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Pesquisa inédita obtida com exclusividade pelo UOL mostra que parte considerável dos policiais brasileiros usa as redes sociais para interagir com páginas e grupos bolsonaristas —que por vezes propagam pautas antidemocráticas, como a defesa do fechamento do Congresso Nacional e do STF (Supremo Tribunal Federal).
De acordo com o estudo feito pelo FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública) em parceria com a empresa de inteligência de dados Decode, a adesão ao bolsonarismo é relevante sobretudo entre os policiais militares —41% dos PMs de baixa patente (soldados, cabos, sargentos e subtenentes) interagem com o grupo político do presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido).
Essa penetração é bem menor entre servidores da Polícia Civil e da Polícia Federal.
Entre os policiais apoiadores de Bolsonaro, há uma parcela que defende inclusive pautas mais radicais —12% dos PMs, 7% dos policiais civis e 2% dos policiais federais apoiam o fechamento do Congresso Nacional e do STF (Supremo Tribunal Federal). Isso representa um contingente de mais de 95,8 mil agentes de segurança pública dispostos a colaborar, segundo cálculo feito pelo UOL com base nos dados do estudo.
"Isso é muito grave, porque temos um efetivo bastante grande. Pessoas armadas que representam o poder público, mas mesmo assim não sentem nenhum constrangimento de defender a ruptura das instituições que dão a eles esse poder de polícia"
Renato Sérgio de Lima, sociólogo e presidente do FBSP
"A grande maioria desses comentários é de praças da PM. Eles são os verdadeiros cabos e soldados que colocam em risco as instituições", diz Lima, referindo-se como exemplo a uma declaração do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho de Jair Bolsonaro, durante palestra em um curso preparatório para concursos em 2018. Na ocasião, o parlamentar afirmou que era fácil fechar o STF."
Para chegar ao resultado, os pesquisadores listaram, com base em informações dos portais de transparência dos estados e da União, 885.730 policiais da ativa ou aposentados. Localizaram então os perfis no Facebook de 141.717 policiais. Foram então sorteadas como uma amostra 879 contas, obedecendo regras estatísticas semelhantes às usadas em pesquisas eleitorais, e mapeadas as interações públicas desses policiais em grupos e páginas.
O presidente do FBSP ressalta que não há problema que policiais tenham afinidade com forças políticas conservadoras, mas destaca que eles não podem flertar com ideias golpistas ou replicar discursos que configuram crime.
Não há nada de errado que esses policiais tenham adesão a ideais conservadores. O problema são esses que interagem com ambientes mais radicalizados, que não somente são conservadores, mas podem ser considerados reacionários ou sectários. Aí começa a preocupar, porque há riscos à institucionalidade democrática
Em junho, o UOL revelou que mais de 7.000 PMs aproveitaram-se de uma brecha na legislação para disputarem eleições entre 2010 e 2018. A participação de PMs na política foi turbinada nas últimas eleições presidenciais, marcadas pela onda conservadora que elegeu Bolsonaro: o número de PMs eleitos subiu de 7 para 34, enquanto o número de candidaturas cresceu 30% em relação a 2010.
Essa politização das PMs também teve reflexo na repressão de atos políticos de oposição ao presidente durante a pandemia. Documentos obtidos pelo UOL mostraram que a PM do Rio sistematicamente associou partidos políticos de oposição ao governo federal a atos de vandalismo.
Discursos homofóbicos e contra direitos humanos
Entre os policiais brasileiros, são os PMs que adotam com mais frequência discursos contra os direitos humanos e de teor homofóbico, segundo apontam os dados coletados no estudo.
Segundo o levantamento, os comentários contrários às pautas LGBTQ+ são os mais frequentes entre eles —24% de todas as interações feitas por PMs tinham conteúdo homofóbico.
Um dos comentários discriminatórios encontrados pela pesquisa teve como tema a escolha de Thammy Miranda, um homem trans, para protagonizar a campanha publicitária do Dia dos Pais da Natura. Um PM escreveu: "Tem que boicotar eles já. Como que colocam um travesti na propaganda de Dia dos Pais? Eles têm filhos?", mostra o relatório.
Essas pautas são estimuladas por cidadãos comuns em grupos dedicados à PM. De acordo com a pesquisa, 13% das interações nesse tipo de ambiente do Facebook estimula que os policiais tenham ações mais violentas. Em três anos, esses grupos tiveram um total de 4,2 milhões de posts.
Por outro lado, o estudo identificou que há um grupo de policiais se manifestando em defesa de pautas progressistas nas redes sociais, como condenação à violência contra a mulher e combate à violência policial. Esse tipo de posicionamento em apoio a causas sociais —geralmente identificadas com a esquerda— foi constatado em 12% dos perfis de policiais civis, 6% dos PMs e 3% dos policiais federais.
Para Renato Sérgio de Lima, a existência desse tipo de posicionamento, ainda que seja minoritário, mostra que a segurança pública não é um campo monolítico em termos de posicionamento político-ideológico: "A polícia não é imutável ou pertence a um único grupo social", contextualiza.
Em julho, o UOL mostrou que o Ministério da Justiça elaborou um dossiê sobre atividades políticas de 579 servidores federais e estaduais da segurança pública associados ao movimento antifascista.
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