2222 visitas - Fonte: Folha de São Paulo
A indicação do juiz federal Kassio Nunes para a vaga de Celso de Mello no STF (Supremo Tribunal Federal) teve a articulação de uma personagem pouco conhecida fora dos círculos do poder de Brasília.
Amiga do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), a juíza federal Maria do Carmo Cardoso, do TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região), é considerada a madrinha da escolha do magistrado.
Chamada na família do presidente Jair Bolsonaro de "tia Carminha" ou de "Carminha", segundo integrantes do Judiciário e do Legislativo, a juíza é apontada por participantes do processo como a principal entusiasta da ideia de aproveitar Kassio para uma cadeira no Supremo, e não para uma futura vaga no STJ (Superior Tribunal de Justiça), como era inicialmente cogitado.
O indicado para o STF, que também atuava no TRF-1, foi apresentado ao filho do presidente Bolsonaro (sem partido) há menos de três meses. Na aproximação, Kassio estava em campanha para o STJ. Após a primeira conversa, segundo relatos de aliados, o magistrado teve ao menos mais dois encontros com Flávio.
Procurado por cotados a cargos no Poder Judiciário, o senador tentava nesse período respaldar a indicação do juiz William Douglas, do Rio de Janeiro, para o STF. Ele tinha forte apoio no segmento evangélico.
Após conhecer Kassio, no entanto, Flávio criou simpatia pelo magistrado piauiense e buscou mais informações sobre o candidato a um cargo no STJ.
Na época, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), conterrâneo de Kassio e fiador da indicação do juiz para o STJ, conversou com o filho de Bolsonaro e deu referências sobre o magistrado.?
Foi neste momento, segundo assessores do presidente, que Maria do Carmo, considerada uma espécie de conselheira jurídica da família Bolsonaro, entrou na história.
Após ser cogitada para o Supremo, a juíza, segundo relatos à Folha, sugeriu o nome de Kassio para a vaga de Celso de Mello.
Kassio e Maria do Carmo se conhecem, segundo integrantes do Judiciário, desde 2011, quando ele foi nomeado para o TRF-1.
A idade da magistrada, acima de 60 anos, foi considerada um agravante para sua indicação, já que Bolsonaro busca um nome com quem possa contar por bastante tempo no Supremo.
É vedada a indicação de pessoas maiores de 65 anos para a corte —a idade da juíza é omitida do perfil dela no site do TRF1 nem foi informada por sua assessoria.
A relação da família Bolsonaro com Maria do Carmo é antiga. No ano passado, por exemplo, o presidente nomeou para o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) a advogada Lenisa Rodrigues Prado, filha de Maria do Carmo.
Procurada pela Folha, a juíza informou que não iria se manifestar.
Após a sugestão do nome de Kassio, Flávio conversou com o pai sobre a indicação do magistrado para o STF.
O advogado Frederick Wassef, que também já conhecia Kassio, fez elogios ao magistrado tanto a Flávio como ao próprio Bolsonaro e apontou como uma das características do juiz o perfil garantista, o que poderia favorecer o presidente e o parlamentar, alvos de investigações.
Ciro Nogueira havia intermediado audiências do juiz com Bolsonaro pensando no nome dele para o STJ. Foi na última reunião entre eles, no dia 29 de setembro, que o presidente informou a Kassio que, na verdade, pretendia indicá-lo para outra vaga.
Segundo relatos de auxiliares do presidente, na conversa Bolsonaro disse ao magistrado que a vaga aberta era a do STF, o que surpreendeu Kassio. Em seguida, Bolsonaro afirmou ao juiz que o levaria a um jantar.
O ministro do STF Gilmar Mendes tinha uma agenda marcada com Bolsonaro à noite, no Palácio do Planalto. Por volta das 16h daquele dia, porém, o presidente telefonou para o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e disse a ele que gostaria de apresentá-lo ao seu escolhido para o STF.
Bolsonaro pediu ao senador que fosse para a casa de Gilmar. Da mesma forma, convidou Dias Toffoli, com quem o presidente manteve proximidade enquanto o ministro presidiu o Supremo.
Nenhum deles sabia quem era o magistrado que seria levado ao encontro. Até então, a indicação do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, era dada como certa tanto no Judiciário como no Legislativo.
No jantar, Bolsonaro apresentou seu escolhido, disse que gostaria de prestigiar a magistratura e que tinha a intenção de indicá-lo ao STF. A escolha surpreendeu a todos, inclusive o próprio Kassio, que, em conversa com aliados, disse que não esperava um anúncio tão rápido.
Segundo auxiliares do presidente, Bolsonaro ficou bastante impressionado com o piauiense. Pesou o fato de ele ser considerado um juiz de linha garantista, de tendência menos punitivista, e perfil crítico à Lava Jato.
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