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RIO — Primeira mulher do presidente Jair Bolsonaro e mãe de Carlos, Flávio e Eduardo, Rogéria comprou em 22 de janeiro de 1996 um apartamento no bairro de Vila Isabel, na Zona Norte do Rio, por R$ 95 mil — equivalente hoje a R$ 621,5 mil, valor atualizado pela inflação. A escritura pública do 21º Ofício de Notas do Rio, obtida pelo GLOBO, registrou que o pagamento ocorreu em dinheiro vivo, e foi “integralmente recebido” no ato de produção do documento de venda. Na ocasião da aquisição, ela era casada em regime de comunhão parcial de bens com o então deputado federal e agora presidente Jair Bolsonaro. O casal se separou entre 1997 e 1998.
Agora, Rogéria se prepara para voltar à política, após quase 20 anos, e é pré-candidata pelo Republicanos a uma das vagas na Câmara de Vereadores do Rio. No domingo, OGLOBO mostrou que seu filho Flávio também optou por usar dinheiro vivo para pagar por parte de um conjunto de 12 salas comerciais na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, em 2008. O valor pago à época em espécie foi de R$ 86,7 mil. Em depoimento ao Ministério Público do Rio, Flávio afirmou que pediu dinheiro emprestado ao pai, a um irmão, sem identificar qual, e possivelmente a Jorge Francisco, chefe de gabinete do então deputado Jair Bolsonaro.
Na escritura do apartamento comprado por Rogéria, o escrevente do cartório, Irenio da Silveira Duarte Júnior, anotou que, em janeiro de 1996, “compareceram como outorgantes vendedores Francisco Antonio da Paixão Brandi, militar reformado, e sua mulher, Alba de Medeiros Brandi, do lar... E, como outorgada compradora, Rogéria Nantes Braga Bolsonaro, brasileira, professora, casada em regime de comunhão parcial de bens com Jair Messias Bolsonaro”.
Após descrever o imóvel que estava em negociação, um apartamento que a família Bolsonaro já alugava para morar, o escrevente registrou que a venda ocorreu “pelo preço certo e ajustado de R$ 95 mil integralmente recebido neste ato (...) através de moeda corrente devidamente conferida e, digo, corrente contada e achada certa e examinada pelos outorgantes (vendedores)”.
Ele anotou ainda que o casal Brandi e Rogéria anunciavam perante o cartório que, após o pagamento, foi colocada “irrevogável quitação” e “nada mais a reclamar com fundamento no dito preço” do apartamento que estava sendo vendido naquele momento. O escrevente do cartório anotou ainda que Rogério aceitou a “escritura como está redigida”.
No final do documento, como havia uma rasura em um trecho, o escrivão reafirmou que a compra foi feita por meio de moeda “corrente, contada e achada certa”.
Confrontada com os dados da escritura e questionada se a negociação teria sido feita pelo marido, Alba negou a negociação:
— Nunca morei lá, nem coisa nenhuma. Não sei. Ele (Francisco) já morreu há muito tempo.
Na escritura, porém, constam as assinaturas de Alba e Francisco Brandi. O escrevente também morreu. O GLOBO submeteu a escritura para análise de um colega de Duarte Júnior no 21º Ofício, à época. Ele confirmou as informações registradas , mas pediu anonimato. Procurada desde a semana passada, Rogéria, não se manifestou. O Palácio do Planalto não retornou.
Gabinete familiar
Rogéria foi a primeira pessoa da família que o presidente Jair Bolsonaro inseriu na política, ainda na disputa de 1992, três anos depois que ele próprio fez a transição das Forças Armadas para o Legislativo municipal. Eleita, ela foi vereadora na Câmara Municipal do Rio de Janeiro por dois mandatos, entre janeiro de 1993 e janeiro de 2001 — quando, já separada de Bolsonaro, perdeu a cadeira em uma eleição na qual o filho Carlos foi eleito pela primeira vez, aos 17 anos. O apartamento, portanto, foi comprado três anos depois que ela se tornou vereadora e quando Bolsonaro exercia seu segundo mandato na Câmara dos Deputados.
Em janeiro, a revista Época mostrou que em seus dois mandatos, a vereadora Rogéria Bolsonaro teve 66 assessores e, assim como o ex-marido e os filhos, também empregou diversas pessoas com algum grau de parentesco entre si. Ao longo dos oito anos na Câmara dos Vereadores, oito pessoas de quatro famílias diferentes chegaram a ser nomeadas entre os funcionários de seu gabinete. Ela ainda empregou outras três pessoas que depois conseguiram cargos para parentes nos gabinetes de Jair, Carlos e Flávio, que só entrou para a política em 2003. É o mesmo padrão mostrado pelo GLOBO no ano passado, em reportagem que apontou os 102 assessores da família Bolsonaro que tinham laços familiares entre si.
Já com relação a Flávio, as negociações imobiliárias são investigadas pelo Ministério Público do Rio. Os promotores apontam indícios de que o dinheiro supostamente obtido com a devolução dos salários dos assessores seria usado na compra de imóveis. Segundo os investigadores, o senador lavou R$ 2,27 milhões com compra de imóveis e em sua loja de chocolates. Flávio nega irregularidades e diz que construiu o patrimônio com recursos lícitos.
O dinheiro vivo em família
Assim como Rogéria Bolsonaro, outra ex-mulher do presidente usou dinheiro vivo para ampliar o patrimônio. A revista Época mostrou que, nos dez anos em que estiveram juntos (1998 a 2008), Ana Cristina Valle comprou, com Bolsonaro, 14 imóveis, avaliados em R$ 3 milhões na data da separação — o equivalente hoje a R$ 5,3 milhões.
O pagamento ocorreu em dinheiro vivo em cinco transações, que somaram R$ 243,3 mil (R$ 680 mil em valores atuais). Ana Cristina é investigada no procedimento que apura “rachadinha” no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro, de quem foi assessora.
Na última sexta-feira, outras transações financeiras chamaram a atenção: extratos bancários revelaram que a primeira-dama Michelle Bolsonaro recebeu R$ 89 mil em cheques do ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz e de sua mulher, Márcia Aguiar.
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