Uma pequena lista dos pecados de Alckmin, o Santo da Odebrecht

Portal Plantão Brasil
6/8/2018 08:55

Uma pequena lista dos pecados de Alckmin, o Santo da Odebrecht

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8467 visitas - Fonte: Revista Crusoé

O envolvimento de Geraldo Alckmin com o sagrado vem de longa data. No final dos anos 1970, quando exercia seu primeiro cargo executivo na Prefeitura de Pindamonhangaba, no interior paulista, ele inaugurou uma rua com o nome do sacerdote espanhol que fundou a Opus Dei, uma corrente radicalmente conservadora do catolicismo. O homenageado seria transformado em s?nto pelo Vaticano em 2002. E Alckmin também, alguns anos depois, só que em circunstâncias bem menos nobres. O tucano foi apontado, nas investigações da Operação Lava Jato, como o “Santo” das planilhas de distribuição de dinheiro da Odebrecht. Ele nega. Com base no testemunho de um dos delatores da companhia, sustenta que “Santo”, na verdade, era um burocrata de uma estatal do governo paulista. Mas a alcunha o incomoda enormemente. Tanto é assim que, em seu site na internet, há uma nota que tenta explicar: “Alckmin não é o Santo da lista da Odebrecht”. Nem de lista nenhuma. O homem que o PSDB ungirá (...) como o seu candidato ao Palácio do Planalto está longe, bem longe, de gozar das virtudes exigidas para a canonização. Por trás da imagem do homem cordato e hígido, há um personagem que carrega traços marcantes da velha política. Com jeito, o Alckmin que você não conhece é hábil em travar investigações capazes de comprometê-lo e, nas quatro vezes em que governou São Paulo, deu sustentação ao mesmo modelo de relacionamento com empreiteiras que acendeu o pavio da Operação Lava Jato – aquele em que obras são trocadas por polpudos repasses de dinheiro a políticos.







(...) apenas em seu último mandato como governador, exercido entre 2015 e 2018, Alckmin distribuiu secretarias para nove partidos. Muitas delas ficaram nas mãos de gente sem qualquer experiência na área. Outras práticas antigas também integraram a cartilha do tucano, como tirar deputados eleitos da Câmara para que suplentes ligados a ele assumissem os mandatos. Ou, ainda, impedir a abertura de comissões parlamentares de inquérito na Assembleia Legislativa: 69 CPI’s foram barradas entre 2001 e 2006, 23 entre 2011 e 2014 e 14 depois de 2015. Ao todo, 106 investigações parlamentares que tinham por alvo supostas irregularidades no governo nem sequer foram abertas. Crises políticas também passaram a ser contidas no velho esquema do toma-lá-dá-cá. No ano passado, após uma ameaça de rebelião em sua base parlamentar, Alckmin não só liberou emendas para os deputados se aquietarem como permitiu que elas fossem incluídas no orçamento deste ano com o compromisso de que seriam pagas. (...) Na ponta do lápis, serão 5 milhões de reais para cada um dos deputados estaduais. Além disso, inaugurações de obras foram concentradas no final do mandato — entre janeiro e abril deste ano, pouco antes de ele deixar o cargo de governador para se candidatar a presidente, foram 50 eventos dessa natureza, um a cada dois dias. Detalhe: muitas das obras nem sequer estavam concluídas.







Como todo político tradicional, há também várias promessas não cumpridas. As obras do chamado Trecho Norte do Rodoanel, o grande anel viário que circunda a capital paulista interligando as rodovias que nela chegam, foram iniciadas em 2013 com previsão de conclusão em 2016. Devem ser entregues apenas em 2019, com custo 30% superior ao inicial. Uma linha do metrô foi licitada em 2013 com promessa de entrega em 2015, mas só foi implantada de verdade neste ano. (...)



Há outros dados, mais objetivos, que devem facilitar o trabalho dos adversários de Alckmin durante a corrida presidencial. A educação pública em São Paulo também patina e vários índices oficiais apontam que o aluno da rede pública no estado é deficiente no aprendizado de matemática e português. O sistema educacional paulista chegou a ser alvo de reparos em uma análise recente das contas do tucano no Tribunal de Contas.



Para blindar-se no jogo da política, Alckmin se cerca de auxiliares ligados ao próprio Ministério Público. Desde que assumiu o cargo com a morte de Mário Covas, em 2001, o tucano potencializou um antigo formato herdado do ex-governador do MDB Orestes Quércia, já falecido, de atrair para áreas-chave do governo integrantes da instituição que é responsável por, dentre outras funções, investigar e fiscalizar o governo. Os dois últimos procuradores-gerais de Justiça de São Paulo, o cargo máximo do MP estadual, integraram o governo de Alckmin após deixarem o posto. Um deles foi nomeado secretário de Justiça. O outro foi escolhido para a Secretaria de Segurança Pública. Na área de segurança, por sinal, sete dos últimos oito secretários vieram do MP. Havia ainda vários promotores espalhados pelo segundo escalão do Poder Executivo estadual. A aliança estratégica também passa pelo Judiciário. Um ex-presidente do Tribunal de Justiça deixou o posto, em 2016, para assumir a Secretaria de Educação. Pode até ser coincidência, mas o bilionário setor de transportes, hoje alvo principal do braço paulista da Lava Jato, foi controlado na era Alckmin por um promotor. Era sob a alçada dele que ficava a Dersa, a estatal paulista responsável pelas obras viárias. E foi justamente esse promotor quem nomeou para a companhia Laurence Casagrande, preso em junho sob suspeita de corrupção em obras no estado.



Nenhuma grande investigação contra altas autoridades locais avança em nível estadual em São Paulo. As apurações no Ministério Público só começaram a andar depois que a Odebrecht fechou o acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República, em Brasília. Paralelamente, casos que podem respingar em Alckmin tomam rumos, digamos, estranhos. Delatado por executivos da Odebrecht que o acusaram de receber dinheiro de caixa dois para financiar suas campanhas em 2010 e 2014, o tucano passou à condição de investigado. Como perdeu o foro privilegiado após deixar o governo, o Superior Tribunal de Justiça decidiu que a acusação deveria ser enviada para o MP de São Paulo. Um promotor decidiu abrir uma investigação por improbidade administrativa, mas o procurador-geral, Gianpaolo Smanio, retirou o inquérito das mãos dele. O promotor se queixou ao Conselho Nacional do Ministério Público, em Brasília, e Smanio recuou. O caso é um dos que mais incomodam Alckmin porque envolve seu cunhado, Adhemar César Ribeiro, conhecido captador de recursos para as campanhas do tucano. Situações como essa são relativamente comuns. A cúpula do MP tenta, sempre que possível, levar na rédea curta as apurações com potencial de gerar danos ao ex-governador. (...)



Ao longo de seus governos em São Paulo, Alckmin manteve com as gigantes da empreita uma relação parecida com a que elas mantinham com o governo federal — e que originou, na esfera nacional, a descoberta pela Lava Jato de um bilionário esquema de corrupção. Todas as grandes empreiteiras (...) firmaram negócios bilionários com o governo paulista ao longo dos anos em que o tucano esteve no poder. E de alguns desses negócios, conforme surgiu em depoimentos prestados como parte de acordos de delação premiada, saíram pagamentos a gente ligada a ele. Incluindo o cunhado apontado como arrecadador de suas campanhas. Ele é acusado de ter obtido 10,3 milhões de reais da Odebrecht durante as campanhas de 2010 e 2014. (...)



A despeito dos ataques e do baixo desempenho experimentado até aqui entre os eleitores, Alckmin ganhou algum fôlego ao fechar um grande arco de alianças, após intrincada negociação com o chamado Centrão, um ajuntamento do que há de mais fisiológico na política brasileira. Ao todo, dez partidos deverão estar ao lado do tucano, o que lhe dará quase metade do tempo total da propaganda eleitoral na televisão. No discurso que fez na convenção que o lançou candidato em 2006, Alckmin atacou ferozmente o esquema do mensalão (...) Passados doze anos, os mensaleiros atacados pelo tucano, como Valdemar Costa Neto e Roberto Jefferson, viraram fiadores de sua própria campanha. Nada mais ilustrativo de como a política brasileira dá voltas e não sai do lugar.

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