No Paraná, o apagamento da Filosofia e Sociologia nas escolas. Por Vinicius de Figueiredo

Portal Plantão Brasil
12/1/2021 09:37

No Paraná, o apagamento da Filosofia e Sociologia nas escolas. Por Vinicius de Figueiredo

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Pense rápido: a vacinação (quando, afinal, começar) deve ser feita unicamente pelo SUS ou quem puder pagar por ela deve ter o direito de vacinar-se num laboratório particular o quanto antes? Se você titubeou, acertou. Não é uma questão simples. Quem não hesitou e chutou convicto A ou B nunca teve aula de filosofia ou sociologia na vida.







Filosofia e sociologia são disciplinas que integram a grade curricular do ensino médio por uma razão bem concreta. Elas lidam com a capacidade de apresentar razões para fundar nossos juízos. Obrigam a examinar as questões de todos os lados. Assim, voltam-se diretamente para a interpretação da realidade que nos cerca. Como essa realidade é fruto de uma construção coletiva, também é indispensável familiarizar os estudantes com arte. Privar nossos jovens da prática reflexiva e expressiva, tão cara a essas disciplinas, é roubar-lhes a competência de participar da invenção de seu próprio futuro.



É o que está prestes a fazer o governo do Paraná. Conforme medida publicada 22 de dezembro (!), Ratinho Jr. determinou a redução pela metade das aulas de filosofia, sociologia e artes nas escolas públicas do ensino médio do estado. Sem consulta prévia a ninguém, sem debate com os professores e/ou coordenadores das escolas, etc. No lugar delas, entra “Educação Financeira”. Mas calcular juros e coisas não é matéria obrigatória da matemática? Pois é. A FGV/SP, onde se formou o atual secretário estadual da educação, sabe disso de cor e salteado.







O presente de Natal de aproximadamente 4 mil professores que lecionam essas disciplinas na rede pública do Paraná é o seguinte. Se a medida não for revogada, terão de começar o ano fatiando mais e mais suas atividades didáticas, correndo de uma para outra escola para cobrir o piso de 30 horas/aula, o que lhes remunera o que ganha um professor em início de carreira no Estado. No médio prazo, vínculos serão extintos. Assim como terá sido em vão todo o investimento (é uma conta simples, Secretário) feito em sua formação e qualificação continuada. O prejuízo para a formação educacional será inestimável.



É normal que a educação seja objeto de revisões e que as grades curriculares sejam atualizadas de tempos em tempos. Mais que isso, é necessário. Mas delicado. A ideia de reduzir horas de escola voltadas para interpretar a realidade, compreender como participamos dela e exercitar meios de exprimir-se artisticamente para, em seu lugar, propor o que já faz parte da disciplina de matemática é simples contrasenso. Verdade que o panorama político brasileiro tem aprontado muitas dessas. Talvez seja mesmo hora de reconsiderar o que afinal entendemos por “normalidade”. Para fazê-lo direito, será preciso mais e não menos filosofia, sociologia e arte.



Vinicius de Figueiredo – Prof. Titular do Departamento de Filosofia da UFPR



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