Governo pagou RS$350 mil a empresa ligada a canal que defende intervenção militar

Portal Plantão Brasil
30/6/2020 08:52

Governo pagou RS$350 mil a empresa ligada a canal que defende intervenção militar

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1240 visitas - Fonte: O Globo

O governo federal pagou R$ 350,7 mil, entre 2019 e 2020, a uma empresa de São Paulo ligada ao canal no YouTube “Intervencionistas do Brasil”, que defende o presidente Jair Bolsonaro e a intervenção militar no país. O valor é relativo à contratação de equipamentos por órgãos do Exército, da Aeronáutica e ligados ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Segundo a dona, a empresa é administrada por seu filho, um empresário que, nos últimos anos, vem publicando vídeos com incentivos a uma intervenção e com ataques a instituições como o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF).





Apesar de cadastrada como empresa para o fornecimento de insumos industriais e com contratos para entrega de equipamentos em diferentes partes do país, seu endereço está registrado em um imóvel residencial no subúrbio de Campinas. A empresa ligada ao canal “Intervencionistas do Brasil” é a Geratek. Ela está registrada junto à Receita Federal como uma microempresa destinada ao comércio atacadista e varejista de materiais de construção, elétrico, equipamentos para uso industrial, entre outros. A Geratek está em nome de Edineide de Fátima Vasques Brito, mas segundo ela, o verdadeiro responsável pela administração da empresa é o seu filho, Tiago Vasques Brito.



— Não respondo, não. Tem que ser com o Tiago mesmo. Eu sou a dona, mas é ele que mexe com as coisas. (Ele toma conta) de tudo. É ele que toma conta pra mim — disse ao GLOBO por telefone Edineide, que negou ter conhecimento sobre o conteúdo divulgado pelo canal.



Tiago Brito já atuou como empresário no ramo de vestuário esportivo, mas, nos últimos anos, voltou suas atividades para o fornecimento de equipamentos industriais para órgãos públicos. Ao mesmo tempo, ele se notabilizou por administrar o canal bolsonarista criado em 2012 no YouTube e que soma 171 mil inscritos.





Mesmo e-mail



Alguns dos vídeos do “Intervencionistas do Brasil” já tiveram mais de 900 mil visualizações. Nos últimos anos, o canal passou a apoiar diretamente Jair Bolsonaro. Parte de seus vídeos são reproduções de entrevistas coletivas dadas por ele ou por integrantes de seu governo. Ao abrir os vídeos, o e-mail para contato do canal é pipemastersurf@gmail.com. Este é o mesmo e-mail cadastrado pela Geratek junto à Receita Federal e ao portal de compras do governo federal.



O “Intervencionistas do Brasil” faz parte do grupo de canais que divulgam ataques a autoridades pagos por empresas estatais. Segundo dados obtidos por meio da Lei de Acesso a Informação (LAI), o canal recebeu por 101 anúncios da Petrobras e 56 da Eletrobras. Órgãos do governo que anunciaram em sites suspeitos de divulgar ataques a instituições afirmam que não alocam a verba diretamente no site, e que a distribuição é feita por agências contratadas ou pelas plataformas digitais, por meio do processo automatizado conhecido como “mídia programática”. O anunciante, porém, tem poder de vetar sites indesejados.



Em diversas publicações, o canal "Intervencionistas do Brasil" faz críticas diretas a membros do STF e defende o fechamento da Corte e do Congresso. Em um vídeo divulgado no dia 1º de junho, Brito chamou Alexandre de Moraes de “crápula”:



— Estou aguardando a próxima ação arbitrária do STF pra gente lacrar o cadeado. Fechar o caixão.





Segundo o Portal da Transparência, os R$ 350,7 mil recebidos pela Geratek foram pelo fornecimento de equipamentos em 2019 e 2020. Dos 27 pagamentos recebidos pela empresa, 13 foram de órgãos militares ligados ao Comando do Exército ou da Aeronáutica. Eles totalizaram R$ 71,6 mil. O maior pagamento foi feito, em outubro de 2019, pela Comissão Nacional de Energia Nuclear, órgão vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI): R$ 181,4 mil.



Segundo o ministério, a empresa foi contratada para fornecer mantas de chumbo puro para instalações e laboratórios que operam equipamentos que utilizam material radioativo. A natureza específica do material fornecido pela empresa contrasta com a aparência simples do endereço registrado como sua sede em Campinas. De acordo com a fotografia tirada em outubro de 2019 pelo sistema Google Maps, o endereço é uma casa residencial em uma área do subúrbio da cidade, sem placas ou outras indicações de que lá funciona uma empresa.



Em nota, o Comando do Exército não respondeu sobre o conteúdo do canal e disse apenas que os contratos feitos por unidades militares com a empresa respeitaram a lei de licitações. Segundo o MCTI, o contrato firmado com a Comissão Nacional de Energia Nuclear foi feito por meio de pregão eletrônico e o material foi devidamente recebido pelo órgão. O Ministério da Saúde, de quem a empresa recebeu R$ 10,3 mil, também negou irregularidade na contratação. O GLOBO enviou um e-mail à Geratek, mas não obteve resposta.



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