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Fernando Haddad, coordenador do programa de governo do PT foi sabatinado por Juca Kfouri, Mônica Bergamo e Laura Carvalho no ’Entre Vistas’, da TVT: ’No Brasil, sempre que o povo pôs a cabeça para fora houve carnificina’
São Paulo – O coordenador do programa de governo do PT, Fernando Haddad, afirma que o partido vai persistir na estratégia da legitimidade e da legalidade que assegura o direito do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ser candidato. "Vamos antecipar uma decisão ilegal? Uma decisão que conflita com a jurisprudência dos tribunais, com o texto da lei? Por que antecipar isso? Tem um caráter pedagógico que está claro nas pesquisas de opinião", rebate, ao ser questionado sobre por que insistir numa candidatura que, na interpretação da jornalista Mônica Bergamo, o Judiciário tende a barrar.
Mônica, ao lado da economista Laura Carvalho, que trabalha no plano de governo do candidato Guilherme Boulos, do Psol, "apertaram" Haddad durante o programa Entre Vistas, da TVT, levado ao ar na noite desta terça-feira (31) e comandado por Juca Kfouri. O ex-ministro da Educação de Lula e Dilma e ex-prefeito de São Paulo foi questionado também por Juca sobre a viabilidade da candidatura de Lula. Em nenhum momento hesitou. "Com sinceridade, não é questão de fé. É questão de se perguntar o porquê de antecipar uma decisão ilegal. Li as mais de 400 páginas da sentença condenatória e não encontrei um parágrafo que justificasse a condenação."
Questionado sobre as decisões desfavoráveis a Lula, em primeira instância pelo juiz Sérgio Moro, e em segunda instância pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), Haddad argumentou: "Quando 122 juristas escrevem um livro sem um centavo de honorário, denunciando o casuísmo da sentença... Poxa vida, são professores de direito das melhores escolas do país. Não se faz um Celso Bandeira de Melo assinar uma coisa dessas. Um Dalmo Dalari, um Fábio Comparato. Estamos falando de gente graúda, de quem tem nome, consagrada", diz.
Ele se refere ao livro Comentários a uma sentença anunciada, que reúne dezenas de juristas que se desdobraram para analisar e desconstruir a sentença proferida por Sérgio Moro que condenou Lula. Baixe o livro clicando aqui. Juca ironizou, ao dizer que se não há provas, "há convicções".
Laura, docente de Economia da Universidade de São Paulo (USP), levantou o problema de que, mesmo com uma candidatura viável, as forças que hoje atacam o PT não deixariam o partido governar e reiterou a tentativa de bloqueio judicializado de uma candidatura. "É disso que se trata. Impedir que o PT ganhe de novo as eleições." Haddad respondeu: "Mais uma razão para querermos saber a razão. O que está por trás disso tudo. Qual o problema com a soberania popular que esse povo tem?"
Mônica Bergamo reforçou o tema. Observou que o PT disputou, ganhou e governou por três vezes "Então, não é que o PT é antissistema e o sistema não vai deixar nunca o PT governar. Depois, ganhando pela quarta vez, ocorreu o que ocorreu e passaram a falar que o sistema não aceita o PT. Quando virou a chave?"
Golpe eterno?
Para Haddad, a esquerda progressista passa por um novo momento no mundo. "O pressuposto da Laura (o impedimento das esquerdas por parte do poder econômico) é de que isso terminou. O meu é que não sei se terminou. É uma pergunta genuína e legítima. Não sabemos exatamente o que está por trás desse movimento todo e até aonde pretendem chegar. Ou seja, a mera suposição de que um candidato anti-establishment ganhe e não tome posse já é algo".
Laura ponderou que a crise política pela qual o Brasil perpassa pode ser parte de um todo. "Existe uma crise democrática global, uma percepção de que a globalização tem gerado desigualdade nos países, de que os ajustes fiscais tem gerado desigualdade. E houve uma radicalização interna nos partidos do centro do capitalismo financeiro mundial, como o Jeremy Corbin no Reino Unido, o Bernie Sanders nos Estados Unidos, por uma percepção de que a centro-esquerda foi capturada pelo interesse dos mais ricos e não tem sido capaz de entregar resultados."
Para Haddad, Bernie Sanders não é produto de um novo partido. "Ele é fruto da revolução do partido Democrata. O Corbin não é revolução de um outro partido, ele é fruto do amadurecimento do trabalhismo inglês. Significa dizer que o PT também pode (amadurecer)."
Segundo ele, o atual programa de governo de Lula reflete esse movimento. "O que estamos propondo nestas eleições é fruto desse processo histórico de amadurecimento. E acho que o PT tem toda essa capacidade de se reciclar à luz do que aconteceu e do que aprendeu. À luz de problemas atávicos que imaginávamos superados e não estavam. Voltaram até com mais força, com mais clareza e transparência."
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