável levou o Brasil a uma deterioração nas relações com a China e Índia. Com a saída de Trump, estamos isolados na região — afirmou Amaral.



Especialista em comércio e negociações internacionais, o embaixador aposentado José Alfredo Graça Lima acredita que a obstrução dos canais diplomáticos ocorreu pela retórica antichinesa. Ele lembrou que as autoridades brasileiras responsabilizaram a China pela origem do coronavírus e chegaram a questionar a eficácia da vacina Coronavac.







— Os Brics poderiam efetivamente ter se coordenado para cooperar no fornecimento da vacina, mas essas ações dependem muito dos laboratórios, que obedecem principalmente a razões comerciais — ponderou Graça Lima.



O diplomata aposentado Roberto Abdenur destacou que China e Índia têm razões objetivas em suas políticas externas. Os indianos dão prioridade aos vizinhos e os chineses à África.



— Mas não se pode deixar de dizer que a política externa totalmente equivocada do governo brasileiro não tem contribuído para melhorar as coisas. Os indianos estão profundamente irritados — afirmou.







Ele lembrou que o tema das patentes voltou a ser discutido, nesta semana, na OMC. Desta vez o Brasil não se posicionou. A delegação brasileira optou pelo silêncio.



— Não estamos entre as prioridades desses países e isso nos coloca em um grande risco de faltar vacina no Brasil. Mas tudo vai se resolver — completou.



Para o também embaixador aposentado Rubens Barbosa, quando o governo Bolsonaro começou, o mundo era outro. O discurso anti-China e pró-EUA, neste momento de pandemia, está desatualizado e superado.



— O governo não se importava em o Brasil ser um pária internacional, mas a realidade é outra — concluiu Barbosa.



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